Dunkirk - 2

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Na madruga daquele mesmo dia, fomos acordadas por um forte estrondo, Nora e eu nos levantamos rapidamente e eu comecei a acender um candelabro que ficava entre nossas camas, mas antes que pudéssemos terminar de acendê-lo outra explosão pode ser ouvida dessa vez mais alta. Um soldado uniformizado abriu a porta e entrou.

- Nora! Vocês duas precisam ir agora para o navio! - Ele gritou desesperadamente.

- Tenente Willians, o que está acontecendo? - Perguntei enquanto pegávamos nossas malas e saiamos, sendo seguidas pelo mesmo que logo passou a nossa frente, começando a nos guiar.

- Os alemães estão nos atacando, temos que evacuar agora. - Ele disse já mais calmo.

O cenário era de total caos, essa guerra aqui já havia sido vencida. E não havia sido por nós. O navio estava cheio, mas não o suficiente para evacuar metade dos soldados.

- Vocês são as únicas enfermeiras que estão neste navio - Willians disse assim que conseguimos subir a bordo do navio - Então seria melhor se ficassem na ala hospitalar, para cuidar dos feridos - Continuamos seguindo ele apressadamente até chegarmos á uma sala relativamente pequena, mas como não tinham muitos soldados feridos ela era suficiente para uma ala hospitalar. - Fiquem aqui, o quarto de vocês é logo ali naquela porta - Ele apontou para uma porta mais ao fundo da sala e nós duas assentimos. Ele logo saiu e nós duas fomos cuidar dos soldados. Aos poucos foram chegando mais e mais soldados feridos até que senti um forte solavanco, que quase me fez cair. Estávamos a caminho de casa.

-

Já era o sexto dia de viajem. Já estávamos naquele navio há seis dias! Eu estava começando a enlouquecer, já tínhamos curado todos os doentes e não tinha mais nada que eu ou Nora pudéssemos fazer. Bem, ela ainda tinha o Tenente Willians para se divertir já eu, eu realmente não tinha nada.

Estava sentada na minha cadeira no fundo da sala de enfermagem lendo Orgulho e Preconceito, quando um soldado entra na sala.

- Pois não? - Perguntei sem tirar os olhos do livro. Estava sozinha com ele, Nora havia ido dar uma volta no barco com o Tenente Willians.

- Eu estou procurando um remédio para gripe - Reconheci a voz e ergui minha cabeça

- Tem certeza que está gripado Tenente Styles? - Deixei meu livro na mesa perto da porta e fui em direção à ele. Ele parecia muito abatido. - Sente-se - Pedi e apontei para uma das várias camas que estavam vazias.

- Bem, acho que estou gripado. Estou com febre e uma forte dor de cabeça - Ele revelou enquanto se sentava na cama. Ele tossiu muito forte, aquilo sim me deixou preocupada.

- Tenente Styles, por favor, deite-se - Ele fez o que pedi e peguei no seu braço, erguendo-o até a altura do meu ombro - Isso dói? - Perguntei séria.

- Nada que um soldado não suporte - Ele sorriu. Um lindo sorriso na verdade. Um sorriso que me lembrava de meu pai. Deus, estou com tantas saudades de casa.

- Esta doendo? - Perguntei séria e ergui seu braço mais um pouco.

- Sim - Ele respondeu derrotado e eu abaixei seu braço - Você por acaso teria um travesseiro?Essa cama esta me machucando.

- Essa é uma das melhores camas que temos em todo o navio - Falei um pouco baixo e entreguei mais um travesseiro.

Ele começou a espirrar, como se estivesse com alergia do ar.

- Você tem alergia a alguma coisa? - Eu perguntei olhando duvidosa.

- Não - Ele respondeu um tanto triste

- Tire o casaco da farda - Eu ordenei

- Mas eu estou com frio - Protestou

- Não, você está com febre. Agora tire o casaco - Falei novamente e ele desta vez me obedeceu, ficando somente com uma regata branca.

Assim que voltou a deitar ele começou a tremer. Eu peguei minha cadeira e pus ao lado da cama dele, depois sentei e fiquei o observando, enquanto ele me olhava.

- Você não deveria me dar um remédio? - Ele perguntou.

- Vejamos, você esta com febre; dor de cabeça; dores no corpo; mal- estar; tosse e coriza. Não tenho certeza do que você tem, não posso te dar um remédio. - Ele virou na cama e ficou olhando para o teto.

- Gripe espanhola - Ele disse depois de suspirar

- Gripe espanhola? Não seja ridículo, não há um caso de gripe espanhola á pelo menos vinte anos - Eu disse simplesmente.

- Mas eu estou com todos os sintomas. Não há cura. - Eu levantei e estava indo em direção à mesa para pegar meu livro, quando passei do seu lado ele segurou minha mão. - A maioria das pessoas morrem por causa disso - Olhei fundo nos seus olhos, que estavam lacrimejados.

- Você não é a maioria - Falei em um tom doce e voltei a andar. Peguei meu livro e sentei na cadeira perto de Harry novamente - Melhor você ficar aqui, pelo menos até chegarmos a Dover. - Olhei em seus olhos verdes antes de voltar a olhar para o livro.     

Dunkirk // HSOnde histórias criam vida. Descubra agora