Prólogo
Lavínia
A cada dia que abria meus olhos, eu me lembrava da voz doce de dona Liana:
- A vida é um lindo mar de rosas, Lavínia. Se jogue nele, sem medo.
A minha não é mesmo. Mas eu nunca deixei que a tristeza, infelicidade e angústia me vencessem. Eu lutava diariamente pela alegria e pelo sorriso lindo de minha filha, Carolina.
Nunca foi fácil. Sempre enfrentamos dificuldades, muitas vezes impostas pela vida e outras vindo de quem menos esperávamos: nossos próprios familiares.
Meu pai e minha mãe, juntamente com meu avô paterno, eram donos de uma pequena fazenda em Marilândia, no interior do Espírito Santo.
A terra nos fornecia tudo de que necessitávamos para sobreviver, menos o que papai dizia que seria o guia de nosso futuro. O estudo. Não tinha mais escola para a faixa etária em que meus irmãos se encontravam.
E mesmo relutando e adiando a partida do lugar que tanto amávamos, chegou ao ponto que meu pai foi obrigado a ceder e vender as terras, nos levando para uma cidade maior e com mais recursos.
Izadora e Bento eram meus irmãos mais velhos. Meu pai sempre dizia que eu era a sua surpresa boa, porque não fui planejada. Mas onze anos após o nascimento de Bento, eu estava chegando.
Sempre brinquei que eu tinha dois pais e duas mães. Era vista assim por meus irmãos, por ser tão pequena e delicada. Cuidavam e zelavam de minha segurança mais do que deles próprios.
Amava cada amanhecer na fazenda. Sentia-me leve e sem preocupações. Ao chegar à cidade grande, o medo e a insegurança rapidamente tomaram o lugar deles em meu coração.
A lembrança dos arrepios cobrindo meu corpo de adolescente, no momento em que a porta da frente de nossa nova casa foi aberta, ainda me causavam calafrios.
Agarrei com força o braço forte de meu pai.
- Vamos voltar, pai. Por favor.
Papai me puxou para seu colo e alisou meu longo cabelo loiro.
- Não podemos, pequenina. Seu avô precisa de cuidados médicos e tanto seus irmãos como você, de uma escola.
- Outro lugar, então, pai. Aqui não.
- O que sente, Vivi?
- Não sei, pai. Mas não é bom. É um vazio, sabe? E não quero isso.
Meu pai me deu um sorriso largo, como se com ele conseguisse afastar esse sentimento ruim que me incomodava.
- Ficará tudo bem, pequenina. Meus irmãos cuidarão da fazenda e com a ajuda de meu emprego novo, conseguiremos ter uma vida boa, na cidade. Eu te prometo que aqui, seremos ainda mais felizes.
Fechei os olhos e respirei profundamente o ar carregado da cidade grande. E ao abri-los, só consegui lhe dar um pequeno sorriso. Sempre confiei em meu pai. Mas sentia que essa seria a primeira promessa quebrada em minha vida. E foi.
Um ano após a nossa chegada, meu pai nos dizia adeus. Um acidente de trabalho tirou-lhe a vida. Um homem que sempre foi tão cuidadoso em tudo que fazia. Nós sabíamos que seu serviço era perigoso. Ele trabalhava com a parte elétrica da maior indústria de móveis da cidade.
A única coisa que nos foi dita, enquanto víamos seu corpo ferido do choque e da queda que sofreu ser enterrado, é que ele pediu que desligassem a energia pra ele trabalhar no alto daquele poste, mas que o funcionário esqueceu seu pedido.
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Sempre em meu Coração (DEGUSTAÇÃO)
Chick-LitPLÁGIO É CRIME! OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL E NO AVCTORIS SEMPRE EM MEU CORAÇÃO Carolina Marques, a única filha da empregada, necessitava de pouco para manter um sorriso largo e genuíno nos lábios. Quando pequena, correr entre os pés de c...