Nunca se considerara grande coisa pois nunca tinha levado nada até ao fim. Aos cinco anos, entrara na música, para aos 7 começar a aprender piano. Tinha umas mãos perfeitas para tal, dedos longos e finos, elegantes, que percorriam as teclas do piano a uma velocidade estonteante. Por já começar a ser uma rotina, aos 11 anos, pediu aos pais para desistir e começar bateria e ténis.Também nunca tinha tido grande coordenação motora, talvez por ser mais alta do que o normal, talvez porque enquanto as pernas ainda não tinham crescido, os braços já balançavam com demasiado comprimento ao lado do seu tronco. Não que isso alguma vez a tivesse impedido de bater com toda a força nos tambores e pratos da bateria, pois isso fazia a raiva dissipar-se.
Já com o ténis, a história era diferente. O foco era, constantemente, ganhar! Não havia mais nada em campo, era ela, a bola, a raquete e um adversário, que teria de ser esmagado a bem ou mal. A maior parte das vezes, perdia a cabeça quando começava a sofrer pontos e perdia o controlo do jogo. Isso trazia frustração, raiva e uma desmotivação que a levou a desistir também do ténis.
Por fim, tentou a equitação, no qual podemos afirmar que se saiu muito bem. Nem precisou de um ano para começar a saltar alto. Tinha coragem, vontade de fazer melhor que os outros, quebrar recordes, mesmo tendo começado tarde. Iria ferir o seu orgulho se alguma vez se deixasse ser batida por cavaleiros mais experientes. Infelizmente, mesmo tendo tanta vontade de bater recordes, a rotina instalou-se e, mais uma vez, desistiu.
Tocava agora guitarra e, por agora, era o seu grande amor. Porque sim, mesmo que não queiramos admitir, a adolescência tem destas coisas: Ou oito, ou oitenta. Ou obcecado, ou desinteressado. Ou branco ou preto. Ou é tudo muito racional, ou é tudo muito emocional. Enfim, extremos que nunca fizeram bem a ninguém, a não ser para ensinar lições de vida.
No meio de tantas desistências, Mariana podia orgulhar-se de nunca ter desistido de um amigo. Tinha perdido alguns pelo caminho, mas não considerara nunca que era culpa sua, pois tinha uma capacidade de lealdade superior à média: Mesmo com o dedo partido, estampara um gancho de direita num colega que tinha irritado uma das suas amigas mais queridas. Levara com culpas para safar outros amigos. Partilhava o seu lanche todos os dias. Mas a única coisa que lhe faltava perceber era porque é que, quer quisesse, quer não, acabava sempre por perder um amigo ou amiga.
O pior nem era quando os perdia, ao contrário da crença popular. A verdade é que não dói assim taaaanto perder uma amizade. O que dói é a saudade que ela deixa. São as lembranças virem todas ao de cima e querermos agarrar coisas que já não existem. As promessas acabam por se tornar vagas e idiotas, ressoando de forma impotente nas mentes de quem as ouviu numa outrora fase sólida e confiante.
Esta história é sobre uma menina que nunca percebeu porque é que alguém no mundo perdia algo tão querido como os amigos. Esta é a história de uma menina que sempre se perguntou "porquê?".
Esta é a história de Mariana, a rapariga que não percebia como tinha perdido o seu melhor amigo.
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O Meu Melhor Amigo
RomanceTalvez não seja uma daquelas histórias que serão contadas daqui a séculos, nem uma que faça qualquer um chorar. Talvez nem seja algo que se pode chamar de história. Mas é a minha. É a dele. É a nossa.