"Querido diário. Tenho me esforçado bastante para me rea-costumar com a escola, está sendo difícil, mas creio eu que mentir para todos é a melhor forma de me esconder da multidão. Não quero ser vista como a garota que não sofreu um dano se quer no acidente de moto com o namorado. As vezes até desconfio que as pessoas falam por minhas costas. Penso que elas acham que eu fui a causadora do acidente. Pode até ser, mas como eu seria responsável por isso? Eu estava em cima da moto com ele, não tinha como eu me livrar! Será que foi algum tipo de milagre? Vai saber!
Enfim, tudo correu bem hoje, e agora preciso dormir. Boa noite diário!"
Fecho meu diário e o coloco sobre o criado mudo ao lado de minha cama. Estou envolvida em um edredom, estou com frio. Não com o frio que nos faz bater os dentes, mas um frio estranho, gostoso até. Não consigo parar de pensar em Gabriel. Meu namorado que está em coma no hospital. Será que as meninas do refeitório tem razão, eu sou a culpada disso tudo? De ele estar em coma profundo? Me dói pensar nisso. Eu não o amo, mas eu gosto dele, ele me faz bem. Deveríamos só ser amigos, e nada mais. Mas ele me ajudou tanto quando eu sofria bullying na escola. Todos os alunos eram malvados comigo, menos ele. Ele me defendia, até apanhou por mim.
Sim, ele é meu melhor amigo, mas também é meu namorado, amanhã antes de ir para escola, vou levar flores para ele. Um buquê de flores brancas e vermelhas, sua combinação de cores favoritas.
Apago a luz do abajur e fecho os olhos, espero o sono profundo me consumir aos poucos, bem devagar. E então, apago.
Fogo! Apenas fogo! Por que? Por que é tão quente? Onde estou? Mamãe, papai, onde vocês estão? Eu estou com medo!
Ouço gritos.
-Quem está aí?
Ninguém me responde. O fogo me rodeia, mas ele não me queima, por que?
Não quero ficar sozinha, tenho medo.
Ouço vários gritos e gemidos, estão com dor? Estão sofrendo? Por que ninguém me responde?
Levantei e comecei a andar entre as chamas, e então eu vi. Tinha pessoas se queimando no fogo, mas por que o fogo só queima elas?
-Dianna?
Ouvi uma voz, até que enfim! É a voz da mamãe, ela parece triste, será que o fogo queimou ela também? Corri em direção a voz da mamãe, e me deparei com meus pais. Eles estavam pregados em um tipo de cruz, entre eles tinha um homem. Um homem bem feio. Tinha chifres no alto de sua testa, cascos em vez de pés, asas negras como as de um morcego. Ele sorria para mim, no lugar de dentes havia presas pontudas e brilhantes. Mas não o brilho dos dentes do comercial de creme dental, era um brilho vermelho. Sangue.
-Seja bem-vinda princesa.
Sua voz monstruosa me fez estremecer, o que ele vai fazer com meus pais? Eu tô com medo.
-Agora!
Ouvi uma voz feminina ordenar. O monstro estava segurando duas facas, parecia mais uma espada de tão grande. Uma em cada mão. Logo percebi o que ele ia fazer, então comecei a correr, mas mamãe, papai e o monstro se distanciavam, e então ouvi um som assustador. Um rugido. Ele saia da boca do monstro, e uma chuva vermelha começa a me molhar. Não! Mamãe e papai!
Lágrimas escorrem pelo meu rosto, misturando-se com o sangue de meus pais mortos. Ao meus pés, as cabeças, a minha frente, seus corpos sendo esquartejados. Não consigo segurar o grito que pula de minha garganta. Coloco à mão sobre meus olhos, não quero olhar aquilo, não posso aguentar.
-Calma meu amor, a mamãe está aqui!
Uma mão pousa em meu ombro, ela é fria. Uma voz feminina um tanto sensual, firme e parece bem poderosa. Como alguém que só dá ordens. Quem é ela? Por que se denomina "mamãe"?
Me levantei ainda chorando e olhei o rosto da mulher. Pele branca, olhos vermelhos e profundos, como o sangue de meus pais derramado no chão. Seu cabelo é vermelho escarlate, seus lábios são carnudos e corados. Quem é ela?
-Ah minha querida, por que não abre a boca para fazer suas perguntas mentais? Nem todo mundo consegue ler mentes como eu. - ela esboçou um sorriso maléfico. Esse sorriso combina com ela. - Respondendo suas perguntas, eu sou Lilith, a rainha do inferno, sua mãe. Sua verdadeira mãe. E Dianna não é um nome digno da princesa do inferno. Seu verdadeiro nome é...
Ela foi interrompida por um bater de asas fortes, a imagem de meus pais sendo mortos passou por meus olhos, só que dessa vez, bem detalhadamente. Coloquei a mão em meus olhos, tampando-os para não ver aquela cena horrível. E gritei.
Meu grito provavelmente acordou a vizinhança inteira. Meu pai está diante de mim segurando meus ombros e me balançando. Ele tem um olhar preocupado.
Logo atrás das costas dele está minha mãe com a Elizabeth em seus braços. Coitada de minha pequena irmã, seus olhos estão arregalados de medo.
-Dianna, você está bem?
Abraço meu pai com tanta força, que se fosse possível, eu teria o partido ao meio. Ainda bem que não aconteceu isso. Estou tão feliz por todos estarem bem que não consigo conter minhas lágrimas.
-Estou bem sim papai, foi só um pesadelo.
-Dia tá doentli?
Minha irmãzinha de dois anos está preocupada comigo, isso me faz chorar mais. Meu pai afaga meu cabelo bagunçado e beija o alto de minha testa. Ele me afasta um pouco para examinar minha expressão. Ele é psicológo.
-Foi só um sonho ruim, ela está bem.
Ele fala sorrindo para Beth, limpo meu rosto e forço um sorriso para ela, que logo bate palminhas de felicidade.
-Oba oba, Dia tá bembem!
-Sim meu anjo, ela está bem.
Minha mãe trouxe Beth até minha cama, e ela veio diretamente para meus braços. Ela beijou minha bochecha, depois a ponta de meu nariz, minha orelha, meu queixo e meus olhos.
Beth tem olhos azuis, e seu cabelo é loiro, tem cachinhos lindos. Minha cachinhos dourados. Minha pequenina.
Olho o relógio digital ao lado de minha cama e afasto Beth de mim.
-Beth tenho que ir me arrumar, tenho aula hoje.
-Ta bom Dia, eu tô com xono.
Ela caçou os olhos e estendeu os braços para minha mãe. Meu pai ficou me olhando, acho que percebeu que ainda estou com medo. Mas aí é que está o problema, não sei de que tenho medo.
Levanto-me de minha cama e corro para o banheiro, que fica dentro de meu quarto. Lá faço minhas higienes pessoais e em seguida tomo um maravilhoso banho morno. Sinto cada músculo de meu corpo relaxar.

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Amaldiçoada
AventuraDianna não sabe que caminho trilhar, luz ou trevas? Como saber qual seguir se ela faz parte dos dois mundos? Nem sempre a na luz vive os bondosos, como nem sempre nas trevas os maldosos. Apenas uma escolha significa o futuro do mundo humano, que ago...