O Diário de David Ownson

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Olá, diário. Me chamo David Ownson. São 2:12 da manhã, acordei a exatamente 12 minutos com o som de passos no corredor de meu quarto, e é por isso que estou escrevendo nesse caderno escolar velho que chamo, a partir de agora, de Diário. Eu nunca tive um diário antes, então não sei como se escreve exatamente em um, aliás, acho que preciso por a data aqui também. Hoje é dia 12 de maio. Eu estava...

Está bem, eu ia escrever alguma coisa, mas ouvi passos no corredor e fui verificar – não havia nada, já é a quinta vez esse mês que isso acontece. Então, eu sei que isso é meio mórbido, mas estou escrevendo aqui para, se eu morrer, quem quer que leia esse diário saiba o porquê. E estou sob efeito de álcool, não posso negar.  A faculdade está me matando, nunca achei que uma matéria iria me ferrar tanto como cálculo, e não consigo encontrar concentração para estudar nesse dormitório estudantil da faculdade, meus vizinhos fazem festa todo dia – por toda a noite – e quanto mais eu reclamo, mais sou odiado, menos tenho vida social e menos consigo estudar. A faculdade está uma merda. Estou pensando sobre sair desse lugar, arranjar qualquer casa para morar, ou apartamento barato que meus pais possam pagar, talvez eu mesmo arranje algum emprego pois já passou da hora, tenho 19 anos e nunca trabalhei. Sinto vergonha, e não é fácil admitir isso, principalmente para mim mesmo.

Vou continuar contando sobre as acordadas em meio à noite então, já que é por isso que comecei a escrever. A primeira vez foi cinco dias após eu chegar à faculdade. Eu me sentia deslocado – ainda me sinto – e pensei que era apenas uma coincidência acordar às 2 da manhã, ouvindo passos no corredor. Na verdade, não são apenas passos no corredor. Ouço a porta das escadas se abrindo e os passos começam. São lentos, mas fazem um barulho absurdamente maior do que os passos que por aqui se deslocam durante o dia. Eles vêm até minha porta e param em frente a ela. Isso é o que me assusta, eu consigo ver as sombras através do vão entre a porta e o chão, e as sombras permanecem lá. Da primeira vez, abri a porta. Achei que era mais um calouro bêbado que confundiu a própria porta, porém não havia absolutamente ninguém quando a abri. Fechei-a e voltei para a cama. A única fonte de luz do meu quarto era o vão da porta, e olhei de relance para ela antes de voltar a dormir. As sombras continuavam lá.

A segunda vez foi 2 dias depois, e aconteceu a mesma coisa. Abri a porta novamente, não havia ninguém, mas assim que fechei a porta, as sombras estavam lá. Espere, vou fazer uma coisa.

Cinco minutos depois:

A terceira e a quarta vez foram nas semanas seguintes, e agora, a quinta vez. A diferença das demais vezes para hoje – e agora estou com lágrimas nos olhos, meu coração está acelerado e tenho certeza que não vou conseguir dormir porque a apenas 5 metros de mim, com apenas uma porta de madeira fraca nos separando, está alguém – ou algo – apenas parado, não sei o que está fazendo, mas sabe que estou aqui. Acabei de abrir a porta novamente e não havia ninguém, como o de costume, mas quando a fechei, me agachei e olhei através do vão. Havia dois pés parados, pareciam duas botinas, eu vi, caramba! Eu tinha acabado de abrir a porta e não havia nada! Eu preciso sair daqui, mas não posso agora. Então, se eu morrer: Mãe, eu te amo. Pai, eu te amo. Resto da família, amo vocês também. Logan, sinto sua falta, te amo tanto que você não poderia imaginar – já que você é um cachorro. Foi com você que vivi minhas aventuras desde pequeno, você não é um labrador normal, nunca foi, e eu realmente queria você aqui comigo agora, talvez eu não morresse se você estivesse.

13/05

Eu não morri ontem, nem dormi pelo resto da madrugada. Não acordei nessa  madrugada com pés em frente a minha porta, mas em todo caso, avisei a segurança da universidade e eles falaram que iriam ficar de olho - até parece.

Agora são cinco da tarde e estou no ônibus, indo conhecer uma possível futura casa, minha casa. Ontem arranjei um emprego, nada de mais, mas vai ser bom para ajudar a pagar o aluguel. Agora sou vendedor de flores. Pois é, segunda eu começo a rotina dos trabalhadores assalariados  comuns na floricultura perto da universidade, apenas durante a manhã pois tenho aula durante a tarde - inclusive hoje, mas estou faltando (mãe, se eu morrer, me perdoe por isto). O que achei realmente bom sobre o novo emprego foi o fato de minha única colega de trabalho ser incrivelmente simpática e até meio bonita. Ela tem dezenove anos também e tem um namorado babaca (ele ligou para ela no período em que eu estava lá, ficou falando essencialmente sobre sexo, sei disso porque ele parece não saber falar ao telefone, apenas gritar, e a cara dela de tédio e repulsa fora evidente) o que é ótimo para mim. Opa, estou chegando.

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