A lua pousa bela como sempre em seu manto negro. O vento sopra o perfume das flores do vizinho, ele vem junto com o passado frio que me persegue. Inevitavelmente, o que parecia um momento de lazer e apreciação, torna-se uma conversa com a nostalgia.
Mais uma poesia surgia, ali, recostado na velha almendeira do meu quintal. Mas a cada palavra, meus olhos cor de terra gotejavam.
"Existe uma poesia em minh'alma
Que ela própria não a pode ver.
Transmito o que de mim exala
Talvez, respingos de seu poder.O que sentir me vem além
Nada mais, a hora é dada."Às vezes, atirava palavras no papel sem saber o que queria, não sei como, elas ganhavam vida e sentido, mas quase sempre, um sentido triste e vazio.
Antes que eu podesse entender o que eu mesmo tinha escrito, um perfume desconhecido surgi no ar; era suave e saudoso, nunca o tinha eu sentido nada igual. Então, mãos frias e macias cobrem meus olhos. Eu as toco, mesmo assim não consegui deduzir quem seria. Mas, ao ouvir aquela voz plácida e afável, meu peito se enxe de alegria. É ela! Retira as mãos devagar e se apresenta em minha frente como aurora. O silêncio ecoa, mas o olhar dela e o meu estão num diálogo prazeroso.
Nada mais parece ter sentido; o tempo para e contempla essa sintonia e eu a contemplo, implorando para o tempo não passar.O silencio é quebrado por sua voz confortante, pergunta-me o que escrevo. — Pensamentos. — Respondi baixando a cabeça e fechando o caderno. — Interessante! — Ela reponde sentando ao meu lado.
— O que mais gosta de fazer além de escrever?
— Eu... — Queria ter uma resposta interessante para dar, mas... — Ler.
— Então você só escreve e ler o dia inteiro, todos os dias? — Ela diz expressando todo seu espanto.
— A noite também, não costumo dormir. — Agora acabei de definir um chato. Ela tenta ignorar minha timidez falando um pouco dela.
— Eu não gosto de escrever, tampouco ler. Gosto de festas, viagens, praia... Onde eu morava ficava a 1kg da praia, então passava a maior parte de meu tempo lá, comecei a amar. Mas, fiquei um bom tempo na casa de meus avós quando minha mãe sumiu; meu pai disse que ela foi embora, fiquei muito triste e achei estranho. Com alguns meses, voltei para casa de meu pai, foi aí que descobri que ele já tinha conhecido outra mulher, ou seja, sua mãe. Ela ia lá toda sexta-feira. Depois de alguns meses, meu pai me da a notícia que iriamos nos mudar. A princípio, odiei a ideia, mas logo percebi que sair daquela casa, me ajudaria a tentar esquecer minha mãe, pois lá, era como se eu ouvisse ela andando pelos corredores, ou chamando para assistir novela... — Ao perceber que a tristeza queria interromper aquele curto instante que deveria ser alegre, venço a timidez e com a voz a titubear, pergunto: — Mas, você está feliz aqui? — Ela para, com delicadeza vem se aproximando e fica tão perto que eu consigo ver seus pensamentos passarem no fundo de seus olhos. Seu perfume, seu olhar, seus belos lábios carnudos e sua mão sobre a minha, entrelaçadas na terra fria, criaram um clima que para mim era novo, mas ela parecia estar mais familiarizada com tudo e, aproveitando a ousadia da lua que fecha os olhos com uma enorme nuvem, ela susurra: — Estou adorando. — Eu acho que eu deveria fazer alguma coisa agora, mas não tive coragem e permaneci parado, saboreando todos os aspectos que se uniam para formar esse clima. Mas ela, ao perceber toda a minha inexperiência, põe a mão em meu rosto e se aproxima ainda mais, bem devagar, mirando os meus lábios. Quando já estava sentindo sua respiração quente e ofegante:
— Rafaelly, entre, agora! Depois conversamos— Diz seu pai, com uma voz rouca e nada simpático. Assim que ela levanta e entra, ele vem até mim, e pronuncia bruscamente as seguintes palavras: — Fique longe de minnha filha, seu garoto estranho. Não o quero ver mais com ela, nem conversando, entendeu? — Eu havia entendido era que minha mãe tinha se juntado com um louco, descontrolado, mas pôr temer todo o ódio que ele passava com os olhos, faço um sinal afirmativo com a cabeça, ele me levanta pela orelha e manda-me entrar e ir direto para o quarto. Corro para o meu quarto, e lá começo minhas reflexões a respeito dos novos acontecimentos.
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Destino Cruel
RomanceCerto dia, deparei-me comigo mesmo. Estava sentado a um canto, só, escrevendo palavras soltas, sem nexo. Perguntei-me a mim mesmo o que estava a escrever. Caleime-me para tentar ouvir a resposta, esperei-a mais um instante, mas não a ouvi. Tentei...