Our Colors

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Alec saiu da minha casa assim que acabamos de comer. Ele sorria e conversava, mas eu ainda conseguia ver a sombra dos soluços da noite anterior. Me doia tanto vê-lo passar por aquilo e problemas como esse se tornavam cada vez mais frequentes, em pensar que a nossa esperança, no começo, seria que isso diminuísse.
Alec foi criado para ser o sucessor de uma família de empresários inabaláveis, ser a cópia exata de seu pai, mas não foi bem isso isso que aconteceu. Quando nos conhecemos e passamos a sair e passar mais tempo juntos ele me contou algumas coisas de sua vida, como quando decidiu falar que queria fazer artes e não direito, seu pai bateu nele e o obrigou a ficar no quarto por uma semana para "pensar nas suas atitudes".
Sempre que me lembrava dessas conversas eu tinha de volta o sentimento de que ele falava sempre, cada palavra, com medo de que eu corresse desses problemas, entretanto essas histórias tiveram exatamente o efeito contrário. Elas me atraíram ainda mais a Alec, me fez querer ficar e cuidar dele para que aquelas coisas nunca mais acontecessem. E ali estavamos, Alec sofrendo cada vez mais por estar comigo e por me amar.
Eu me sentia inútil diante de toda aquela situação, de mãos atadas porque eu era a causa daquilo. E isso doia, fazê-lo sentir dor era o pior para mim.
Fiquei tão mergulhado em meus pensamentos que quando me dei conta já era fim de tarde e hora de voltar ao trabalho. Aquela de todas as noites difíceis seria a mais dura de aguentar.
~//~
Toda a música alta e corpos balançando na boate não abafaram o grito dos meus pensamentos. Eu continuava a pensar sobre todas as coisas que haviamos passados naqueles dois anos, em todas as vezes que Alec fora agredido por minha causa, por me amar. Eu queria tanto mudar tudo aquilo. Eu o amava mais que tudo que já amei nessa vida. Ele era minha cor, aquela que eu via quando abria os olhos todos os dias, era o ar que eu respirava, a força que eu tinha para andar e fazer todas as demais coisas.
O seu cheiro, seu abraço, o jeito como ele olhava pro nada quando estava pensativo, o ritmo de sua respiração, de seu coração, a forma que ele olhava para algo que queria desenhar guardando todos os seus detalhes, a forma que segurava suas canetas e pinceis, o calor que tinha sua mão na minha, todas essas coisas estavam na minha memória, gravadas como se fossem a base de toda a minha vida.
Depois de dois anos inteiros eu já não sabia como viver sem Alec. Eu não suportaria acordar sem suas mensagens de bom dia ou dormir sem ouvir sua voz ao telefone, ou acordar no meio da noite o não ouvir o som de seu sono pelo telefone. Eu já não sabia como existir sem Alec, sem ele eu simplesmente não funcionava. Mas mesmo ele sendo de uma vez só tudo que eu tinha e mesmo eu não suportando ter uma vida sem ele eu abriria mão de tudo isso, tudo, para que ele pudesse viver em paz.
Eu sabia que nunca encontraria alguém como ele, e nem queria para ser sincero, mas eu aceitava ter uma vida sem cores para que as cores da tristeza e da dor não o rodeassem.
Era estranha essa nossa relação com as cores, descreviamos tudo em cores, todos os sentimentos e emoções. Alec diz que ele se comunica melhor com as cores e que as entende mais que entende as pessoas e depois de um tempo eu passei a sentir o mesmo. Ele dizia que eu era o azul da tranquilidade, que o fazia se sentir bem não importa pelo que ele estivesse passando. Para mim ele era o vermelho, era a cor itensa que trazia graça a minha vida preta e branca.
Minha mente e a de Alec trabalhavam em conjunto, eramos parecidos e chegava até a ser engraçada a forma como sempre pensavamos nas mesmas coisas. Isabelle dizia que nascemos um para o outro e que isso seria até o fim.
Assim que esse pensamento passou pela minha cabeça eu consegui ver pelo canto do olho o cabelo preto deslumbrante de Izzy e fiquei feliz de ver alguém com quem eu não precisasse mentir sobre o que eu estava sentindo. Ela passou pela porta do balcão do bar e veio me abraçar. Aquele abraço me esquentou por dentro e me fez sentir um pouco melhor.
- Eu sinto muito. - Ouvi ela sussurar no meu ouvido. - Eu sinto muito não poder mudar isso.
- Você já fez mais que poderia, Izzy, você saiu do conforto da casa dos seus pais para nos defender.
- De que adianta todo aquele conforto se não era eu mesma lá. Meu irmão vai se libertar daquele lugar, eu sei disso.
- Você sabe que isso ainda está longe de acontecer, Izzy. Não me dê esperanças tolas. - Eu falei num tom triste.
- Talvez não tão longe assim. - Comentou ela com um sorriso no canto dos lábios tingidos de vermelho.
- O que você quer dizer com isso?
- Eu e meu irmão conversamos muito hoje a tarde.
- Não sabia que ele tinha ido te ver. - Não nos falamos o dia todo.
- Ele falou muito sobre esses dois anos, eu sinto que ele não aguenta mais as porcarias que aquele velho fala a ele.
Eu permaneci em silêncio, eu não sabia se seria bom ou não.
- Ele está disposto a enfretá-los por você Magnus. E eu sinto que ele vai fazer isso hoje.
As lágrimas começaram a cair no meu rosto.
- Eu não posso deixar que ele faça isso, o seu pai.. Ele pode fazer algo com ele.. Eu.. Preciso...- Não terminei de falar, as palavras já não saiam da minha boca. Eu estava abrindo a porta de saída do bar quando senti a mão de Izzy me puxar.
- Não Magnus, eu sei que você quer cuidar dele e eu te agradeço muito por isso. Mas ele precisa passar por isso. Vai doer por muito tempo tudo que meu pai faça com ele. Mas ele vai se libertar e toda a dor vai passar.
Eu me sentei no pé do armário de bebidas, o pânico de nunca mais ver Alec ou de qualquer coisa que seu pai pudesse fazer a ele me invadiu e eu senti os soluços e o peso das lágrimas. Izzy me tomou nos seus braços e tentou me consolar, mas eu só ficaria bem quando ouvisse a voz do seu irmão.

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⏰ Última atualização: Jul 30, 2016 ⏰

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