Táticas de Jogo/ Sentimentos Estranhos

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"Amo seu sorriso, amo sua alegria, amo seu jeito, amo quando fica concentrada estudando, amo mais ainda quando tem que apresentar algum trabalho na frente da turma, seu rubor me fascina. Por que tinhas que estar em um pólo oposto ao meu?"

Mirei o centro da quadra sem enxergar,  os pensamentos davam voltas na minha cabeça buscando, mas sem encontrar, uma conclusão pra minha dúvida. Bufei desanimado e bati com força o caderno que escrevia fechando-o.

Desci da arquibancada vazia guardando meu pequeno caderno na mochila. Eram 12:57, daqui a pouco o sinal tocará dando início ao segundo round das aulas, com certeza todos já devem estar em sala. Vou indo pra lá.

– Pierre, onde você estava? A galera estava te procurando pra ver as táticas do jogo, é no próximo sábado, cara! - bronqueou Schneider, voltando-se pra mim assim que pus os pés na sala.

A galera do futebol reunira-se no fundo da sala de aula em um círculo feito com as cadeiras para discutir os planos pro próximo jogo, e com razão Schneider pegava no pé, sou o capitão.

– Estava ocupado. - fui sucinto.

– Ocupado... sei. - viajou Igor, encarando-me malicioso, não acreditando nas minhas palavras. – No banheiro?? Pondo a cabeça no lugar? - a risada foi geral. Da maneira séria como estava permaneci. Meu olhar foi suficiente para fazer as hienas ficarem quietas.

– Na biblioteca, senhor engraçado, estudando pra matemática, coisa que você também deveria fazer né, Igor. - fui sarcástico, apoiando minhas mãos em seus ombros que se encolheram e depois baguncei seu cabelo arrepiado.

– Pode ser que você tenha razão - rebateu, teimoso feito uma mula sem dar o braço a torcer. - Pode ser... pode ser... pod... você tem razão. - fingiu estar cabisbaixo. - Mas eu já tô lascado mesmo, terceiro bimestre, se não aprendi nada até aqui, agora mesmo que não vou aprender. - concluiu, voltando a sorrir despreocupadamente.

– Isso vale pra você, meu caro. - dei de ombros e me juntei a galera na roda. - Se eu levar rasteira em alguma matéria nesse último ano pode ter certeza que não ganho meu Corola, e fico andando de ônibus pra sempre.

– Agora tá explicado pra que tanta determinação pra estudar. - ironizou Schneider, sorrindo - Tem uma recompensa.

– E que recompensa! - e me imaginei pilotando aquilo tudo de carro. - Aproveito e uno o útil ao agradável, tenho que passar de ano mesmo. Mas esquecendo isso, fala aí, que que vocês decidiram. - mudei de assunto antes que me perguntassem mais sobre a matéria que eu (não) estudei.

– Então, reunião com o técnico e o diretor na segunda, não sei pra que, mas é obrigatório. - informou, nada contente o Diego, enquanto lia suas anotações do caderno. - Amanhã treino na quadra depois das aulas. 3,14r, - isso é um trocadilho matemático que eles fazem com meu nome, 3,14 é o valor de "Pi" e com o "r" no final fica Pi-erre, é eu sei, é estranho. - dose extra de pênaltis, o jogo contra o Inácio Gouveia pode ser acirrado, então vamos precisar do seu máximo. - e apontou para mim com o lápis. - Atacantes, Schneider, Carlos e Oliver, o foco de terça vai ser voltado para as faltas, o técnico quer ver onde ainda se deve melhorar.

– Pra mim estamos prontos pra quebrar!! - vibrou Carlos.

O barulho ensurdecedor do alarme foi ouvido.

– Rápido galera é aula de história, algo a acrescentar? Capitão? - todos olharam pra mim, compenetrados de que aquilo era importante não só para a escola, como para cada um deles também. É nessa hora que eu deveria honrar com meu papel de líder e falar algo inteligente e motivador, que desse aquela injeção de ânimo neles como um voto de confiança em mim e no time, mas tudo o que me veio em mente foi:

Por Trás das PalavrasOnde histórias criam vida. Descubra agora