Aliados: Entre o Céu e a Terra

Aliados

Se houver na terra algum ser capaz de ver o invisível ou de ouvir o silêncio,poderia ser um testemunha privilegiada de um diálogo único.Assim como a areia fala com o mar,ou como as árvores conversam com a chuva,ou a areia do deserto com o vento,assim dialogam os deuses.Algumas religiões da terra afirmam que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança; porém,foi o homem que criou a Deus a sua imagem ou semelhança.Aos seres humanos resulta quase impossível imaginar as divinidades sem um aspecto humano,e ainda que os deuses são energías sem forma,se um ser humano pudesse percebe-los os veria,seguramente,com uma forma humana.

Assim um vantajoso espectador podia haver visto a Madre Divina,uma energia feminina,pura,bela e luminosa,dialogando sobre a face da Terra com o Criador,um ser sábio,correto e justo.O diálogo entre eles era um fluir de argumentos,era a vida pensando em si mesma,era um combate de sofismas.

- O planeta foi um presente divino que os homens se empenharam em destruir- afirma o Criador- Se destroem a si mesmos e ao lugar onde habitam desde o começo dos tempos.

- A existência é contínua,se nasce morre e volta a nascer.Assim como se constrói,se destrói para voltar a construir.

- Eles constrói e destrói com violência.São seres violentos- Ele se opôs a seu argumento

- A criação foi um ato violento e caótico.Por que vamos pedir para a humanidade que não seja violenta e caótica?

A cada argumento que dizia o Criador,ela dizia aocontrario tratando de rebater.O Criador havia decidido terminar com o projeto humano.Como outras vezes havia ocorrido durante a história da humanidade,se cortaria por completo toda a vida humana sobre o planeta,para começar com uma nova geração de homens,com a esperança que estes não tivessem os defeitos de seus antecessores.Mas a Madre Divina que é uma energia criadora e compassiva,estava convencida de que os homens mereciam uma última oportunidade.

- Quando você olha para os seres humanos,o que vê?- Perguntou ele

- Vidas vazias,cheias de um vazio imenso,impreenchível - Respondeu a Madre Divina

- Então,qual é a esperança que você vê neles?

Ela pediu que a acompanha-se a um estádio em que a famosa cantora de dezessete anos daria um show.O olhar de um Deus é um olhar sem tempo,eles podem ver o presente,o passado e o futuro de uma vez.Assim ele pode ver em Azul,essa bela adolescente,de olhos enormes e profundos,a menina que foi,que se criou,em uma cidade pequena muito tranquila no meio do nada,onde cresceu com simplicidade e caráter.Pode ver como essa crueldade começou quando Matilda, sua mãe,a levou a capital para participar de um concurso de talentos na televisão.A viu perder todo o rastro de ternura depois de ganhar esse concurso e se tornar uma cantora pop muito famosa e milionária.Em muito pouco tempo,Azul se converteu em uma das pessoas mais famosas de seu país e um dos jovens mais ricos da região.A viu tornar-se azeda,agressiva,autoritária com todos que a rodeavam,e a viu perder a fome e adoecer de anorexia e bulimia.A menina provinciana,amável e sonhadora se havia convertido em uma jovem arrogante,intolerante,desagradável,com sérios transtornos alimentícios.

A continuar a Madre Divina conduziu o Criador até as ruas poeirentas de um povo encostado ao lado de um rio marrom.Ali na rua principal,o Criador viu a Franco,um jovem de dezenove anos,de um sorriso grande e os olhos inquietos,com um grande atrativo e sensualidade,que dançava com seu peitoral desnudo no meio de um desfile de carnaval.O Criador pode ver que Franco,enquanto dançava ao ritmo da batucada,aproveitava para roubar carteiras e telefones celulares em público.Era um menino,que exagerava em seus gestos de homem,por que ele deve cuidar de si mesmo,em uma selva onde a sobrevivência era um privilégio.Abandonado por sua mãe,se havia criado com seu pai,mas ele havia sido preso,como antes havia ocorrido com seu avô e como logo ocorreu com seu irmão mais velho.Existia em sua família uma tradição criminal que Franco não estava disposto a quebrar,senão que,encorajado pelo ressentimento que lhe provoca tudo isso que tinham outro e que ele jamais poderia ter,estava disposto a dar esse passo que leva a roubar carteiras,as empresas mais ambiciosas. O Criador viu a um jovem marginal que só tinha anseio e muito ressentimento.E o álcool,um parceiro que lhe dava coragem e a prepotência necessária para arrebatar o mundo este que o havia negado.