O amor, seja ele de que tipo for, é maravilhoso mas, para mim, já perdeu o encanto. As borboletas voaram sem destino para fora do meu estômago, o bater do coração mantém-se no mesmo compasso e o brilho nos olhos foi substituído por gelo. Gelo sim, estou fria. Sempre disse que nasci para o tempo frio, para a neve mas agora sou um iceberg humano que vagueia de estômago vazio sem qualquer esperança de amor ou paixão. No entanto, tudo o que me rodeia me apaixona, me encanta.
Sou uma apaixonada incurável. Apaixonada por livros, pela natureza, pela vida. Só não gosto de pessoas. As pessoas fazem uma cena incrível e peço desculpa se já provoquei isto em algum momento ou abalei de alguma forma negativa a vida de alguém.
Então a pessoa chega. Se te identificas com ela e têm um assunto que agrade a ambos, falam. Se não, não falam mais e esquecem que alguma vez falaram com esse alguém; e lembram-se anos mais tarde por algum ofício que fosse o dessa pessoa.
Quando falam não falam só, discutem, debatem... E se por acaso acabam por criar uma amizade e continuam com algo para falar, passam a confiar um no outro. Se essa pessoa te faz sorrir, rir; se essa pessoa te desafia e te desassoga, tu vais querer mais. Vais querer mais do que uma amizade. Vais querer o que ainda umas linhas acima afirmaste ter perdido o encanto. E então continuas a estar com essa pessoa. As borboletas voltam a alojar-se na tua barriga e o teu ser ilumina-se. Essa pessoa ilumina-te e se fores como eu, procuras maneira de ser tomada dessa pessoa também. A pessoa parece corresponder. Procuram mais horas juntos. Os vossos dias alogam-se em conjunto. Continuam com mil e um temas e conversas. Uns beijos de língua, umas mãos que se encontram, outras mãos que procuram outras partes do corpo, um corpo que se derrete no teu, que se funde, naquele instante, naquela cama, naquela noite.
Perdeste a crença no amor e aqui te encontras tu, apaixonado, louco de desejo pela tua tomada. E aí surgem as dúvidas.
Será que pensas em mim como eu penso em ti? Mas pensas em mim ou nela? Aqui, agora somos só eu e tu? Depois disto seremos só nós novamente? Em que estás a pensar? Sentes o mesmo que eu? Se sentes, explicas-me? Explicas-me o que sentes? Porquê? Em que ocasiões? Gostas do que sentes? Queres sentir?
A minha alma enche-se de perguntas sem resposta. Sem resposta porque eu não deixo que respondas. Mas por favor, responde. Acalma-me um pouco para me dessassossegares a seguir. Agarra-me com força neste momento se é o que pretendes. Agarra-me e não me larges nunca mais. A menos que queiras. A menos que outra pessoa se revele no teu coração e se pavonei na tua cabeça. A menos que haja outra pessoa que não eu. E se assim for, larga-me. Não me agarres se quer. Porque se pensas noutra pessoa agora, eu não vou ser capaz de a substituir ou viver com esse pensamento. Porque se pensas noutra pessoa agora, eu não quero esperar até deixares de pensar. Porque se pensas noutra pessoa agora, espero que corras o suficiente para se reencontrarem. Quero que acredites uma última vez no amor e sejas feliz com outra tomada, outra luz que não eu. E eu volto, em forma de amizade. Sempre aqui. Sempre tua. (Des)apaixonada.