C A P Í T U L O II

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O cheiro forte que eu sentia não era algo comum, na verdade eu nunca havia sentido. As mãos fortes dos dois homens que me sacudiam enquanto o portão se abria estavam me machucando. O imenso objeto de ferro enferrujado a minha frente, se abriu vagarosamente. Meu olhar tentava encontrar algo que eu conhecia, mas não havia nada. Nada além de uma escuridão. Os passos firmes dos homens me conduziram. Assim que entramos, luzes fortes se acenderam sobre nós. Era tão claro, tão forte. Me assustei e fechei meus olhos.

—O que está acontecendo? Meus olhos estão doendo. –eu disse tentando me esconder.

—Zolla Waldorf. Te esperei por tanto tempo. –de quem era essa voz? Eu estava desesperada.

Tentei abrir os olhos me forçando a olhar na direção da voz masculina. O clarão me impedia de olhar diretamente, mas eu conseguia ver um corpo de um homem forte e alto. Ele não era nada conhecido. Engoli seco ainda tentando entender o que estava acontecendo. Minha cabeça doía e meus braços pulsavam forte pelos apertos dos guardas.

—Soltem-a. –o homem ordenou e eles me deixaram cair no piso frio.

As luzes se abaixaram e eu pude ver tudo. Era um galpão, antigo e enorme. Eu nunca tinha visto um como esse. Meus olhos saltaram até o homem. Ele aparentava ter alguns quarenta anos. Usava um terno. Eu já tinha visto um desse antes. Na aula de história. Era uma roupa bem usada pelas pessoas na terra antiga. Era linda! Eu me levantei e não vi os guardas perto de mim. Eles tinham sumido.

—Seja bem-vinda a central de treinamento. –o quê diabos era isso? Abri minha boca tentando dizer algo, mas ele me interrompeu —No começo pode parecer tudo estranho, mas esperamos você por anos. Só você pode nos salvar.

Eu realmente não estava entendendo nada. O que esse cara estava falando? Era mais um dos meus pesadelos?

—Senhor, eu não estou sendo expulsa de Paldin pela roupa da localidade 3? –eu disse tentando não gaguejar.

—Zolla, esperamos você por anos. Não podemos esperar mais. –ele repetiu aquilo e eu ainda não entendia. O que eles queriam?

Duas mulheres estavam ao meu lado. Uma delas sorriu pra mim, a outra nem sequer me olhou.

—Você precisa estar pronta. Vanessa e April vão te acompanhar. Não se atrase. –assim que ele disse, as fortes luzes se acenderam de novo e uma das mulheres me guiou até outra porta de ferro.

As luzes iam se acendendo conforme íamos andando pelos corredores. Umas das garotas parecia ter a minha idade, ela não parava de sorrir.

—É ela Vanessa! –ela cochichou para a outra como se eu não estivesse ali.

—Cale a boca April. –a mulher continuou caminhando sem ao menos mostrar algum sentimento.

—Olha o cabelo dela, é realmente lindo. Não acredito que estamos com ela. –por que a garota estava tão empolgada?

—Se não calar a boca, peço para te transferir. –a menina calou na hora.

Entramos numa sala grande. Tinha espelhos para todos os lados.

—Vamos te ajudar a se preparar. Suas roupas estão aqui. –a mais velha disse sem me encarar nos olhos enquanto a mais nova parecia animada demais —Vou te vestir.

—Não! –eu gritei enquanto ela se aproximava —Não precisa, eu faço sozinha.

Ela demorou a se recuar, mas voltou para seu lugar. A garota mais nova me olhava incansavelmente, aquilo era estranho.

—Por que você parece tão empolgada? –eu perguntei a encarando.

—Eu te amo! –eu levantei as sobrancelhas surpresa. O quê?

—Desculpa, eu acho que entendi errado. –respondi.

A mulher mais velha deu um pisão no pé da garota e a repreendeu em uma língua que eu não conhecia. Achei aquilo estranho.

—Vamos te esperar do lado de fora, caso precise de ajuda estaremos aqui. –a mulher segurou o braço da menina. 

—Espere, eu quero que ela fique para me ajudar. –eu disse antes mesmo que elas saíssem. A mulher acenou com a cabeça e empurrou a garota pra dentro da sala.

Eu caminhei até a menina assim que a mulher fechou a porta.

—Você não me conhece. Por que disse que me amava? –eu parei de frente a ela.

—Meu nome é April Duster e eu sei quem você é. –ela sorria e aquilo estava me deixando com medo.

—Você sabe? Como?

—Você precisa se trocar. –ela se apressou até as roupas penduradas e me entregou. Era um macacão branco com listras pretas, me lembrava da mulher de séria.

—Me trocar pra quê? Ainda não me disse como me conhece. –ela me entregou o macacão e começou a desabotoar minha roupa.

—Todo mundo te conhece por aqui. –April me dizia enquanto me ajudava a vestir o macacão —Finalmente eu te conheci. Posso pegar no seu cabelo? –aquilo foi estranho. Sacudi minha cabeça concordando e ela sorriu.

A porta se abriu e Vanessa apareceu. Ela não estava com uma cara muito boa quando viu April tocando em meus cabelos. Aquela garota é uma pirada.

—Senhorita Waldorf, estão te esperando. –ela abriu a porta e eu caminhei para fora.

As duas me conduziram para o salão novamente. Assim que o portão se abriu, a luz não refletia nos meus olhos e eu podia observar tudo. Dois guardas seguravam uma pessoa de costas. Quem era? Eu me perguntava enquanto caminhava até eles. O homem que havia me recepcionado estava ao lado da mulher séria, eles me olhavam friamente.

—Está tudo sobre controle, já fizemos os testes. Vai dar tudo certo Leroy. –a mulher séria disse baixo para o homem, mas eu consegui ouvir.

—Tragam o garoto. –o homem que parecia se chamar Leroy disse e os guardas o obedeceram.

Assim que o garoto estava próximo de mim, ele levantou seu rosto. Não! Não podia ser. O que ele estava fazendo aqui?

Manual de sobrevivência em Paldin - Como sobreviver sem águaOnde histórias criam vida. Descubra agora