Ceram

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Ajoelhou-se pegando um punhado de neve com as mãos em formato de concha. Aquela sensação macia e gelada o agradou bastante.

Como é bom estar de volta. - Pensou.

Mas logo se lamentou pensando em todo o tempo em que estivera ausente. Fora obrigado a partir.

Dez anos. Dez longos anos.

Durante todo este tempo havia estado refugiado com a família de seu pai em Tronia, o grande país montanhoso ao sul. Uma mistura de sentimentos o fizera retornar a Dalvar agora. Precisava saber a verdade. O que realmente acontecera ao seu amigo Sizuel. Precisava encontrá-lo, se ainda estivesse vivo. Ou ter a certeza de que realmente fora morto naquele dia.

Maldito general.

Imagens passam rapidamente pela sua mente. Lembra-se de Sizuel desaparecendo em meio à nevasca naquele dia infeliz quando tiveram que lutar e fugir as pressas. Um vento gelado sopra tocando seu rosto e agita sua capa de pele de urso. Um desgastado couro e algumas peças de lã por baixo da capa o protegem do frio. Mesmo assim ele estremece. Seu corpo havia se esquecido daquele clima do norte. Nem mesmo o mais rigoroso inverno em Tronia chegava perto daquilo. Levantou-se e continuou a caminhada lentamente em direção a floresta. Levantou o capuz para proteger seu rosto.

Caminhou até a entrada da floresta e olhou para cima, os pinheiros de folhas verdes e grossas estavam com o topo coberto pela neve.

- O topo é sempre branco. Nunca verde. - Sorriu.

Parou e ficou olhando um tempo para as árvores ali.

Naquele dia os pinheiros estavam assim também.

A lembrança surgiu em sua mente e ele voltou dez anos atrás naquele dia em que tudo mudara.

Estava no bosque do Castelo de gelo novamente. Ele e Sizuel, seu companheiro na Ordem Branca, guardavam a princesa de Dalvar, Sissia e o garoto Luthiar, servo do castelo e amigo dela. Estava um dia agradável e quente na medida em que era possível no norte. Naquele dia Nazir brilhava no céu azul e a princesa quis ir a clareira tomar um banho de luz e calor. As crianças estavam sentadas em um pano sobre a grama rindo, conversando e se banqueteando. Embora Dalvar fosse uma terra gelada e quase sempre estivesse coberta de neve, ali na clareira de Olara, a neve não tocava o solo e a grama crescia verde em volta de uma árvore transparente como vidro. Dizem que quando os filhos viviam no mundo, a grama era azul e a arvore emanava o ar mais gelado que se possa sentir.

- O poder dos corações dos Filhos. - Diziam os mais antigos.

- Meu pai me disse que a árvore está morta agora. - Ouviu a princesa falar ao garoto quando chegaram.

Tudo parecia em perfeita paz até que Sizuel percebeu que as amas da garota haviam desaparecido e veio perguntar-lhe se sabia do paradeiro delas.

- Devem ter ido dar uma volta por ai. - Ceram respondeu. - Colher uma fruta, talvez.

- Talvez. - Sizuel balançou a cabeça. - Mas nunca as vi saírem ao mesmo tempo e deixarem a princesa sem companhia.

O guerreiro se afasta para olhar em volta. Ceram o observa. De repente um estrondo assustador faz o bosque tremer. Os pássaros voam grasnando e agitando os galhos das árvores. Sissia e o garoto se levantam. Estão assustados e Sizuel volta correndo em direção a eles.

- Vocês estão bem? - Pergunta.

As crianças balançam a cabeça positivamente.

Ceram também corre em direção a eles.

As Crônicas de JamimOnde histórias criam vida. Descubra agora