Capítulo 1

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Rubi
Abro os olhos e levanto de súbito, o coração tão acelerado que se não acalmar-me terei um ataque cardíaco. A respiração ofegante e o suor em demasia lembram-me de onde estou e lágrimas pinicam meus olos ao recordar do pior pesadelo que já tivera em toda a minha vida, tudo volta como um horrível flashback e não consigo segurá-las.

As palavras, os insultos, o estupro, nada foi real, as lágrimas rolam por minha face, de desespero e alívio. Enrolo meus braços ao redor do corpo e pela primeira vez noto que estou nua, olho as diversas marcas que mancham minha pele e constato que nem tudo fora um sonho, a tentativa de fuga, a surra, a humilhação... Fisicamente dói em todas as partes possíveis, mas o que realmente machuca é a ferida interna, não marcaram apenas meu corpo, mas minha alma também.

Enterro a cabeça entre meus joelhos e encolho-me, em uma tentativa vã de parecer invisível, o ambiente está escuro e ao contrário do pesadelo, o lugar é limpo e se me encontrasse aqui em outras condições doria certamente agradável, há algumas roupas limpas dispostas, ao lado do que observando agora percebo ser uma cama, um feixe de luz mínimo atravessa o ambiente e caminho lentamente em direção à luz para descobrir do que se trata.

Chegando mais perto consigo ver uma porta branca, meu corpo treme com a possibilidade de abrir a porta e eles estarem lá dentro, mas minha curiosidade fala mais alto. Empurro a porta minimamente e solto a respiração que estava presa em meus pulmões quando noto o banheiro a minha frente.

Adentro o local e a primeira coisa que checo são as fechaduras, se me trancasse aqui, na melhor das hipóteses poderia esperar até que a policia chegue, ou na pior, até morrer de inanição, mas ambas seriam melhores do que ficar a mercê destes homens, mas infelizmente nenhuma das opções será concretizada, já que não há tranca na porta.

Os tons pastéis que envolviam as paredes acalmavam-me e de certo modo fizeram-me esquecer de onde estava, mesmo que por um tempo ínfimo. Abro o box de vidro e giro a torneira do lado esquerdo assim que entro, a água cai por meu corpo fazendo meus machucados arderem e as lágrimas escorrerem misturando-se a água, meus olhos vão para o chão e vejo a água com um tom escuro escorrendo pelo ralo e levando a sujeira que antes cobria meu corpo, produtos de higiene estão dispostos em uma prateleira na parede e agradeço silenciosamente por isso.

Lavo meu corpo por um tempo considerável tentando não pensar no que me espera do lado de fora, enxaguo o cabelo e enrolo-me a toalha pendurada do outro lado do ambiente, abro a porta apenas o suficiente para esticar o braço e alcançar o par de roupas limpas que consiste em um par de roupas íntimas, calça jeans e camiseta.

Escovo o cabelo com os dedos do jeito que consigo e sinto uma pontada em meu ventre, dobro meu corpo para frente e espero que a dor passe.

- Ahh. - Grito quando a pontada fica mais e mais forte.

Do jeito que consigo, ando até a cama ainda encolhida e deito-me em posição fetal. Tento vasculhar em minha mente o que pode estar causando a dor mas simplesmente não consigo raciocinar, tudo o que consigo fazer é pressionar meu abdômen e rezar para que alguém me encontre.

Entre dores e sonolência adormeço novamente, e desta vez sem mais pesadelos, agora apenas o sonho de tudo que vivi com Dominic permeia meus pensamentos. Seu sorrio tão raro e avassalador, o olhar de menino perdido, meu menino perdido, os momentos breves porém mais que perfeitos, a forma como me leva ao paraíso apenas com um toque, pensar que posso nunca mais ter nenhum destes momentos dilacera meu coração, a dor torna-se tão insuportável que passo a mão em meu peito tentando aliviar a angústia que me assola, uma lágrima solitária escorre por minha face mesmo que em sono, e só o que consigo pensar são nos momentos que não tive a oportunidade de viver com o amor da minha vida.

Belo Recomeço - Duologia Sombras do Passado (Livro II) HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora