Assim que sai do quarto ao lado de Flavia, o Doutor nos conduziu até a saída, assenei para a enfermeira que o ajudou a cuidar de mim. O corredor parecia infinito, o mármore branco no chão, as paredes extremamente brancas, o cheiro de remédios e produtos de limpeza estavam me deixando enjoado.
A realidade Brasileira era inevitável, até em um hospital como aquele, várias pessoas ainda morrendo e sofrendo nos corredores. Uma senhora chorava de dor ao ver seu filho desmaiado, outra lutava para se pôr de pé sem a ajuda de lunetas.
Passando por aquela ala do hospital as pessoas sumiram, e as enormes portas da entrada estavam a nossa espera no fim do corredor. O Doutor abriu a porta para que pudéssemos passar, ele me cumprimentou e disse que me desejava toda sorte do mundo, apertou a mão de Flavia e entrou sumindo lá dentro.
- Certo, o Idiota do Mendes vai vir nos buscar e eu realmente preciso que você mantenha toda a calma do mundo - ela disse me encarando com seriedade.
- Ok - reparei em um carro preto e encostado nele estava o delegado, vestido de palito e gravata preta, parecia que tinha acabado de vir de um velório, sorri com a imagem. Flavia o viu, soltou um suspiro e disse que íamos primeiro na minha casa buscar algumas coisas minhas. Ela começou a caminhar na direção do carro e eu a segui.
Senti o desejo súbito de sair correndo dali e começar a me virar por conta própria, logo seria de maior e sou bem inteligente, capaz de tudo.
Afastei o pensamento quando entrei o carro, Mendes na frente junto com outro policial e Flavia comigo no banco de trás. Seguimos pelas ruas da cidade enquanto algumas músicas tocavam no rádio do carro. Funks, Pagodes nada que na minha opinião preste.
O som estava começando a incomodar a mim e a Flavia, que agia como se estivesse sentindo repulsa do som.
- Será que algum dos senhores pode desligar esse som? - Mendes sem expressão continuou a dirigir, depois de um tempo colocou a mão no volume do som e aumentou drasticamente.
Arrombado. Esse cara só quer infernizar a minha vida.
Olhei para Flavia que parecia agradecida pela tentativa, ela pegou minha mão meio que para ter certeza que eu estava ali e não faria nada.
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Depois de um tempo chegamos na minha casa, estava tudo fechado, desci do carro e Flavia veio comigo. Peguei as chaves que haviam me entregado e abri o portão da frente, ouvi o carro sendo desligado e alguns passos atrás de mim. Entrei e abri a porta da entrada, Flavia vinha logo atrás de mim, o tempo todo me observando, o tempo todo vendo a minha reação ao estar no lar. Mas eu não havia expressão, em momento nenhum me senti culpado ou mau por estar em casa, apenas me senti normal.
Subi as escadas atrás de meu quarto e vi que estava tudo revirado como se estivessem atrás de drogas ou dinheiro.
- Eles estavam aqui e fizeram isso, atrás de provas contra você - Flavia disse, confirmei apanhando uma foto antiga.
Eu e minha mãe juntos, a lembrança surgiu em minha mente, a única pessoa que eu havia amado na vida, com os braços ao de redor do meu antigo eu, guardei a foto no bolso da calça.
- Como está se sentindo? - Ela finalmente perguntou.
- Como assim? - Resmunguei, correndo atrás de uma bolsa e de roupas limpas dentro do guarda roupa revirado.
- O que você está sentindo aqui, na sua casa - terminei de por alguma camisas e calças dentro da bolsa e me virei para encará-la, ela parecia mais abalado do que eu.
- Não estou sentindo nada, estou normal - ela caminhou em minha direção e me deu um abraço.
A porta se abriu, e o outro policial surgiu na porta.
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Asylum - Estranhos e Diferentes
Mystery / ThrillerThiago é um jovem que se dá bem na escola, conhece todo mundo e tenta se passar por uma boa pessoa. Mas seus problemas mentais e medos do passado o atormentam, com a morte recente do seu pai ele se torna um órfão e acaba fazendo uma sequência de coi...