O garoto não mantinha a cabeça quieta nem por um instante. Olhava tudo ao seu redor, desde o gigantesco tapete vermelho que cobria o chão, até as extensas paredes, todas detalhadas, que recebiam estatuetas monstruosas e aparentemente antiquadas.
Ao contrário de sua parcial agitação, mantinha os lábios pregados, num completo sigilo, enquanto seus olhos azuis passeavam pelo interior do imenso castelo, capturando toda e qualquer imagem que sua vista pudesse alcançar.
Mantinha passos pequenos, enquanto seguia a Fera, que segurava uma espécie de candelabro numa de suas mãos. O calor que o fogo emanava ajudava Louis a sentir-se quase um pouco menos desconfortável do que antes. Porém, a luz que as chamas reluziam tingia tais esculturas espalhadas ao seu redor de uma forma que as deixavam ainda mais macabras.
Dragões e gárgulas, dos mais variados tipos e tamanhos, dispostos numa distância razoavelmente considerável para quem passasse por aqueles corredores. Se dependesse de Louis, o rapaz certamente acabaria levando sustos e mais sustos toda vez que andasse por aquela parte do castelo.
Ao ficar alguns instantes fitando uma daquelas imagens, percebeu que a Fera continuava a caminhar, o que consequentemente fez com que o garoto deixasse um suspiro alto escapar de seus lábios, antes de passar a correr em direção à criatura.
Já a Fera, que ainda segurava o candelabro e o mantinha na altura de seus olhos, acabou virando-se levemente para trás, a fim de observar o garoto que o alcançava rapidamente. Sua expressão mudou completamente ao encarar Louis, que olhava para os lados e logo em seguida abaixava a cabeça. Ao erguê-la novamente, a Fera pôde notar uma lágrima escorrendo por uma das bochechas do garoto, o que o fez virar-se para frente novamente antes de franzir o cenho e morder uma parte dos lábios.
Niall, que observava aquela cena com cautela e atenção, acabou aproximando-se de seu amo, antes de cochichar baixo em sua direção:
— Fale alguma coisa para ele...
— Hm... – a Fera murmurou, confusa, enquanto fitava o chão. – Oh! – exclamou baixo, arregalando levemente os olhos, como se tivesse pensado na solução perfeita: – Espero que goste daqui... – começou, virando sua cabeça para trás, mas logo voltando a encarar o candelabro que mantinha em mãos.
Niall deu sinal para a Fera, chacoalhando suas mãos no ar, como se dissesse que ela deveria continuar falando.
— O castelo é a sua casa agora, pode ir aonde quiser... – dizia, movimentando uma de suas mãos no ar enquanto a voz rouca e pesada atravessava sua garganta. – Menos à Ala Oeste! – exclamou, num tom autoritário, deixando bem claro para qualquer um que estivesse ouvindo.
— O que há lá na–
— É proibida! – A Fera gritou, rugindo alto e fazendo Louis e sua ingenuidade evacuarem alguns passos para trás.
O grito havia sido tão alto, que se manteve ecoando pelo castelo por alguns instantes.
A Fera continuou a caminhar, porém, Louis parou para pensar se realmente deveria fazer o mesmo.
-x-
Depois de mais um tempo resumido em passos, um silêncio absoluto da parte de Louis e alguns resmungos vindos da Fera, finalmente chegaram ao destino daquele passeio.
A porta do quarto era quase tão imensa quanto as estátuas espalhadas pelo castelo, e Louis percebeu no mesmo instante que teria certa dificuldade em girar aquela maçaneta.
A fera adentrou parcialmente o cômodo, enquanto abria ainda mais a porta de madeira e dava espaço para o garoto dos olhos azuis passar.
Quando Louis já estava dentro do quarto, virou-se para encarar a criatura, que já começava a se afastar.
— Se quiser alguma coisa, meus criados irão atendê-lo... – disse, quase sussurrando, enquanto planejava sair dali rapidamente.
Porém, Louis o impediu.
— Espere! – exclamou, e só depois foi capaz de perceber que talvez tivesse se exaltado de uma forma não tão planejava. – Eu... Eu queria perguntar uma coisa.
Niall, ainda sendo segurado pela Fera, franziu o cenho, fitando o menino de forma confusa. Porém, ao ver que seu patrão não havia dito nada em resposta, cutucou-o levemente numa região próxima a uma de suas orelhas.
— O que é? – a Fera perguntou num tom grosso.
— O seu nome. – Louis achava aquele detalhe muito importante.
A Fera permaneceu em silêncio por mais alguns instantes. Niall teve que cutuca-la novamente.
— Harry. – respondeu baixo.
Louis fitou-o por alguns instantes, até assisti-lo fazendo um movimento de cabeça, que demonstrava que Harry também esperava a resposta do garoto dos olhos azuis.
— Louis. – ele respondeu, engolindo em seco.
O maior assentiu, começando a se afastar. Porém, depois de alguns passos, parou repentinamente.
Enquanto isso, Niall cochichava em seu ouvido.
— Convide-o para jantar...
Louis franzia o cenho, antes de virar-se de costas e começar a caminhar lentamente pelo quarto. Talvez Harry não tivesse nada mais para falar.
Porém, o outro logo começou a dizer, provando a Louis que ele estava errado:
— Você vai... Jantar comigo! – exclamou num tom sério, agarrando parte da porta entreaberta, por mais que Louis não pudesse assisti-lo.
O garoto dos olhos azuis apenas parou no lugar onde estava, com uma expressão séria em seu rosto.
— Isto não é um pedido! – Harry gritou, fechando a porta num forte baque logo em seguida.
Louis arregalou os olhos, virando-se rapidamente para a porta fechada. Porém, já era tarde demais.
O garoto não conseguiu pensar em mais nada. Apenas no gosto amargo que preenchia sua garganta e nas lágrimas que invadiam seus olhos.
Enquanto corria em direção a grande cama disposta naquele quarto, sentia que talvez, seus dias dali em diante seriam mais difíceis do que nunca. Sem sua mãe, sua casa e qualquer outra coisa que o deixava relativamente feliz, Louis se viu totalmente perdido.
Naquele momento, ele tinha totalmente o oposto do que sempre havia sonhado. Trancado num quarto e com o corpo afundado no colchão macio, Louis só conseguia pensar em como desejava não estar ali. Bem longe daquele castelo, e principalmente, de Harry.
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beastly // larry stylinson
Teen FictionFrança, 1891. Louis vive em uma aldeia centralizada num interior quase inexplorado em algum lugar da região francesa. É um jovem inteligente e totalmente estranho aos olhos dos moradores locais, assim como a própria mãe, que é vista como alguém que...