– Agora que você já sabe o que eu penso sobre hospitais, pode me ligar a
qualquer hora do dia ou da noite.
A voz do avô parecia muito distante – ele soava mais velho do que já era –,
como se estivesse em outro planeta, e não do outro lado da linha.
Era o primeiro dia de Megan no hospital.
– Eu sei – disse, tentando parecer corajosa, querendo que tudo melhorasse
sem precisar ficar internada.
A menina seguiu sua mãe através da porta dupla que dava acesso à ala
onde iria ficar e congelou.
Ala pediátrica?
Alguma coisa devia estar errada.
Mas não estava.
Havia bebês e vestígios deles por todos os lados. Brinquedos sendo batidos.
Alguma coisa chocalhando. Outra apitando. Roncando. Buzinando. Em algum
lugar mais à direita, um bebê chorava.
Logo adiante, uma criança pequena virava à esquerda em um carro de
plástico. A buzina tocou. Um adulto a seguia enquanto conversava seriamente
com uma enfermeira.
O avô ainda estava falando, dizendo para ela não se preocupar, mas Megan
não conseguia responder.
Onde estavam os outros pacientes? As pessoas como ela? As pessoas da
idade dela?
Ela não era bebê nem criança. Tinha quase catorze anos!Por que tinham que colocá-la aqui? Como puderam fazer isso?
Megan tinha que mandar um SMS para Gemma. Assim que desse. Ela,
sim, teria respostas. É para isso que servem os grandes amigos, não é? Para
acalmar o outro, conversar. Embora, no caso de Gemma, um abraço valesse
mais que mil palavras!
O pai de Megan gostava de Gemma. Ela não falava demais. Ao contrário
de outras amigas da filha. As Gêmeas, por exemplo, usavam centenas de
palavras quando uma só bastaria.
Com Gemma, era ☺ ou ☺ e pronto.
Isso.
Mandar um SMS para Gemma. Até ela teria algo a dizer a respeito de
Megan ter sido colocada numa ala pediátrica.
O avô ainda tentava parecer animado.
– Eles não vão me deixar andar sozinho de ônibus, por isso não posso ir te
visitar. Mas se tiver alguma coisa te incomodando, mocinha, diga apenas que
você precisa ligar pra mim. Diga que eu sou o homem mais velho da cidade, e
isso significa que eu sei mais do que eles.
Megan riu porque era isso que ele queria que ela fizesse, mas o avô ainda
não tinha terminado.
– Na verdade, se aí precisarem de uma mão com qualquer coisa, vedantes
de pia, chave inglesa, chave de grifo, qualquer coisa que tiver a ver com
encanamento...
– Deve ter quem faça isso aqui – interrompeu Megan, determinada a não
deixar sua voz estremecer. Não era nada fácil. Ela ouvia bebês chorando. Ouvia
crianças pequenas resmungando. Ocorreu-lhe que, provavelmente, não deveria
estar usando o celular. Podia dar interferência nas coisas. Como nos aviões. Se
alguém notasse, tiraria o aparelho dela. Amenina o apertou mais perto do ouvido.
Nem pensar. Não antes de conseguir falar com Gemma. Ah, vai logo, vovô.
Desliga. Cala a boca.
Mas não. Ele ainda estava tentando dar um jeito de tudo acabar bem,
tentando consertar as coisas, como sempre fazia quando cuidava de sua loja de
ferragens.
O avô podia consertar qualquer coisa.
– Bom, então, você sabe onde eu estou – sua voz parecia ainda mais
distante. – Mas vai dar tudo certo, você vai ver. Certo como dois e dois são quatro.
Até mais, minha ovelhinha.
Dois e dois são quatro. Aham. Tá.
Era horrível. A coisa toda. Ter câncer já era bem ruim – a coisa não vai
embora sozinha –, mas ala pediátrica? Sério?
E o hospital ficava a quilômetros de distância de sua casa. A mãe teria que
dirigir muito. Ela odeia o trânsito da cidade, e nunca tem lugar para estaciona no hospital.A coisa toda ia ser difícil mesmo.
– Bom – disse a mãe –, até que não é mau, né?
Megan torceu o nariz.
– Bom é que não é.
– Claro, é óbvio que estar aqui não pode ser bom, mas já que você está
doente...
– É, eu sei, mas é que... – Megan parou. Mas é que o quê? Exatamente o
quê? Que importava se o lugar estava cheio de bebês e criancinhas? Ela estava
com câncer, e isso precisava ser resolvido.
Mas, mesmo assim, importava.
De alguma maneira importava.
– Não liga pra isso – disse a mãe, tentando manter viva a esperança, viva
como as cores que as cercavam, nas paredes, no teto, para onde quer que
olhassem. Uma situação ruim não dura para sempre, a mãe de Megan
costumava dizer. – Você vai ter um monte de coisas pra contar pro seu pai
quando ele ligar. Ele vai querer saber de tudo – e então a voz dela mudou, o tom
animado foi desaparecendo, como se fosse difícil mantê-lo assim por muito
tempo. Igual aos balões de festa, que sempre murcham no final. – Eu queria...
Megan sabia o que estava por vir. Seu estômago pesou como se ela tivesse
engolido um balde de cimento. Não queria ouvir.
– O papai não precisa estar aqui. Eu tenho você – tentou parecer animada.
– E tenho o vovô. Vai ficar tudo bem.
Amãe de Megan suspirou.
– Sim, você tem a mim e ao vovô – conseguiu dar uma risadinha. – E ele
ameaçou ligar todos os dias. Duas vezes por dia se for preciso. Tenho pena das
enfermeiras. Ele não vai tirar o olho delas, pode anotar. – Ela sacudiu a cabeça. –
Até parece que entende alguma coisa de hospitais. Sobre esse tipo de lugar, quero
dizer.
Um menininho de cabelo cacheado veio engatinhando até elas. Estava
sendo perseguido pelo irmão de cabelo cacheado, que o pegou no colo com
dificuldade. Aí a mãe de cabelo cacheado apareceu, com as bochechas cor-de-
rosa, o cenho completamente franzido.
– Toma cuidado com ele, Dylan, por favor!
O menino riu como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. A mãe deu
um sorriso amarelo.
– Bem-vinda ao hospício – disse, pegando o filho, que soltou um iupiiii de
satisfação. Ela lançou um olhar solidário para Megan. – Não se preocupe,
querida. A gente não vai ficar aqui por muito tempo. De vez em quando as coisas
se acalmam.

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Uma Cancão Para Jack
RomanceMegan aos treze anos descobre que tem câncer ,a garota ao inicio nao aceita sua doenca como qualquer outra pessoa no inicio.... Ela ver tudo como um pesadelo... Ate conhecer Jack... Ou melhor , Jackson Dawes, Da altura das portas, parado em pé com a...