Temos que deixá-lo ir!

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Meses se passam e tudo continua igual. Sendo mais específica, quatro meses se passam...

Eu até vou tentar atualizar vocês sobre o que está acontecendo desde a última vez que escrevi, porém não tem muito o que falar. Acho que vocês já sabem de tudo...

• Bryan e eu continuamos fingindo que nada aconteceu entre nós, de que somos e sempre fomos apenas amigos.

• Raphael está cada vez mais amigo meu. Me ajuda em tudo, desde carona até o hospital até cozinhar para Isabelly. Parece que dessa vez ele mudou mesmo.

• Eu e Isa dividimos turnos no hospital para vigiarmos Scoot a toda hora. Eu fico na parte da tarde, e ela na parte da noite.

• Scoot continua na mesma: Sem dar sinal de vida, em coma. Não aguento mais ver ele desse jeito.

Uns dias atrás, no período da tarde, enquanto eu observava Scoot dormindo, o médico me chamou em um canto para me informar do estado em que meu amigo se encontrava. Eu queria que ele melhorasse, queria que o médico dissesse que ele progrediu e que daqui a poucos dias ele estaria acordado, rindo das mesmas piadas idiotas que eu contava... Mas o que ele me contou foi bem pior que isso.

O Dr. Willians me contou o que eu menos queria ouvir naquele momento, o que fez meus olhos lacrimejarem só de pensar na hipótese de não poder ver nunca mais Scoot rindo, ou até mesmo desesperado sem saber o que fazer em relação a Isabelly. O doutor apenas falou: "Então senhora Katherine, sabemos o quanto a senhora é amiga do paciente Scoot, e sabemos que a senhora confia no meu trabalho, porém eu acho que é hora de... acabar com o sofrimento dele".

De primeira eu não entendi, mas logo compreendi o que ele quis dizer com essas simples palavras. Comecei a chorar e não parei mais. Ele acha que é o fim? Ele acha que ele realmente não vai mais acordar? Não pode ser o fim. O Scoot não pode... morrer!

Já se passaram uns 5 dias desde que o doutor me falou isso, e eu não tenho coragem de contar para Isabelly. Imagina como ela iria reagir? Eu sei que a verdade é sempre o melhor a se fazer, mas... eu não quero que ela sofra.

Eu acho que essa é a pior decisão que já tomei na minha vida: Contar a Isa e vê-la sofrer por isso, ou deixar Scoot assim por anos e vê-lo sofrer por isso.

Tenho que tomar uma decisão, só não sei qual. Não posso perder meu melhor amigo, mas não posso deixá-lo sofrer por minha causa.

(...)

Acordo uma semana depois do pequeno recado do Dr. Willians e decido que hoje terei que tomar uma decisão. Todos sabemos que decisão será essa, por isso tentei adiá-la o mais longe que pude, mas infelizmente não posso deixar as coisas como estão.

Tomo meu banho e coloco uma roupa qualquer apenas para falar com Isa sobre isso. Não será uma conversa fácil.

Saio do quarto e a encontro tomando um café da manhã com um pequeno sorriso no rosto, cantando uma de suas músicas preferidas:

-Bom dia Kat, dormiu bem? - ela pergunta passando manteiga no pão.

-Se sua definição de bem é ficar acordada a noite inteira pensando que a vida de uma das pessoas mais importantes para todos a sua volta está em suas mãos, podemos dizer que dormi como um bebê !

-Por que? No que estava pensando?

-Isa, precisamos conversar... - me sento em uma cadeira na frente dela.

-Vish, não gosto dessas palavras.

-O assunto é sério. Preciso da sua ajuda!

-Estou a ouvidos. Pode começar.

-Bom, é sobre o Scoot... E eu não sei nem como começar a contar sobre isso.

-Começa do começo, bem do começo!

-Ok. Há uma semana atrás o médico me informou que mesmo o acidente dele ter sido grave, nesses quatro meses ele já deveria ter melhorado pelo menos um pouco, mas isso não aconteceu. As enfermeiras constataram que ele tem sofrido constantes convulsões enquanto dorme...

-E por que nunca contaram isso para mim?

-Não sei, acho que tinham medo de você reagir mal. Mas - começo a chorar - o doutor acha que se em quatro meses ele não melhorou, e está sofrendo por conta disso, acha melhor...

-Não precisa continuar - ela me interrompe e olha para o chão, pasma.

-Belly, eu não vou fazer nada sem antes falar com você sobre o assunto. É a vida do Scoot que está em jogo.

-Eu não posso o perder por causa de um acidente. - ela diz com os olhos marejados.

-Isa, ninguém quer perder alguém qe gosta muito. Você acha que eu não sofri a noite inteira pensando na possibilidade de nunca mais ver o Scoot sorrindo, brincando...? Lógico que eu sofri, mas eu acho que ele não deve ficar sofrendo em uma cama de hospital por nossa culpa.

-Eu sei mas...

-Isa, pensa bem. O Scoot vai continuar lá, com suas convulsões, e pode nunca mais acordar ou levantar de lá. Você vai deixar ele assim? Não prefere deixá-lo ir para um lugar melhor sem dor nem sofrimento?

-Você não entende, eu... eu...

-Todos sabemos o que você está sentindo. Vai ser difícil para todos mas... As vezes temos que abrir mão das coisas que mais nos alegram. As vezes temos que deixar ir para que vivam felizes... - ela vem em minha direção e me abraça forte.

-Ok Kat, eu concordo com você. Não posso deixar ele sofrer mais do que já está - ela seca as lágrimas.

-Eu tinha falado com todos já, e todos, com muita dor no coração, concordaram - digo derrubando mais algumas lágrimas também.

-Mas e os pais?

-Essa foi a parte que mais me deixou chocada. Eu liguei para os pais dele para avisar que o filho estava no hospital em coma e sabe o que eles disseram? Pra eu me virar, porque eles não queriam saber de prejuízo pra cima deles. E depois desligaram na minha cara.

-Os pais do Scoot são assim mesmo. Não ligam para o filho.

Depois de muito mais choro e lágrimas no chão, resolvemos chamar Bryan e Hailey (que ainda não voltou para casa) para irem ao hospital conosco, avisar o médico. Todos estavam bem tristes, nenhum de nós queria fazer isso. Mas era o melhor que podíamos...

O caminho até lá foi em completo silêncio, acho que recordando os momentos felizes que tivemos ao lado do Scoot. Sou tirada de meus pensamentos quando percebo que tínhamos chegado ao hospital.

Eu e Isa nos abraçamos e vamos andando juntas, com lágrimas nos olhos até a recepção. Bryan pede para que chamem o médico e em menos de cinco minutos ele estava parado na nossa frente.

-Então doutor, todos nós pensamos sobre o que o senhor falou. Não queremos que o Scoot sofra mais do que já sofreu. Não queremos mais essa vida para ele... - começo a chorar novamente - Então decidimos juntos, e com a autorização dos pais e de toda a família, que vamos deixá-lo ir. Vamos deixar que ele vá para um lugar melhor. Sem nenhum sofrimento. - vejo uma lágrima escorrendo do olho de Bryan, mas ele logo seca.

-Sinto muito dizer que essa é uma das melhores decisões que vocês todos já tomaram... Ele vai ficar melhor desse jeito e...

Nesse momento somos surpreendidas por uma das enfermeiras, que entra gritando e completamente sem ar. O que aconteceu para deixá-la assim?

-Dr. Willians, Dr. Willians - ela chega e para ao seu lado.

-O que aconteceu Janette? - ele pergunta.

-O Scoot... Ele acordou!

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