A Cor Das Lágrimas

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  Magnus era para mim, de uma só vez minha força e meu ponto fraco. Ele me apoiava em tudo que eu pensava em fazer, incentivava meus sonhos, era tudo que eu tinha sem pensar duas vezes. Eu era muito grato a ele por tudo.
Estar deitado na sua cama o admirando enquanto dorme me parecia o mais doce dos sonhos, o tamanho da minha felicidade era incalculável, mas parte de mim ainda sentia toda a dor e raiva da noite anterior.
O que mais me dói é que meu pai sempre foi um grande exemplo para mim. O homem forte que sempre cuidou de família se tornou o homem tolo que briga com o filho por que ele ama uma pessoa, eu nunca vou entender como isso aconteceu e muito menos vou entender o que se passa na cabeça do meu pai.
Saber que precisaria voltar para casa me desanimou um pouco então eu só fiquei parado apreciando cada segundo que eu ainda tinha ao lado de Magnus naquele dia. Enquanto dormia o seu rosto me passava o mais puro sentimento de paz, tão precioso para mim, queria poder guardá-lo em lugar seguro e protegê-lo de todas as coisas que pudessem mudar aquele rosto feliz para um rosto triste.
Algum tempo depois Magnus abriu os olhos e um pequeno sorriso se desenhou em seu rosto.
- Bom dia meu amor. - aquelas poucas palavras poderiam mudar todo o meu dia, depois delas o mundo poderia sucumbir sobre mim, eu iria cair com um sorriso no rosto.
- Bom dia, Bela Adormecida.
- Vejo que já esta melhor, a ponto de fazer piadas. - ele me deu um doce beijo e pousou as mãos em meu rosto - Fico feliz que esteja bem.
- Obrigado por me trazer aqui, acho que eu teria ficado louco de voltasse para casa ontem.
- Meu dever lhe proteger, senhor. - brincou e soltou uma gargalhada que me faz sentir nas nuvens. - Eu sempre vou estar aqui por você, sempre. – lhe retribui o sorriso, só Magnus para me fazer sorrir depois do último dia.
- Eu vou fazer algo pra comer. - alguns minutos depois eu voltei com torradas, geléia e um café forte. - Hoje meu dia vai ser pesado. Preciso encarar o meu pai, preciso que ele veja que não pode mudar quem sou.
- Você tem certeza que quer fazer isso?
- Eu realmente não quero, mas eu preciso fazer. Eu não posso viver minha vida tecida pelo que os outros querem e esperam que eu seja.
- Estou orgulhoso de você. - Disse Magnus com um sorriso e um semblante de felicidade no rosto.
- Obrigado por estar comigo.
//~~
Eu estava voltando para o lugar que antes fora o melhor lugar do mundo, mas que hoje era o lugar que eu mais temia entrar. Eu costumava sentir paz em casa, hoje eu sinto como se a qualquer momento uma bomba pudesse desabar sobre mim, algumas vezes isso acontece. Eu nunca vou esquecer aquelas palavras cuspidas em mim pelo meu pai sobre Magnus.
Enquanto voltava para a casa dos meus pais automaticamente eu tomei o caminho de casa da minha irmã, precisava do seu sorriso e do seu abraço para me fortalecer. Izzy era como um anjo para mim: sempre me ajudou e me deu apoio, me faz conhecer o Magnus, e ainda permaneceu do meu lado quando a nossa relação com os nossos pais mudou completamente.
Eu realmente não entendo como os meus pais não sabiam sobre a minha sexualidade, Izzy sempre suspeitou mesmo que eu não falasse sobre isso com ela. Talvez eu escondesse muito bem, talvez eles não quisessem ver. Quando conversei a primeira vez com a Izzy sobre esse assunto eu me senti feliz por ela me aceitar, e criei uma pequena esperança de que eles aceitassem também. Passei muito tempo pensando em como falar com eles, fazendo textos na minha cabeça sobre o que dizer, mas a verdade é que eu nunca tive coragem até o dia em que conheço Magnus. Ele me faz unir todas as forças que existiam e que não existiam em mim para falar com os meus pais. Bem no fundo eu ainda tinha a esperança infantil de que eles me apoiariam, mas parte de mim dizia que eu iria quebrar a cara, essa última parte estava muito certa.
Bati na porta da casa da Izzy e logo ela veio abrir, ver aqueles longos cabelos pretos e aqueles olhos azuis exatamente iguais aos meus era uma sensação quase tão reconfortante quanto olhar nos olhos de Magnus. Izzy era a única parte da minha família que me servia realmente como uma família.
- Oi irmão, eu senti tanto a sua falta. - falou vindo em minha direção para me dar um abraço, Izzy estava viajando. Admiro muito o espírito e liberdade de minha irmã.
- Izzy, você não sabe o quanto eu fico feliz em ouvir sua voz. - eu tive que me segurar para não desabar ali no corredor do prédio. - Eu tenho tanto para te contar. Coisas horríveis aconteceram.
- Entra, vamos tomar alguma coisa e você me conta tudo isso.
Alguns minutos depois com duas canecas de chá bem quente nos sentamos na sala da minha irmã. Enquanto eu contava com detalhes todas as coisas que nosso pai falou sobre mim, sobre a decepção que eu era para a família inteira, sobre como eu havia jogado todos os esforços dele por mim no lixo, sobre como Magnus me destruía a sobre como ele seria um peso para mim. Lembrar daquilo, lembrar das palavras sendo colocadas para fora da boca dele e entrando em mim como balas de uma arma de fogo, eu tentava com todas as minhas forças não chorar.
- Eu nunca imaginaria que ele chegaria a esse ponto, eu sinto muito por não ter estado aqui naquele momento.
- Você teria sofrido junto comigo, você não pode sempre estar aqui. Isso tem que acabar, Izzy. Ele só vai perceber que todas essas coisas, todas elas por menor e insignificante que seja, me machucam e me afastam dele cada vez mais quando eu realmente sair daquela casa e parar de seguir suas ordens. Aliás, eu ainda não sei por que não fiz isso.
- Você no fundo acredita que ele pode mudar não é? - minha irmã me olhou com um semblante triste no rosto. Ele estava certa, esperava uma mudança vinda dele.
- Sabe, eu não quero que ele mude da água para o vinho, eu só queria que ele não me humilhasse todas as vezes que sabe que eu estivesse com Magnus. - sempre que eu estava com ele, ou que o encontraria, ou qualquer coisa que tivesse eu e Magnus no mesmo local e meu pai ficasse sabendo disso ele surtava. - Eu não aguento mais isso, Izzy. - Eu não aguentei mais o peso de tudo isso, senti as lágrimas escorrendo pelo meu rosto e em seguida senti os braços da minha irmã me confortando.
- Eu sei e vejo de perto o quanto tudo isso tem sido difícil para você. Eu só posso te dizer uma única coisa Alec. Siga seu coração, ele sempre vai estar certo. Mesmo que seja uma decisão dolorosa, tudo que vem de ruim nas nossas vidas só vem para que depois as coisas possam melhorar.
Sai da casa da minha irmã me sentindo mais leve, dei um último aceno com a mão quando a vi me olhando na rua pela janela e fui para a casa dos meus pais, o que eu mais queria era que pudesse ter esse dia de paz para pensar no que eu realmente quero fazer, e em como fazer isso.  

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