Capítulo 19

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               Henrique

Estava sentado na sala de espera do consultório da psicóloga que havia sido recomendada enquanto Lila mexia no celular ao meu lado. Depois de uma longa conversa ela aceitou vir pelo menos uma vez para ver no que daria.

- Lila Marchal. - A moça chamou e me levantei com Lila guardando seu celular em meu bolso.

- Olá, sou a doutora Mary, podem se sentar. - Disse indicando as cadeiras a sua frente e nos sentamos. - Então Lila, nossa primeira consulta será com o acompanhamento do seu pai e nela você pode dizer a ele e a mim o que te incomoda. Por que você acha que esta aqui?

- Porque a minha mãe louca voltou. - Respondeu.

- Por que você acha que sua mãe é louca?

- Porque ela é. Estava presa e agora voltou.

- Isso incomoda você?

- Sim.

- Por quê?

- Porque eu não quero que ela volte.

- Ela esta voltando com o seu pai? - Perguntou.

- Não! Eu não quero que ela volte para a minha vida.

- E é apenas isso que te incomoda?

- Não...

- O que mais? - Perguntou e me remexi na cadeira.

- Às vezes eu gostaria que o meu pai me entendesse mais. Ele acha que eu não tenho necessidade, que ainda tenho sete anos e não passo de uma menina sem noção. Eu gostaria de poder esquecer certas coisas, mas tem coisas que eu guardo pra mim.

- E que coisas seriam essas?

- Como quando ele me abandonou até os sete anos, eu o via apenas uma vez no ano e olhe lá. Ou quando ele terminou com a Miranda e me mandou em uma viagem apenas para ficar longe dele.

- Você tem ressentimento por todas essas coisas?

- Eu não sei, acho que tenho. - Murmurou.

- Você esta passando por uma fase confusa e com todas essas coisas que aconteceram e as que ainda estão acontecendo. Isso tudo te confunde, confunde os seus sentimentos, mas vamos estar acompanhando você agora e cuidando de você. Se sentir que tem algum problema com o seu pai tente conversar com ele. Em relação a sua mãe, vamos trabalhar nisso com o tempo, e quando você se sentir apta a perdoa-la ou esquecê-la você saberá.

Olhei para Lila que encarava o chão e suspirei. Ótimo. O maior problema da minha filha era eu.

            Miranda

Henrique demorou mais ou menos uma hora e meia para chegar com Lila e estava bem calado ao contrário dela que parecia um pouco mais descontraída.

- E ai? Como foi? - Perguntei.

- Bem. Ela conversou um pouco com a psicóloga e esta disposta a ir em outras sessões.

- Que ótimo então! - Sorri.

- Ela disse que um dos seus maiores problemas foi a minha ausência durante os sete primeiros anos da vida dela e depois o fato deu tê-la afastado um pouco quando terminamos mandando-a naquela viagem. Eu achei que seria melhor sabe? Eu estava uma merda de companhia então achei que ela se divertiria lá.

- E com certeza se divertiu. Lila é muito apegada a você e vocês nunca conversaram sobre todas essas fases conturbadas do relacionamento pai e filha de vocês. Mas amor, agora tudo tende a melhorar. Falta pouco para você se livrar do contrato com Laura, Lila ira buscar alternativas para concentrar e tratar suas explosões e cada coisa esta se encaixando em seu lugar.

- Isso é...

- Você precisa se preocupar, mas não tanto. Toda vez que acontece alguma coisa você quase surta, controle isso também querido porque eu não quero ficar viúva antes mesmo de casar na igreja. - Disse dando um beijo casto em seus lábios antes de levantar deixando-o sozinho na sala.

- Senhora, tem visita. Esta te esperando no jardim dos fundos. - Avisou Matilde e assenti seguindo confusa para o jardim.

- Pois não? - Perguntei para a mulher parada no meio do jardim.

Uma senhora aparentando seus sessenta anos estava parada no meio do jardim. Usava roupas simples e tinha seu cabelo grisalho puxado em um coque. Abraçada a sua bolsa ela analisava o grande jardim enquanto parecia ter toda a paciência do mundo.

Me aproximei limpando a garganta para fazer algum barulho e a mesma se virou em minha direção. Não me parecia ninguém familiar, mas ela estava aqui dentro, foi liberada para entrar, mesmo assim isso não me deixava menos apreensiva.

- Eu sou Marta. Mãe da Laura. - Informou.

- Mãe? - Perguntei surpresa.

- Sim, podemos... Conversar? - Perguntou e a analisei com desconfiança.

- Pode falar... - Disse indicando as cadeiras.

- É sobre a minha filha, soube que ela estava aqui e bom, eu imaginei por conta de Henrique e Lila. Ele sempre foi uma fascinação para Laura, mantivemos ela longe por um tempo depois do nascimento de Lila, mas foi inevitável a sua volta.

- Compreendo...

- Dificilmente Laura desiste e ela precisa voltar, precisa continuar o tratamento que estava fazendo para controlar esses seus impulsos e agora que soube que esta casada novamente isso é tremendamente impossível...

- Ainda não vi uma forma de ajuda-la nessa questão senhora, não sei como eu poderia resolver qualquer coisa disso para a você ou com você.

- Ela precisa pensar que conseguiu, se ela achar que conseguiu o Henrique possivelmente desmanchará esse casamento e então ele não poderá interferir.

- De forma alguma. A senhora me desculpe, mas isso esta totalmente e absolutamente fora de cogitação. Henrique não vai se arriscar dessa maneira e nem nenhum de nós. O que é isso? Como pode chegar aqui e me pedir algo assim?!

- Porque eu sou uma mãe... Uma mãe completamente desesperada que sabe que pode perder sua filha de uma vez por todas e a minha única esperança esta aqui. A minha única esperança é que vocês me ajudem a salvar a minha filha antes que ela faça algo ainda pior contra vocês. Por favor, pense bem. Eu posso contar com a sua ajuda nisso? Podemos para-la agora, ou deixa-la aqui para que faça ainda mais coisas ruins.

- Eu não quero isso.

- Nem eu. Mas para conseguirmos parar isso são necessários alguns riscos e é necessário saber se vocês estão dispostos a corrê-los.

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Estamos entrando na reta final... Tan, tan, tan, tan... Espero que gostem do capítulo. Abraços ;)

Decontrol. ( Segunda temporada de Controller. )Onde histórias criam vida. Descubra agora