Não seria a primeira vez

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O ônibus anda até sua última parada antes da escola. Minha mente ainda esta perdida no olhar daquela figura. Posso estar ficando louca, ou tem alguém atrás de mim. Não seria a primeira vez.
Enquanto olhava para o lado de fora, alguém senta do meu lado.
– Bom dia, Raven! – Jon fala se acomodando no banco.
– Ah, oi Jon.
– Você está bem? Parece ter visto um monstro.
– Estou vendo um agora. – rio e brinco com o momento.
– Não seria a primeira vez que você vê um. – ele tenta fazer uma piada.
Ele olhou pra mim rindo. Virei a cara e voltei a olhar a janela. Todos sabem o ódio que tenho sobre o assunto. Ele falava sobre o pior dia da minha vida. O dia em que meus poderes finalmente apareceram. Não foi nada agradável, eu tinha 11 anos e foi na frente de toda a escola. Eu estava na aula quando minha visão desapareceu, tudo o que conseguia ver eram monstros e fogo. Eu gritava por socorro, correndo pelos corredores da escola. Entrei no armário do zelador. Lá fiquei chorando enquanto os objetos em volta se mexiam, eu só ficava mais assustada. Virei motivo de piada graças a tudo aquilo. Pra piorar tudo, minha mãe falou a direção que eu estava tendo alguns problemas com remédios. Tudo pra esconder o real motivo: os malditos poderes herdados dela.
– Não queria te lembrar disso, desculpa. – ele cria coragem pra falar depois de um tempo.
– Tudo bem. – disfarço a raiva.
Finalmente, ou não, chegamos na escola. Todos descem, espero até que esteja vazio para poder ir. Coloco meus fones e vou andando em direção à entrada. Olhando bem em volta, as pessoas não me notam muito. Estão ocupados fazendo coisas que adolescentes normais deveriam fazer.
Eu esbarro em alguém bem na entrada.
– Olá pra você, garota possuída. – fala em uma voz debochada.
É Jason, um dos babacas do 3° ano que fazem meu dia aqui se tornar outro inferno. Não é a primeira vez que ele me perturba. Essa situação se repete toda semana, dessa vez ele me irritou em um péssimo dia.
– Olá, acéfalo. – falo e continuo andando, ignorando qualquer outro comentário.
– Venha aqui, não seja grossa. – ele me puxa pelo braço, me segurando.
– E você poderia não ser tão estúpido, ou até isso é difícil pra você? –respondo com uma voz de ódio.
– Não se faça de difícil. Garotas como você são as melhores. – ele fala colocando a mão na minha cintura e descendo até o quadril.
Aquilo me encheu de ódio, tudo o que queria era ver ele morto e rir daquilo. Uso minha outra mão para agarrar o pescoço dele.
– Olhe bem nos meus olhos! Se não quer que seja a última coisa que vai ver, então pare de ser tão estúpido! –seguro a garganta dele, puxando e fixando meus olhos aos dele.
Não sei de onde veio o impulso para fazer aquilo, ou até mesmo a força que tive para conseguir puxa-lo. Foi tudo tão rápido, aquela nem parecia eu. É como se alguém falasse por mim o que sempre tive vontade.
Eu o empurro e ele fica lá no chão, recuperando o ar. Todos olhavam pra mim com relance e logo desviavam. Continuei andando até a sala normalmente.
Mais tarde, a aula é interrompida pela diretora. Ela veio me chamar até sua sala. Não tinha medo, só me defendi. Contanto que não chamassem minha mãe, eu estaria relaxada. Mas, como sou a pessoa mais azarada do mundo, minha mãe me esperava na sala da direção. Fui obrigada a ouvir uma hora de reclamações. Logo depois, fui mandada para casa. Fiquei feliz de não continuar naquele lugar. Infelizmente minha mãe voltaria junto.
– Por que temos que ir de carro? Não pode usar magia ou algo assim? –reclamo enquanto entramos no carro.
– Pensei que não gostasse da magia. E de qualquer forma, não tem direitos de reclamar agora. – ela fala me olhando em relance.
– Eu só queria ir logo pra casa. – falo cruzando os braços.
– E quem disse que vamos para casa? Você vai treinar. – ela fala ironizando.
– Meu dia não poderia ficar melhor. –falo sarcasticamente.

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