Capítulo 3

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Ainda permaneci sentado tentando entender o que eu havia dito de errado. A rainha estava longe penteando a crina de um cavalo, me levantei e fui até ela.

-Olá majestade. - Ela me olha e sorri.

-Você está melhor? - Ela para e olha para mim.

-Sim senhora...

-Não minta para mim, me diga o que Aurora fez. - Ela faz uma careta e acabei sorrindo por isso.

-Ela não fez nada, acho que na verdade fui eu que acabei falando a coisa errada. - Seu olhar mudou, ela colocou a escova em cima de um tronco que havia ali perto e pediu para o cocheiro levar o cavalo.

-Qual era o assunto? - Ela coloca sua mão nas minhas costas e aponta para sentarmos.

-Casamento. Ela disse que nunca se casaria. - A rainha olhou preocupada para mim e franziu o cenho. Percebi que o assunto era muito mais sério do que eu imaginava.

-Na verdade ela não era assim... - Ela da um suspiro. -Ela nunca foi de nos desobedecer, ela adorava andar de cavalo, brincava com a prima de corrida e nunca nos respondeu, até o incidente...

-Ela saber da maldição?

-Ela sempre soube da maldição meu jovem, a questão é que ... - Ela parou, olhou para o chão, respirou fundo, me olhou e jogou a notícia de uma vez só. -Ela foi molestada com doze anos.

Eu não sabia o que falar, na verdade não tinha o que falar, estupro é o pior crime que se poderia cometer contra a mulher, por isso ela havia brigado comigo quando eu larguei ela sozinha na frente da delegacia, ela havia visto em mim seu protetor, a pessoa que poderia cuidar dela, por essa razão que ela não acreditava no amor, por essa razão que se afastava de todos e não queria se casar.

-Pegaram a pessoa? - Foi a única coisa que consegui falar depois de minutos em silêncio.

-Sim. Ele foi morto, mas uma coisa eu não entendo...ela sonha todas as noites com o ocorrido, e quando acorda ela sempre fala que ele está atrás dela sendo que ela mesma viu o homem morrer. - Ela me fala olhando em meus olhos e com as duas mãos no joelho como se estivesse apoiando-se nas pernas.

-Vou falar com ela. - Me levantei e a rainha me puxou.

-Ela não gosta desse assunto. - Eu me agachei, dei um sorriso.

-Fique tranquila. - Me levantei e ela sorriu, fui em direção a porta do castelo.

Caminhei por todo o castelo pensando o que eu iria falar quando me encontrasse com ela, esse era o pior assunto que um homem poderia falar com uma mulher. Cheguei em seu quarto e respirei fundo, abri a porta e vi ela deitada dormindo, seu quarto era idêntico ao que eu havia ficado, observei-a por um tempo e percebi que ela havia se encolhido.

-Sai! - Ela fala se levantando em um pulo, ela passa a mão no rosto, se levanta e vai ao banheiro, ouvi o barulho de água, ela deve ter lavado o rosto. -O que faz aqui? - Ela só percebeu minha presença depois de sair do banheiro.

-Eu posso falar com você? - Falei sem jeito e passando a mão na nuca. Ela sentou na cama e passou a mão no cabelo e depois no rosto. Ela sorriu de lado e olhou para mim preocupada.

-Claro! O que houve? - Ela fala cruzando as pernas em cima da cama. Eu me aproximei calculando o que eu iria falar, mas aquele assunto não tinha como ser calculado, eu teria que jogar a pergunta que tanto me atormentava de uma vez só, respirei fundo e me sentei ao seu lado.

-Tinha mais alguém naquela noite? - Falei olhando em seus olhos, ela não expressou nenhuma reação por algum tempo, até que seu olhar se encheu de raiva e medo ao mesmo tempo, percebi que ela havia entendido a pergunta e fiquei em silêncio. -Você pode me contar Aurora. Eu acabo com ele se for...

-Você não conseguiria... - Ela tampa sua boca como se fosse uma fala que não deveria ter sido proferida, seu olhar de assustada me fez puxar ela e envolve-la em meus braços, ela não reagiu e ficou ali, encostada em meu peito, calma e tremendo ao mesmo tempo. -Não conte isso para meus pais... - Ela fala se afastando de mim e olhando em meus olhos. -Eles iriam fazer o inferno do povo se eles descobrirem que a pessoa que morreu na verdade estava tentando me salvar dele.

-E você deixou? - Falei pasmo quando me contou aquilo.

-Ele assumiu... - Ela coloca as mãos no rosto. -O que eu poderia ter feito? - Ela levanta e vai até a cômoda, abre a primeira gaveta, bagunça suas roupas e tira uma caixa de madeira, tinha detalhes em dourado e em cima estava escrito "A Noite", abriu a caixa e tirou vários envelopes amarrados com um cordão vermelho. Ela pegou e deu para mim. -Olha isso!

Peguei e retirei uma das cartas, o envelope já estava amarelo pela razão do tempo, percebi que não havia nada escrito, abri e tirei a folha dobrada dentro, e li o que estava escrito.

"Querido olhos angelicais,

Nossa noite perfeita me faz ficar pensando em como você é linda, seu corpo, cabelo, sua boca..."

-Quem te mandou isso? - Falei sem querer ler o resto, o que realmente era muito e morrendo de raiva, e acho que ela percebeu isso.

-E-Ele... - Ela caiu aos prantos e com as mão no rosto, eu nunca imaginaria aquela garota marrenta chorando ou passando por algo desse tipo. -E essa foi a primeira de anos...

Depois de muito chorar e soluçar ela levantou o rosto, me encarou e foi até a cômoda novamente, arrastou-a e ficou de joelhos atrás da mesma, fiquei tentando ver o que ela aprontava mas não ousei interferir, ela tinha que querer me mostrar, eu não poderia obriga-la, alguns minutos se passam e ela está de volta e havia colocado de volta no lugar o móvel, eu a olhei e ela fixadamente olhava para um envelope branco em suas mãos, ela me olhou, correu até a porta e trancou-a.

-Não quero que conte a ninguém. - Ela me dá o envelope e nesse diferentemente dos outros havia uma palavra escrita em vermelho e desconfiei que era com pena, "Surpresa" era a palavra. -Chegou no dia que fui ao seu mundo te procurar, ainda não li e tenho medo do que esteja escrito. - Ela falou querendo chorar novamente.

-Você quer que eu leia? - Olho espantado para ela e ela faz que sim com a cabeça.

-Cansei de esconder tudo isso... - Ela aponta para os envelopes que ela espalhou na cama. -Me ajuda? - Ela quase sussurra a pergunta e vejo seus olhos se encherem de lágrimas. Observei a carta e resolvi abrir, ela me olhou e começou a arrumar tudo que estava na cama.

"Querido olhos angelicais...

Espero que não tenha se esquecido de mim haha, pois vou lhe fazer uma surpresa, no dia do seu aniversário de dezoito anos vou te ver, estou planejando isso à meses e quero ver como você deve ter crescido desde o nosso último encontro no estábulo. Eu sei que sente minha falta, meu toque...

A cada palavra me dava vontade de rasgar aquele papel e mata-lo, mas eu tinha que saber o que ele iria fazer para poder protege-la, eu só não sabia como ainda.

Tudo em mim te quer como você também deve querer, estarei ansioso pelo nosso encontro. Sei que sua maldição lhe fará dormir por mil anos e essa é uma das razões que quero lhe ver pela última vez. Estou sempre aqui e você sempre soube disso, amo ver quando está com seus pais tomando café da manhã, está com sua prima que eu ainda não tive oportunidade de conhecer e obrigada por ter me poupado da morte. Vou lhe retribuir o agradecimento quando nos encontrarmos novamente.

Seu querido amor do estábulo"

Quando li a carta meu sangue ferveu, amassei ela e joguei no chão coloquei as mãos no rosto e vi que ela me observava. Ela me olhava assustada, eu realmente estava com raiva.

-Melhor você não ler. - Ela se aproxima da bola de papel e se ajoelha.

-Eu já li coisa pior.

Ela pega a carta e abre, seus olhos percorreram as palavras no papel amassado e lágrimas escorriam pelo seu rosto, quando terminou de ler vi em seus olhos raiva, medo, tristeza e pavor. Ela se levantou e começou a rasgar o papel, ela falava palavras que eu não ousaria repetir. Ela ainda estava ofegante, batendo e chutando tudo que ela via pela frente, agarrei seu braço e ela se debateu, abracei-a e ela tentava se afastar até que depois de muito tempo tentando me afastar, ela cedeu e desabou em lágrimas.

Me Apaixonei por Aurora - Repostando por pedidosOnde histórias criam vida. Descubra agora