Capítulo 3

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- E você? Como está?- pergunto, tentando ao máximo ser amigável.

- Bem. E você? Faz tanto tempo.- diz com a voz longe, com certeza se lembrando daquele dia.

Do dia em que eu me joguei em seus braços implorando para que ele não me deixasse. Do dia em que eu senti o meu mundo desmoronar ao meu redor e eu simplesmente não podia fazer nada, a não ser respeitar.

- Bom, vamos nos sentar?- Agatha pergunta, nos tirando daquele clima contrangedor.

- O que gostariam de pedir?- a garçonete nos interrompe.

Cada um decide o seu pedido e ela se retira. Agatha inicia um assunto em grupo e então engatamos na conversa.  Perdemos a noção do tempo. Foram risadas, brincadeiras e muita conversa jogada fora.

Durante a conversa sobre qual é o filme favorito da Agatha, o telefone do Miguel toca. Disfarçadamente olho o nome e está escrito:

Anjinho

Tento não criar minhocas na cabeça, mas é quase impossível. Quem coloca o nome de alguma amiga que seja de "anjinho"?

Eu que sou uma burra mesmo por acreditar que tudo voltaria a ser o que sempre foi. É claro que não seria. Isso foi há o quê? Anos, muitos anos.

Obviamente ele não seria o meu garoto e não estaria mais ali por mim. Eu devia saber isso e não ficar me martirizando por anos, afastando-me de muitas pessoas interessantes.

- Eu sinto muito, mas eu preciso ir.- anuncio, querendo sair daqui o mais rápido possível.

- Mas já? Fica mais, amiga.- Agatha diz inconformada.

Ela deve ter pensado que eu voltaria com o Miguel, ou que eu gostaria de ficar mais.

Mas ele não é o meu Guel e eu não posso me iludir mais ainda. Quanto mais cedo eu superar, melhor será.

- Sim amiga. Eu tenho que finalizar o manuscrito dessa semana. Eu fiquei meio distraída, por isso não consegui. E como eu não quero acumular trabalho, vou fazer o dessa semana e já adiantar o da próxima.

- Nossa, o Miguel também não estava bem nessa semana. Que coincidência!- exclama o Marcos.

- Não é coincidência, eu acho.- Miguel diz.- Nós estaríamos completando dez anos juntos nessa semana que se passou. Claro, se eu não tivesse ido embora daqui.

Meu coração congela. Ele se lembrou! Ele sofreu como eu sofri. Pelo menos se ele tem alguém, essa pessoa sabe que eu ainda tenho um espaço no coração dele, mesmo que seja apenas uma lembrança.

Todos ficam em silêncio após o que o Guel disse. Eu também estou um pouco sem graça, por isso dou um jeito de sair logo dali.

Pago a minha parcela na conta e vou para casa. Tudo o que eu preciso agora é estar sozinha, apenas eu e os meus pensamentos. São tantas informações para serem processadas.

Continua
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