Capítulo 01

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Marlene segura o rebatedor. Lee, entre um clique e outro, me fotografa. As outras modelos fazem fila ao seu lado, esperando por suas vezes para serem fotografadas.

— Muito bem, Bia! — Lee me elogia com brilho no olhar e um sorriso orgulhoso. Um flash e eu dou uma virada. — Um pouquinho mais para a esquerda. Isso. Focaliza o rosto na câmera. Quero ver seus olhos. Amo seus olhos...

Sorrio, orgulhosa.

Eu também amo meus olhos. Eles são verdes, grandes e meus cílios são enormes, então não há como não os amar. Lee sempre diz que tenho os olhos mais lindos de toda agência Way, mas ele diz isso só para mim, para não causar inveja. Também fala muito bem de meus cabelos, que são naturalmente lisos e castanhos, compridos na altura de minha cintura.

— Perfeita! — ele comenta ao dar o último clique.

Sorrio, mas dessa vez convencida, enquanto ele abaixa a câmera e passa as imagens por ela, sorrindo.

— Poderia passar a tarde toda te fotografando se você deixasse — ele brinca e depois dá uma piscada.

Lee é profissional, trabalha na agência de modelos Way há mais de dez anos; é um dos melhores fotógrafos que eu já conheci na vida, além de ser um querido, fofo, alegre e meu amigo, apesar de ele ter quase o dobro da minha idade: trinta anos. Tenho dezessete. Farei dezoito daqui a dois meses, no final de abril. É, acho que sou meio ruim em matemática. Dezessete jamais seria a metade de trinta. Mas não importa. Penso tanto no número dezoito chegando logo que nada importa.

Por que digo isso? Porque quero logo alcançar a maioridade, fazer o que quero e gosto de fazer sem precisar pedir autorização aos meus pais. Se bem que eles são tão protetores pelo fato de eu ser a caçula de quatro irmãos, que acho que quando eu fizer dezoito anos e até quando eu não morar mais com eles, as coisas continuarão sendo como são.

— Acabou? — pergunto para ele. Ele me responde alguma coisa, mas não ouço porque algo tira minha atenção. Lívia Moraes, minha maior concorrente de toda agência de modelos, para ao meu lado com um sorriso leve nos lábios.

— Lindas fotos, Beatriz — ela afirma, convincente. Sua voz, como sempre, soa doce e sincera, encanto esse que enfeitiça a todas as pessoas, mas não a mim. Dou um sorriso forçado sem mostrar os dentes e saio do seu lado para me juntar a outras modelos que aguardam pelo fim deste processo de seleção, ou seja, casting. No caso, para fazer as fotos de uma matéria e capa da revista Nóia, uma revista teen pouco conhecida, que falará sobre da importância da vida ao ar livre, do esporte e da boa alimentação na juventude. E o cachê é de arregalar os olhos.

Estamos na penúltima etapa do casting, onde restarão apenas três de nós, para que no final uma seja escolhida. Agora, somos cinco concorrendo (Lívia, eu e mais três modelos), na qual a etapa consiste em fotos tiradas com roupas leves e tênis, bola de futebol, bambolês e água de coco, ao ar livre, em uma praça pública de Porto Alegre. Não em um estúdio, no ar-condicionado, infelizmente.

Se estivéssemos em um estúdio, eu certamente teria procurado por algum sofá macio para me deitar e pediria para que uma de minhas amigas me fizesse um carinho e me mimasse, já sabendo que quem sairá na capa da revista será a Lívia, já que ela sempre se destaca e ganha tudo. Infelizmente, tenho as minhas frustrações.

A vida de modelo não é feita somente de glamour e realizações pessoais. Roupas caras, festas, fama e dinheiro são apenas um lado bom da profissão. Como em qualquer lugar, há competição, fofoca e inveja. Sem falar em nosso cotidiano, que inclui uma preocupação constante com nossa aparência, afinal de contas, este é o nosso principal instrumento de trabalho. Além disso, é preciso sobreviver à rotina frenética dos castings.

Meu pequeno vazio - Irmãos Louzada - Livro IV - Beatriz [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora