Martin corria a todo vapor pelo longo corredor que ligava os quartos, os quadros nas paredes e os porta-retratos sobre o Rack de mogno com fotos da família em viagens de férias, e em momentos felizes regados a sorrisos e felicidades, eram imagens frívolas e distantes do que realmente acontecia dentro dessa casa.
- Papai? - espantou-se Ally ao ouvir a gritaria - O que que tá acontecendo? - perguntou aparecendo no vão da porta do seu quarto pra logo travar com a cena.
- Entra, Allyson! - mandei, sendo um pouco rude sem querer. Ela olhou do nosso pai pra mim percebendo que o tempo fechara, fazendo seus olhos arregalados escurecerem, e uma das poucas vezes me obedeceu. Já conseguia visualiza-la arrastando seu sapo de pelúcia pra debaixo da cama, com medo. Era sempre assim que acontecia quando as brigas começavam. Isso me cortava o coração.
Aquele que eu chamava de pai continuava proferindo ameaças à minha mãe, enquanto eu ia em seu encalço tentando para-lo sem sucesso. O pânico me invadia por não poder fazer mais nada para segura-lo, e ainda não havia nem vestígio da minha mãe. Tenho medo do que ele fará caso não a encontre.
Com um murro ele escancarou a porta do seu compartilhado quarto com força, fazendo o objeto chocar-se contra a parede, e sondou o local como um morcego atrás de comida, à procura do alvo que receberá toda sua fúria.
- Onde está sua mãe? - perguntou-me, abrindo a porta de correr de vidro que dava pra sacada, e após não encontra-la voltou-se para mim.
Engoli seco.
- Ela... eu... achei que ela estivesse aqui. - minhas mãos começaram a tremer, e o suor gelado ameaçava rolar pela minha testa. Iam além das minhas forças conseguir mentir decentemente naquele momento.
- Sua mãe não está em casa? - sorria sadicamente, não acreditando que sua esposa não o esperava como em todas as noites, e que, pior, saíra a essa hora sem sua permissão, sua voz beirava a zombaria tamanho sua fúria disfarçada de incredulidade.
- Ela pode estar em qualquer lugar da casa, no quintal, por exemplo. - minha voz saiu esganiçada, e ele semicerrando os olhos não acreditou dessa vez.
- Ah, mas a Fernanda vai me escutar quando chegar! - seu olhar cego pelo raiva me assustava, com o passar do tempo essas crises de ciúmes estão piorando ainda mais e desencadeando discussões cada vez piores entre os dois, e no meio dessa batalha estava eu e Allyson.
No mesmo instante a porta do banheiro se abriu com um estrondo, e de lá saiu minha mãe recém tomada banho secando os cabelos.
- Que que está havendo aqui? - perguntou preocupada - Quem quer destruir a casa?
A raiva do meu pai, antes incontrolável, aparentemente havia se esvaído em um piscar de olhos, ao constatar que sua mulher estava em casa. Meu alívio foi tão grande que só não me sentei no chão porque minhas pernas não tinham forças nem pra isso.
- Qual o seu problema, Martin? Virou moda agora gritar o meu nome? - questionou irritada. - Está ficando maluco?
- Onde você estava? - inquiriu despejando toda sua autoridade ao dar ênfase na voz, agarrando o braço da mulher a sua frente pro meu espanto e deixando-me em total alerta, a qualquer sinal de hostilidade além disso terei que intervir.
- Até onde me consta eu saí do banheiro, e você não é cego pra não ter visto! - respondeu acidamente à altura da afronta sem desviar o olhar nem hesitar.
Admiro muito minha mãe pela audácia dela de enfrentar o Martin, mesmo fazendo coisas que ele erradamente a proíbe, como a Yoga.
- Por que não me respondeu antes? - vociferou o homem ríspido, com a desconfiança injetada em cada letra.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Por Trás das Palavras
Teen FictionPerfeito. Era assim que todos o viam. Capitão do time de futebol, bonito, cobiçado pelas garotas do colégio, com uma família de classe alta, bem sucedida e influente, Pierre chega ao seu 3º ano do ensino médio. Seu maior foco é fazer seu time vencer...