Capítulo IV: CIDADE DE CARVALHO

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•MIRA•

     Todos seus pensamentos sobre seu pai cessaram ao atravessar a floresta que circundava castelo e conseguir visão da cidade de Tyr. Era incrível, sua imponência seria capaz de parar um exército que se pusesse contra ela, e toda sua grandiosidade fora construída em madeira escura, nas margens do Rio Ægir {NOTA: LÊ-SE AEGIR} agora, totalmente congelado.

     Porém, naquele lugar não havia sinal algum de vida.

     Após iniciar sua descida da floresta à cidade, Mira percebera os pequenos flocos de neve que começavam lentamente a cair. O vento tornava-se mais forte a medida que avançava, uma tempestade estava próxima. Se continuasse assim, teria que dar uma pausa em sua jornada, que mal acabara de começar e abrigar-se por um tempo na cidade adormecida, isso era bom, pois naquele momento ela começava a imaginar onde diabos encontraria magos, se é que eles ainda existiam, sem contar o fato que após sua luta para cair fora do palácio, ela esquecera totalmente de roubar 'emprestada' uma égua, então, por enquanto, repousaria ali.

     Um daqueles sonhos lhe seriam úteis agora, eles bem que poderiam vir em hora apropriada.

    Ela lembrava-se das três vezes em que teve os sonhos em público, agora que relembrava, eles eram relativamente engraçados, mas no momento ela parecera uma louca.

     As duas primeiras vezes foram tranquilas, apenas criados ou cozinheiros a viram naquele estado. Ela não lembrava-se de nada que acontecia durante os devaneios, e o constrangimento após era suportável. O que mais parecia engraçado e o que lhe causara mais consequências fora a vez em que permanecera parada durante minutos em frente a seu meio irmão mais velho, que ficara irado, por alguém ter tido a coragem de ignorar sua palavra, e principalmente por esse ser insolente ter sido bem sua 'adorada' irmãzinha bastarda.

     Após este episódio, Mira passou semanas sem sair de seu quarto, sem mesmo poder treinar, mas era algo suportável, comparados ao frio que começava à incomodá-la durante a descida.
     A graça nessas lembranças e os finos trapos que Mira trajava não eram suficientes para aparar a ventania fria que se iniciara.

    Apressando-se, na medida do possível, ela correu colina abaixo e entrou na cidade. Ao pisar no carvalho negro, ele rangeu aos seus pés, sem senti-los, pelo frio, a garota caminhou até a placa de bar e instalações mais próxima, alegrou-se pelo fato de a instalação ser um dos poucos lugares que emitiam alguma luz na cidade inteira.

     Como se tivesse aberto um forno, o calor da lareira pré acesa lá de dentro encheu seus pulmões. Tentou não reagir ao cheiro forte de álcool que emanava do local e os poucos olhares sonâmbulos que recebeu.

     Um pouco receosa, dirigiu-se ao balcão velho e tocou o sininho de latão que servia para chamar qualquer funcionário, que fosse. O som ecoou na taverna, sendo cortado apenas pelo vento forte de fora.

     Silêncio, o som da tempestade era a única desnecessária exceção.

     Quase dez minutos impacientes se passaram, Mira estava prestes a desistir e procurar um outro lugar que lhe oferecesse cama, por pouco. A garota parou de bater os pés, coisa que só percebera agora, assim, o som de passos foi aumentando cada vez mais altos e ritmados, a porta atrás do balcão abriu-se lentamente, a primeira coisa a ser vista foi a silhueta modelada de alguém alto e suas curvas avantajadas, mas ao se aproximar, a expressão da moça que se revelara era de cansaço completo.
     Ela aparentava ter em torno de quarenta anos, era bonita e poderia ser vista como dez anos mais nova, os únicos detalhes que a denunciavam eram as rugas debaixo dos olhos e os fios brancos que destacavam-se em seu cabelo castanho.

LEOPOLD • Corpos de GeloOnde histórias criam vida. Descubra agora