Capítulo 1

17 1 3
                                    


"- Eric! Vamos acordar filho! Você vai se atrasar!" Eu sabia que na verdade, faltava aproximadamente meia hora para realmente ter que se preocupar em levantar da cama, só não entendia porque sua mãe não podia deixá-lo dormir esse tempinho extra. Ainda assim, se levantava todos os dias com ela chamando para tomar café antes da aula.

Samanta era uma mãe preocupada, do tipo super protetora, sabia de tudo e poderia até dizer com precisão a que horas iria começar a chuva! Não sei por que não trabalhava com previsão do tempo, mas enfim, na verdade era muito divertido ver as teorias dela com relação ao mundo, coisas do tipo "olhe a rua antes de sair de casa! Pode ter alguém escondido atrás do muro" ou "veja lá com quem você anda lá na escola, tem um monte de marginal por ai e podem te dar droga em papel de bala! Já pensou se a policia te pega com essa bala no bolso!", é... Realmente minha infância foi muito boa, claro que se você ver um garoto de doze anos dizer por ai que sua vida é perfeita, melhor começar a suspeitar que das duas uma, ou o coitado sofreu uma lavagem cerebral ou chupou umas das balinhas que minha mãe acreditava que eram distribuídas na escola.

Ah, a escola, agora minha história começa a ficar normal, ou pelo menos, isso era o que todo adulto dizia pra mim, normal, fala sério... bom, tirem suas próprias conclusões. Para vocês entenderem melhor minha situação e o que acontecia comigo, preciso dizer que sou baixo, digo, muito baixo! Tipo o menor aluno entre o período matutino e noturno e pra melhorar já uso óculos desde os seis anos de idade e acredite quando digo que ir bem em matemática porque minha mãe ficava quase todo dia querendo ouvir a tabuada "de cor e salteado" não ajudava em absolutamente nada para minha reputação, ou melhor dizendo, boa reputação, porque eu era conhecido por quase todo mundo mas isso definitivamente não era bom pra mim se é que você me entende.

Meus pais realmente fizeram uma combinação fantástica em mim! Baixo, nerd e com óculos! Tudo que qualquer garoto da minha idade quer!

Sempre rodeado de "amigos" era muito comunicativo, por isso, ia pra diretoria sempre, as vezes até me mandavam voltar pra sala ou esperar o intervalo sem punição pois não agüentavam mais ver minha cara por lá, engraçado que ao invés dos professores verem em mim uma criança com habilidades intrínsecas para ser um futuro político, professor ou trabalhar com relações públicas, me viam como um rebelde que não queria prestar atenção na aula e atrapalhar os colegas.

Como já disse, eu tive muitos "amigos" com "os" no final mesmo, quando se tratava de garotas, eu não gosto nem de comentar, para não ficar choramingando aqui, prefiro contar umas das histórias para que vocês tenham noção de como era minha vida afetiva. Certa vez, me apaixonei por uma garota da minha sala, e não adianta dizer que eu era precoce por ter apenas doze anos porque quando se tem essa idade um garoto se apaixona até pela Winnie Cooper da série "Anos Incríveis", ai tive a brilhante idéia de escrever um bilhetinho (que naquela época era super na moda) e colocar no meio do seu fichário, o que eu não contava era que um desses meus grandes "amigos" já suspeitava e foi ver o que eu estava fazendo subindo para classe na hora do intervalo. Mal ele viu a cena toda e saiu correndo para o pátio da escola dando pulos e gritos que eu estava apaixonado pela dita cuja e havia colocado o maldito bilhete em seu fichário, os pulos e gritos se espalharam por toda a escola como uma grande torcida de futebol comemorando o gol da vitória da final do campeonato com direito a muitos tapas na minha cabeça, acho que tudo isso era somente para representar a vontade de me dizer:

"-Cara, como você é idiota, ela nunca iria namorar com um cara como você!" Eu preferiria que me dissessem desse jeito, mas eu não tinha escolha não é?

Chegava em casa na hora certa para almoçar e saia correndo para rua, pois naquela época brincávamos ainda de esconde-esconde, pega-pega e também jogávamos bola na rua com gols feitos de chinelos, tijolos ou qualquer coisa que estivesse por perto. No futebol eu era o ultimo a ser escolhido quando sobrava um lugar para deixar o time certo, as vezes, o time preferia jogar com um a menos e ai eu corria atrás da bola quando alguém dava um chutão bem forte. Lógico que eu não gostava disso, era vida de escravo não é? Mas fazer o que? Era o único jeito de eu me enturmar com as outras crianças e fazer amigos.

Conexão KaOnde histórias criam vida. Descubra agora