1. Acorde!

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    Corro, corro o mais rápido que posso. Não sei o que é, ou por que está me perseguindo. É uma sombra, ou algo parecido, tão escuro que apenas os olhos brancos e acesos como uma lanterna me mostram onde está a coisa. No final da floresta, sempre tem um garoto. Não sei seu nome, mas sei que sempre é ele me salva. Com o passar do tempo, ele vai crescendo comigo, desde a minha infância até hoje. Corro em sua direção e me sinto mais aliviada ao ver seu rosto, mesmo não sabendo seu nome ou que ele é.

    Quando chego perto dele, sinto suas mãos agarrando meus ombros e me sacudindo, com o olhar preocupado que, em todo esse tempo, nunca muda. Ele sempre está lá, naquela floresta, no mesmo lugar, como se estivesse sempre ali, me esperando.

-- Paris... Acorde. Paris... ACORDE!

    Acordo gritando, pela segunda vez aquela noite. Estou suada, ofegante e a escuridão está muita para conseguir enxergar alguma coisa. Nunca entendo o por que de meus pesadelos serem em dias específicos. É até estranho, é como menstruação, vem em dias específicos, e você acorda no meio da noite para ir ao banheiro. Passo a mão no rosto e ligo luz, quando escuto alguém abrir a porta e uma voz fina e irritante se dirigir a mim. 
-- Paris? Você...

-- O que eu disse sobre entrar no meu quarto sem permissão? 
-- Ahn, bem, para eu nunca fazer isso. 

-- Então sai. Por quê você é tão estúpida as vezes, Stephanie? 

    Estou sendo cruel com uma criança. Pela sua expressão serena e sonolenta, vejo que ela não liga para minha crueldade. Isso não me surpreende, acho até que ela já está acostumada, mas não é por culpa minha. Eu não consigo evitar.
-- Você está com seus pesadelos de novo? -- ela pergunta, não ligando para minha resposta.

    Faço que sim com a cabeça e sento na cama, respirando fundo e passo as mãos nos cabelos, quando ela começa a se aproximar devagar, com medo da minha reação. Quando os pesadelos começam, todos sabem como fico com raiva de absolutamente tudo. Mas, hoje foi o primeiro de mais três dias de noites mal dormidas, e pelo menos hoje, vou deixar que se aproxime. Abro os braços em sua direção e, como um sinal verde numa avenida movimentada, ela corre até meus braços, me abraçando com suas mãozinhas pequenas, o que me fez relaxar um pouco da tensão que estava sentindo. 

-- Posso te abraçar amanhã de manhã? 

    Sorrio com sua pergunta inocente. Essa garotinha era esperta demais para sua idade, ou já está acostumada com a irmã mais velha bipolar. 

-- Você sabe que não. -- falo, me afastando delicadamente dela.

-- Mamãe disse que você melhoraria quando fizesse 20 anos.

-- Bem, sua mamãe está errada. Sai do meu quarto, pirralha. 

    Como uma garotinha obediente, ela saiu correndo, deixando a porta aberta, o que me fez revirar os olhos. Levanto e vou fechar a porta.

    Sei que me fariam perguntas quando amanhecer, o que é ridículo. Todos aqui, sabem o que acontece. Pesadelos até meu aniversário. Os mesmos pesadelos. Os quais nunca sei o que significam e porque os tenho.  O que me faz ter uma ideia, uma nada inteligente, então estou quebrando minhas próprias regras sobre fazer coisas imaturas. 

Esta noite, sem desculpas, eu vou aquela floresta.

Programa de Proteção Para o Estranho e o SobrenaturalWhere stories live. Discover now