Chegou em casa a ponto de morrer.
Passou pela mãe, e nem deu boa noite ao pai.
Foi direto para a cama.
Trancou a porta e olhou de um lado para o outro, vendo se não havia ninguém por perto para lhe espionar.
Se abaixou e pegou uma caixinha, escondida no carpete. Pegou a chave que guardava no pescoço pendurada a seu cordão e a abriu.
Retirou de lá seu caderninho. O caderno de poesias.
Respirou fundo e deixou que todas as frustrações do seu dia se manifestassem em palavras.
Na verdade, Beatriz era triste. Apesar de todos os amigos, ela sentia como se aquilo não passasse de uma capa. E que tudo aquilo não era amor, e sim mera adoração.
Depois de muito escrever ela se deitou, e chorou em posição fetal.
Beatriz costumava fazer isso. Era comum. Todas as noites.
E a melhor parte de todas
Era que quando ela estava preste a desabar por completo
A vida lhe dava ao menos um presente sincero.
João Pestana, escondido, jogava o pó na cabeça de Beatriz.
E assim fazia com que tivesse um único momento de sôssego:
O sono.