Capítulo 1 - Morte

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Esse sou eu, Hans Vieira Brachmann, cabelos pretos ate os ombros, olhos castanhos claros, pele branca, sentado nessa cadeira nada confortável, mas pelo menos é feita com madeira de boa qualidade. Essa cadeira que irá tirar minha vida daqui alguns minutos. Sou detento, condenado a pena de morte, exatamente, a pena de morte foi aprovada no Brasil ano passado, e entrou em vigor janeiro desse ano, engraçado que só morreu pobre com essa lei, se for pobre e negro então só piora a situação do cidadão. Agora rico faz o que quer e nada acontece. A lei não funciona aqui, se você tiver costa quente ou conhecer algum, nada lhe acontece, do contrario ai sim a lei é aplicada. Não estou tentando me justificar ou qualquer coisa do tipo, querendo me fazer de coitado, ou de inocente, creio ate que estão certos em me colocarem nessa situação em que me encontro. A vida que tive, não foi um mar de rosas, nem infância, nem adolescência. Mãe prostituta, acho que é ate pecado chamar Joana de mãe, é uma drogada e bêbada, Joana Vieira Brachmann era extremamente magra devido ao consumo excessivo de drogas, cabelo loiro tingido, com a raiz sem colorir, Joana nunca me deu carinho, nunca senti que se preocupava comigo, me amar? Me poupe.

Me obrigava a ir trabalhar nos faróis de São Paulo, limpar para-brisa de carros, vender bala, chiclete, pedir esmola, isso começou aos oito anos de idade. Se não chegasse com dinheiro pra ela comprar droga, meu corpo sofria, tenho marcas daquele tempo ate hoje. Não apanhava somente quando não levava dinheiro pra ela, Joana me batia por besteira, quando estava bêbada, quando não ouvia ela, ou simplesmente quando ela sentia vontade. Uma vez quando tinha sete anos, isso mesmo sete anos de idade, vi na TV uma matéria dizendo o mal que o cigarro faz para a saúde, eu sabia o quanto Joana consumia, e sabia que era demais tudo aquilo que ela fumava, joguei fora sem pensar, e também um matinho verde que ela guardava na gaveta, ela fumava aquilo também, eu só estava fazendo o bem pra minha "querida mãe". Quando ela chegou tarde da noite bêbada e foi fumar e não achou o cigarro, depois de muito procurar, aos berros, e eu apavorado, claro que fiquei quieto, e nada falei. Joana desistiu de procurar, foi jogar algo no lixo e viu o cigarro dela todo estragado, amassado, rasgado, ela virou um verdadeiro demônio.

- HANS! QUE CARALHO É ESSE AQUI? SEU DESGRASSADO!

Eu já estava todo encolhido em minha cama, com a coberta me cobrindo ate os olhos, olhos cheios de lagrima, eu chorava baixinho, não podia fazer um ruído, ou ela iria me ouvir. Debaixo daquela coberta, escutando "EU VOU TE ACHAR MISERAVEL, ESTRAGOU TODO MEU MAÇO, VOCE VAI ME DAR OUTRO? ACHO QUE NÃO NE?! HOJE EU TE MATO", e barulhos de portas se abrindo, como se fossem abertas com chutes, vidro sendo quebrado, as pancadas eram muito fortes, com certeza não estava só bêbada, devia estar na nóia também. Imaginem isso tudo na cabeça de uma criança de sete anos. Enfim, ela abre a porta do quarto. Cubro-me por completo, e as porradass começam.

- Isso aqui é pra aprender a não mexer nas minhas coisas, seu inútil!

Aos berros, eram socos, tapas, sem parar, tirou a coberta de mim, minha única defesa, a partir daí os golpes eram mais intensos e dolorosos, nos braços, pernas, estomago, rosto, qualquer parte do corpo era lugar para se bater. Consegui sair da cama e correr pela casa, me escondi atrás o fogão, mas ela conseguiu me achar, me levantou pelos cabelos, eles já eram grandes nesse tempo, ela puxou com gosto e me jogou na pia, foi ai que ela pegou a faca que estava na pia e me atacou, tentei me defender do golpe, e fez um corte que pega toda a palma da minha mão. Sai correndo de casa, e essa foi a primeira vez que dormi na rua. Acho que ela me tratava assim, porque ela tinha que jogar as frustrações dela em alguém. Meu pai a engravidou quando ela tinha quinze anos, e teve Roberto, meu irmão. Meu pai abandonou a família quando nasci, não sei nada sobre ele, a única informação que tenho dele é que era alemão, daí vem meu nome Hans, e sobrenome Brachmann, meu irmão tinha dez e já estava prestes a fugir de casa, do contrário de mim ela amava o Beto e ele não se importava com ela, tanto que fugiu. Só restava eu, o pequeno Hans, com a frustrada e louca da Joana.

Hans BrachmannOnde histórias criam vida. Descubra agora