Capítulo Treze.

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Eu não pensei duas vezes em ligar para Rodrigo.
O celular dele tocou,tocou e ele não atendeu.
Ainda bem,porque o que eu falaria?
Daria uma de louca obsessiva? Psicopata ciumenta?
Mulher insegura?
Naquela noite nem dormi direito. Rolava na cama,pensamentos a mil por hora.
Cheia de ciúme! Raiva fervia no meu sangue,cozinhando minhas inseguranças.
Nem para ele mandar uma mensagem avisando que estava em casa.
Silêncio total.
De manhã a foto custumeira chegou e eu nem visualizei.
Engraçado como o ciúme é amigo da raiva.
Eu fiquei com remoendo a foto o dia inteiro. No trabalho até cortei o dedo.Duas vezes!
O meu lado racional sabia que eu não havia visto nada demais. Rodrigo e Eve são amigos.
Talvez tenham sido algo mais. Talvez não, com certeza tiveram algum lance no passado e certeza que por ela eles teriam algo no presente.
E agora comigo aqui tão longe,quem garante que ele não irá cair na dela outra vez?

Quando cheguei em casa,tomei banho e não conectei o Skype.
Precisava de mais tempo para me acalmar.
De maneira nenhuma poderia falar com o Rodrigo com as emoções daquela maneira.
Deitada na cama,meu celular apitou indicando mensagem.
Mas uma vez não visualizei.
O melhor que eu poderia fazer era cortar esse dramalhão pela raiz.
Terminar essa relação de uma vez. Se era para sofrer que fosse do meu modo.
Antes que eu me apaixonasse mais,antes que eu permitisse que Rodrigo quebrasse meu coração.

De manhã, exclui todas minhas redes sociais.
Excluí minha conta no Skype.
Bloquei o contato do Rodrigo no celular.
Nem cheguei a visualizar as mensagens que ele enviou.
Deletei.
Me joguei no trabalho e nos estudos.
Nos primeiros dias aparecia no visor telefone, um número dos Estados Unidos. Eu sabia que era ele e não atendia.
Mensagens no aplicativo do celular com esse código, eu automaticamente bloqueava.
Uma semana depois disso,quando cheguei em casa minha mãe estava me esperando na sala. Estranhei porque essa hora ela já estava dormindo.

__Oi,mãe! Acordada ainda?

Joguei minha bolsa na mesa e tirei os sapatos na porta de casa.

__Estava te esperando.

Me deu um beijo nos cabelos quando sentei ao lado dela no sofá,mas muito séria.

__Aconteceu alguma coisa? A vovó ta bem?

Me preocupei.

__Sua avó esta ótima. Te acalma que não é nada com ela. E que hoje trabalhei na casa da D. Celina.-ela ficou me olhando nos olhos esperando para avaliar minha reação quando falou na família do Rodrigo. Me mantive calada.-Imagina meu susto quando o Seu Virgílio chegou na cozinha com o celular na mão, me dizendo que o filho mais velho queria falar comigo no telefone.

Mexi nos cabelos prendendo em um coque alto porque me deu um calor de repente,mas continuei calada.

__O rapaz tinha voz de choro,Juliana! Me perguntou desesperado se tinha acontecido alguma coisa com você. Estava preocupado porque não consegue falar com você essa semana inteira.
E quando eu disse que você estava bem,viva ele desabou.Garota o que você tem na cabeça,heim?

Eu tentava manter minha expressão impassível mas estava difícil. Culpa me invadiu.

__Mãe.

__Eu não sei o que aconteceu entre vocês. E nem quero saber,mas não te criei para ser covarde. Seja mulher para resolver seus relacionamentos, Juliana. Liga para esse menino. E se diz que você não quer nada com ele de uma vez. Só o não deixe o menino sofrendo dessa maneira.

Ela se levantou e saiu da sala.
Me deixando com vontade de chorar,com vergonha da minha covardia.
Com saudade daquele moreno.

No comecinho de agosto, minha mãe fez aniversário.
Como sempre na minha família a festa estava organizada. Churrasco completo,mulherada na cozinha preparando os acompanhamentos e as sobremesas.
Familia toda reunida,amigos de trabalho da minha mãe, vizinhos. Nosso quintal como sempre estava lotado.
E para completar meu primo trouxe o grupo de pagode em que ele tocava.
No dia da festa,um sábado eu não tive curso então de manhã, ajudei a mulherada na cozinha e fui direto para o trabalho. Quando voltei o pagode rolava solto e o cheiro de churrasco bem feito me recepcionou no começo da minha rua.
Abri o portão de casa e falei com o pessoal que encontrei logo na frente de casa e entrei direto para o banheiro.
Estava cheirando a comida,então tomei um banho rápido e coloquei um macacão azul marinho de pano mole,confortável para dançar e sequei bem rápido o cabelo.
Quando sai de casa para o quintal quase cai quando bem em frente a mim,estava o Rodrigo.
Será que eu tinha enlouquecido? Ainda nem tinha bebido e já estava alucinando!
Encostado na bancada da churrasqueira,copo de cerveja na mão,calça jeans, camisa branca e os olhos mais negros que já vi na  vida.
Ele ainda não tinha me visto. Estava conversando com o namorado de uma das minhas primas.
Postura tensa,mas receptiva.
Voltei de costas pela cozinha e fui pega pelo braço pela minha mãe.

__Que chave de cama você deu nesse rapaz,Juliana!

Minha mãe falou rindo. Ela estava alegre demais já deve ter bebido algumas cervejinhas.

__Como ele veio parar aqui mãe?

__ Isso minha filha,você vai ter que perguntar para ele. Chegou aqui tem mais ou menos uma hora. Todo envergonhado,ficou vermelho quando percebeu que era meu aniversário. E pediu para te esperar. Agora seja a mulher que eu criei e encare seu destino.

Ela saiu da cozinha e eu fui também.
Direto para ele.
E como só a nossa sintonia é capaz de fazer ele virou na hora que estava caminhando para ele.
Nossos olhares se encontraram e eu esqueci como respirar.
Fui até ele que estava parecendo que ia correr dali,sem falar nada peguei a cerveja da mão dele e dei um gole no copo.

__Hoje é aniversário da minha mãe. A gente vai conversar só que não agora,tá?

Ele balançou a cabeça concordando.
Minhas primas perceberam que eu estava ali e vieram me puxar para a roda de samba. Dei mais um gole na cerveja e entreguei o copo para ele.
Enquanto eu sambava ele me olhava.
Eu tentava racionalizar a situação.
Rodrigo estava aqui na minha casa, tinha vindo de Nova York atrás de mim. E o que eu faria agora?

Enquanto eu dançava olhava para ele e ele estava sempre conversando com alguém. Sendo educado,encantador como sempre. Vira e mexe nossos olhares se encontravam.

No intervalo entre uma música e outra eu ia até ele,bebia do copo dele e aproveitava para tocar nele.
Certeza que ele as vezes fingia não estar vendo eu chegar só para que eu tocasse no braço dele.
Depois que cortamos o bolo,a maioria das pessoas foram embora,o samba deu lugar as músicas mais lentas que minha mãe e minhas tias curtiam. Alcione,Emílio Santiago, Fafá de Belém, Elymar Santos.
Era a minha deixa.
Finalmente tomei coragem e puxei Rodrigo para o meu quarto para conversarmos.
Era hora de encarar o meu destino.

O Tempero do Amor.Onde histórias criam vida. Descubra agora