Longos Anos

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Frisk acordou com uma leve pressão do ar sob sua cabeça, como se estivesse caindo. Porque, realmente, ela estava caindo.
Com dificuldade para se controlar no ar, abraçou os joelhos e esperou a dor da queda.
Sorriu aliviada quando chegou ao solo; havia se esquecido da cama de flores que amortecia a dor de qualquer pessoa ali caída.
Olhou ao seu redor: Estava novamente no Underground. Seus olhos estavam maravilhados com o simples fato de ser exatamente como se lembrava. Esperava que muitas coisas tivessem mudado, dentre elas, o antigo aspecto bem cuidado, com sua beleza obscura de sempre, como Frisk descrevera o local ao chegar.
   Uma figura, na qual não podia distinguir devido a distância, parou como se acabasse de ver uma assombração.
—F-Frisk...?— Chamou a voz feminina, trêmula. Ao se aproximar, a moça percebeu quem falava: Toriel, sua primeira amiga do Underground. De imediato, Toriel correu para abraçá-la. — Frisk! Que saudades, minha pequena! Como você cresceu!
—Claro! Nove anos já se passaram.— Riu Frisk.— Quais as novidades?
—Bom, minha pequena...— Refletiu a monstrinha antes de se virar para a garota.— São tantas as notícias. Vamos entrando, irei preparar uma torta caramelo-canela para você e então colocaremos todos os assuntos em dia.
—Sabe o quanto adoro sua torta não sabe, Toriel?— Perguntou Frisk, abraçando a mais velha por trás e a acompanhando à sua casa.— Senti tanta falta deste lugar...
—Todos aqui sentiram sua falta, minha pequena.— Disse Toriel, dirigindo-se à cozinha.— Não houve um lugar em que não pudesse ser escutado o nome "Frisk". Você é como uma heroína para todos os monstros. Nos libertou e deu um jeito em Flowey, parabéns!
—Mas então...— Disse Frisk observando Toriel colocar a torta no forno.— Por que ainda estão aqui?
—Ah, minha pequena...— Disse Toriel devagar, olhando para a garota.— O mundo lá em cima não é para nós. Ao chegarmos, o rei Asgore tentou cumprimente alguém, mas as pessoas hoje em dia tem equipamento tão moderno... Eles atiraram em nós com armas de fogo. Um de nós não retornou...
—Quem?— Perguntou Frisk, rápida e aparorada.— Oh meu Deus, por favor, Toriel, diga que não foi...
—Undyne?— Perguntou ela, enquanto Frisk assentiu.— Não, não, ela está bem... Fisicamente. Está bem chateada por ter perdido Alphys, já que se tornaram melhores amigas.
—Ah não! Não, não, não, não!!!— Frisk pôs as mãos na cabeça, enterrando os dedos por entre os curtos cabelos castanhos.— Por que Alphys? Por que ela? Oh meu Deus, não consigo acreditar que Alphys realmente...!
   Toriel abraçou Frisk, consolando-a. A garota chorava rios de lágrimas e, para ela, o mundo havia perdido a graça e as cores de quando tornou a ver Toriel.
   O aspecto bem cuidado com um toque de beleza obscura dera lugar a um clima pesado, o ar parecia faltar no ambiente. Não havia mais beleza. Não havia mais Alphys.

                               ~*~*~

   O lugar ao qual a monstrinha havia levado a moça era assustador, apesar de calmo. Sombras eram refletidas nas paredes cinzentas de concreto do local.
   Predominava uma temperatura baixa como a de um dia chuvoso de outono.
No centro da sala, estava disposta uma grande pedra, com algumas flores murchas em cima. Frisk reconheceu de imediato o que era aquele bloco duro e áspero.
—Alphys!— A garota correu em direção ao centro da saleta.— Não, não, não, não! A culpa foi toda minha... Se eu não tivesse quebrado a barreira... Se eu ficasse com Toriel, segura, nas ruínas... Ou sequer se tivesse dado ouvidos a minha mãe e não fosse ao monte Ebott... Com certeza você ainda estaria viva... Foi culpa minha... Eu coloquei todos em perigo ao chegar aqui...
Frisk, a esse momento, já chorava enlouquecidamente. Por dentro o ódio de si mesma por ter desobedecido a sua mãe a corroía. Se a tivesse escutado, não colocaria em perigo a vida de ninguém do Underground. Mas agora, era tarde.

Os Olhos da AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora