Devaneios

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Agora Isabel estava num estádio de grandes pedras cinzas quadradas que , uma ao lado da outra formavam a arquibancada do estádio, atrás ficava uma montanha e lá embaixo no chão de terra os atletas aguardavam para começar os jogos olimpicos.
As pessoas estavam animadas, todo o "espetáculo" era envolvido por um misto de euforia e adoração aos deuses. Algo que não cabia em palavras, uma vibração positiva, uma reverência aos céus.
Isabel sentia tudo aquilo, sentia os odores, via a emoção e até partilhava dela. Não queria sair dali, era tudo tão harmônico e mesmo entre os atletas o clima não era de rivalidade.
- Não podia imaginar que fosse assim, mesmo tendo lido artigos de grandes historiadores.- comentou ela, inebriada.
- Palavras não traduzem momentos.- disse o anjo.
- Palavras não traduzem momentos- repetiu ela baixinho, para gravar a frase na mente.
E mesmo sem querer, Isabel pensou em seu estado e voltou imediatamente para a sala do hospital onde seu corpo continuava inerte.
- A mitologia explica a maldade através do mito de Pandora.- comentou, tocando o cordão dourado de seu umbigo.- Uma caixa continha toda a maldade e uma mulher a liberou...
O anjo apenas concordou.
- Sou professora de história...ou era.
- Você é. Continua a ter os mesmos conhecimentos adquiridos nesta vida.
- Nesta vida?? Quer dizer que existem outras vidas? Eu não acredito nisso.
- Você não precisa acreditar em nada para que tudo exista.
- Como assim?
- Só sei que nada sei.- disse o anjo olhando-a nos olhos.
- E o fato de saber isso me coloca em vantagem sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa.- completou Isabel, pensativa.
O anjo aproximando-se do corpo, seu corpo ligado a tantos aparelhos e com um tubo saindo da boca, segurou sua mão.
- Eu senti isso.- surpreendeu-se ela.-  Mas não sinto dor.
- As dores pertencem ao corpo material, à carne. Você sentirá apenas as dores que traz em sua alma.
- Tristeza é uma dor?
- Sente-se triste ?- o anjo soltou sua mão.
- Sim. Eu nunca fui a melhor pessoa do mundo, mas também não fui a pior. Então por quê eu? Por quê comigo?
- Não faça isso Isabel.- advertiu o anjo prevendo a intenção da mulher.
Mas ela não lhe deu ouvidos e fechando os olhos voltou ao dia anterior quando corria no parque da cidade.

Usava um agasalho cinza com detalhes amarelos e estava na última das cinco voltas que costuma dar na pista de corrida.
Já avistava as marcas da chegada quando ouviu um estalo, e então uma batida muito forte nas costas e o gosto do sangue invadiu a boca e ela ouviu seu corpo bater no chão. A dor se espalhou pelo corpo e a cada respiração era como se estivesse se afogando.
- Disse para não fazer isso- viu um homem muito bonito aparecer entre as pessoas que se juntavam ao redor dela.
- A meu Deus.- gritou uma mulher.
- Chamem uma ambulância.-falou alguém.
- Está agonizando já...
As frases eram confusas, a dor enorme e aquele homem insistia em chamar seu nome.
- Pense em outro lugar Isabel.
Ela começou a sentir frio.
- Não precisa passar por tudo novamente.- dizia ele.
Ela enxergava tudo turvo, eram vultos e a escuridão começava a envolvê-la.
- Vá a outro lugar. Qualquer lugar.
Ela ouviu apitos. Não entendia de onde eram. Ouviu vozes. Uma movimentação intensa ao seu redor.
- Parada cardiáca.
- Desfribilador.
Isabel olhava com esforço para os vultos que a rodeavam na pista de corrida. Não sabia de onde vinham aquelas vozes. Não entendia o que estava acontecendo.
- Feche os olhos Isabel.- insistiu mais uma vez o homem.- Vá para outro lugar.
Ela fechou os olhos e tudo o que consegui pensar foi na prova que aplicaria naquela manhã sobre o holocausto...
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Mais um capítulo pronto. Sim, no próximo descreverei uma cena do holocausto. Não, não descreverei nada sobre Hitler. Sim, falarei um pouco mais sobre a Isabel. Não ela ainda não acordará do coma. E sim ela está em coma. Kkkkk. Mas isso já notamos né? Bjs até a próxima.


Anam CarasOnde histórias criam vida. Descubra agora