A noite da maldição

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Repetidas vezes lanço feitiços em Robb, em sua maioria eles falham. Uso feitiços diretos, simples esferas de energia.
Não tenho muita prática com meus poderes. Minha mãe fala para limpar a mente e projetar meus sentimentos. Tudo o que tinha em mente era o acontecido de mais cedo. Aquela força que senti, não se compara a nenhuma outra sensação. Fico distraída.
Em um golpe, Robb me derruba no chão. Sinto o impacto. Fico deitada, pensando em como fui péssima novamente.
Todos saem da sala. O treinamento acabou. Minha mãe saí com uma cara que me parece de decepção.
– Você está melhorando. – Robb fala estendendo a mão.
– Não, não mesmo. – levanto sozinha, negando a ajuda dele e indo para saída.
– Não se culpe, você é forte. – ele me acompanha
Eu não respondo, apenas ando pelo corredor. Aperto os punhos, um pouco nervosa. Enquanto ando, ouço vozes vindas de uma sala. Me aproximo para escutar.
– Ei, o que está fazendo? – Robb pergunta se aproximando.
Balanço um braço fazendo sinal para que se cale.
– Ela parece estar tendo os sinais novamente. Me preocupo com o que anda acontecendo. Estelar, eu acho que ele está atrás dela. – ouço minha mãe falar atrás da porta.
–  Tem certeza? Já fez de tudo? – a voz da mãe do Robb é abafada pela porta.
– Eu já fiz tudo o que podia. Tudo só tem piorado, ela tem ficado mais curiosa.
Me afasto, pensando nas palavras dela. Em seguida continuo a andar pelo corredor.
– Ei, onde você vai? – Robb fala sussurrando, para que ninguém ouça.
Ando até a janela de vidro, ela me dá uma idéia. Abro ela e coloca a cabeça para fora.
– O que está fazendo? Está louca? – ele me para, segurando meu braço.
– Eu preciso fazer isso. Preciso de um tempo só.
– Isso não significa que precisa se matar.
– Não vou me matar, apenas vou andando até casa.
– E vai pular a janela que está a mais de 10 andares de altura?
– Aprendi algumas coisas esses últimos dias. - solto um sorriso. – Se ela perguntar por mim, diga que eu voltei pra casa. – beijo sua bochecha e pulo.
– Raven, não! – ele da um grito abafado, parecendo desesperado.
Sinto o vento passar por todo meu corpo enquanto observo a paisagem. Respiro fundo, tentando fazer o que minha mãe costuma falar.
– Limpar a mente. – repito para mim mesma.
Eu plano, nos últimos metros antes do chão. Chego no chão quase como uma pena. Olho para cima e vejo Robb assustado e ao mesmo tempo surpreso e aliviado. Dou tchau com a mão e ando em direção a cidade.
Eu precisava daquilo. Um tempo sozinha, nem que fosse uma caminhada até casa.
O sol caiu rápido depois que saí. As lojas em volta fecham, as pessoas entram em casa. Eu sinto o clima agradável de frio noturno. Restavam apenas algumas pessoas andando e conversando. Eu observo em volta, do outro lado da rua, um pequeno grupo. Ao olhar em relance, vejo o que parece ser aquela sombra de antes. Estava parado, parecia estar me encarando. Em uma rápida piscada, aquele misterioso indivíduo some. Aquela seria a oportunidade de saber se estava louca. Eu atravesso a rua, andando em direção à outra mais escura, tentando seguir o que não está lá.
Prosseguindo naquele caminho, penso que aquilo poderia ser apenas coisa da minha cabeça. Mais a frente, não via ninguém. Apenas as luzes dos postes iluminavam o caminho. A essa altura, já estava assustada. Em uma rápida olhada para trás, vejo a sombra. Me assusto e me volto para frente, andando novamente. Perdi o interesse, o medo era maior. Ouço os passos me seguindo. Ficam cada vez mais próximos, pareciam estar mais autos a cada segundo. Meu corpo gelou. Corri em um momento de apelo. Tudo o que conseguia ver era um luz que vinha da próxima rua à esquerda. Por um certo momento clichê, tudo o que queria era alcançar a luz.
Ao virar a rua, esbarro nele. Sim, ele. Ele é alto, ao ponto em que não consigo ver seu rosto. Ele apenas fica parado, me olhando.
– O que você quer? Por que diabos está me seguindo? – tento aparentar coragem.
Ele se aproxima um pouco. Posso ver uma pequena parte de seu rosto. Ele tem a pele avermelhada, e seus olhos brilham em amarelo, seus quatro olhos. Ali soube que não era apenas um estranho qualquer.
– Eu vim aqui para te avisar, Raven.
Ele saber meu nome já não era surpresa. Aquele momento ainda me assusta. Fico em silêncio, observando ele.
– Não me deixe falar sozinho, parece ter uma voz tão bonita. Sua mãe não te ensinou bons modos? – ele sorri.
– Quero saber o que quer de mim!
– Agora? Não tem nada para me oferecer. Mas, logo, logo terá tudo o que mais desejei por anos.
– Se não quer nada de mim, então saía da frente. Quero ir embora!
Tentei demonstrar resistência ao medo. Tudo o que mais queria era correr dele. Mas, parecia ser uma daquelas situações das quais nunca posso fugir.
– Eu sinto o cheiro do seu medo, criança. Não precisa ter medo de mim, não agora. Sua situação só irá piorar daqui pra frente, terá outras coisas para se preocupar, além de um velho demônio. Sua vida, a partir de hoje, se tornará o novo inferno. – ele ri, como se estivesse contando piadas.
Sinto que ele não estava mentindo, mas não poderia ser real. Olho pro chão. Aquelas palavras me deixaram tonta, como se eu sentisse o pesar de suas palavras nas minhas costas. Ao voltar o olhar para frente, não o encontro.
– Onde você está? Se quer tanto que minha vida seja um inferno, pode ficar feliz, ela já é! – grito alto, me ajoelhando na calçada, já sem saber o que fazer.
Algo segura meus ombros por trás.
Sinto medo de virar, mas não evito. Ao me virar, já com lagrimas escorrendo meu rosto, vejo minha mãe. Eu caio sobre seus braços, chorando. Pela primeira vez em dias, fico feliz que ela esteja por perto.

Raven Onde histórias criam vida. Descubra agora