O barco longo, com a proa entalhada na forma da cabeça de um dragão, subia e descia as ondas espumosas da tempestade que rugia. Dentro da embarcação de quinze metros, havia oito homens. Eles gritavam e riam, contando histórias. Cantavam longas canções melancólicas sobre sua terra natal. E sempre que um raio rasgava o céu com estrondo, todos uivavam enlouquecidamente. Eles eram os bárbaros da cidade sobre o penhasco, Vorte.
O familiar penhasco já podia ser avistado no horizonte. Apenas mais algumas horas de viagem. Mas enquanto os deuses não acalmassem o mar, eles não podiam chegar muito mais perto. O barco era bom, resistente, mas seria estraçalhado pelas rochas caso se aproximassem demais. Então, sem outras opções, riam, cantavam e contavam histórias.
De madrugada, a tempestade finalmente deu trégua. O céu foi clareando aos poucos, revelando constelações. Era noite sem lua, mas no mar era fácil esquecer isso, as estrelas iluminavam tudo. Ao leste, o penhasco aguardava seus filhos. Sentaram-se quatro de cada lado do barco e puseram-se a remar. A cada remada, gritavam HÁ, e conforme se deslocavam pareciam rir para os deuses, agradecendo felizes por terem retornado.
Mas então, viram algo estranho. Um fino filete de fumaça subia do penhasco, no exato lugar onde ficava a cidade. Àquela hora, isso não era normal. Remaram com mais força, abandonando o canto de gratidão. O semblante de cada um deles ficou escuro, tenso e preocupado. O penhasco crescia diante deles, assim como crescia a sombra em seus corações.
O barco finalmente atingiu a areia cinzenta e pedregosa da praia. Eles desembarcaram, um por um. O primeiro a descer foi o mais baixo deles, troncudo e bronzeado, com cabelo longo e encaracolado. Usava uma barbicha crespa e na cintura levava um mangual de aço manchado. O chamavam de Texor e ele era amigo querido de todos, valorizado pelos gracejos dentro e fora de combate. O segundo a descer foi Alec, era pouca coisa mais alto do que Texor. Tinha cabelo castanho, que usava curto. A pele era clara como a da maioria deles. A barba corria curta pelo rosto até se encontrar no queixo, longa e trançada quase um palmo. Tinha uma pança pronunciada, mas seus braços fortes pareciam troncos de árvore. Sua língua era ferina e sempre que possível evitavam irrita-lo para não ouvir as verdades que ele guardava dentro de si.
O terceiro a descer foi Danyllo. Dentre os mais baixos, era o maior. Tinha o corpo forte e lutava com espadas gêmeas. As laterais da cabeça eram raspadas e um tufo negro de cabelo percorria a extensão da cabeça, da fronte até a nuca. Tinha uma barbicha negra e pinturas pelo corpo. Seu olhar era alucinado, ao ponto de alguns o acharem legitimamente insano. Mas os bons amigos sabiam que seu coração estava no lugar certo. Depois dele, desceu Legobert. Um jovem gordo e alto, calvo e com uma majestosa barba ruiva, trançada em padrões complexos até a altura do estômago. Ele carregava um machado enorme, amarrado às costas. Os outros gostavam de consulta-lo, pois tinha o raciocínio rápido.
O quinto a desembarcar era chamado de Gordon. Era tão alto e tão gordo quando Legobert, mas tinha uma cabeleira selvagem e negra, assim como sua barba, cheia e eriçada. Seus olhos eram tristes e seu ar melancólico. Carregava um imenso malho de aço escuro. Os amigos o consideravam fiel e sábio. Desembarcou então o sexto, que era Bin. Não era tão alto, nem tão gordo quanto os outros dois, mas tinha o corpo inchado e deformado. Seu rosto lembrava uma doninha e seu olhar era miserável. Os cabelos e barba eram negros e longos, os pelos macios emoldurando seu rosto redondo. Carregava um cajado, gravado com runas mágicas. Via o mundo de forma diferente e podia falar com os espíritos.
Depois dele, desembarcou Xarly. Era o mais alto de todos eles. Magro, com cotovelos e joelhos salientes. Uma pele gasta de lobo cobria sua cabeça, seus cabelos longos e suas costas, o crânio do animal sentado sobre o seu. Carregava uma lança longa e um escudo redondo, de carvalho. Tinha olhos pequenos e juntos, e no rosto sempre uma expressão de desagrado. Era mal humorado e ansioso, mas era querido por ser honesto. E então finalmente desembarcou o último deles. Seu nome era Caranicolov. Era um jovem forte, de pele escura de sol. Tinha cabelos castanhos e longos e usava um cavanhaque, já que a barba naturalmente evitava o resto de seu rosto. Levava uma espada e um machado presos aos quadris. Ria sempre, muito alto. Era alvo da maioria das brincadeiras e gozações, mas no fundo era um amigo querido por todos, por estar sempre alegre e disposto a ajudar.
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Barbaric
AdventureOito guerreiros voltam para sua cidade natal, somente para encontra-la devastada. Eles partem então numa investigação através de uma terra fantástica para descobrir quem e por que atacou sua vila. Contando apenas com sua proeza marcial e a amizade u...