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Julia

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Julia

Acordo sobressaltada, o coração acelerado depois de uma noite mal dormida. O projeto do novo cliente tinha me mantido inquieta, e mais uma vez, adormeci no sofá, rodeada de papéis e esboços. Era algo comum nas minhas noites de trabalho exaustivo, quando o cansaço me vencia, e o sofá se tornava minha cama improvisada. Me espreguiço, sentindo os músculos doloridos, e decido que preciso de um banho relaxante para começar o dia. No caminho até o banheiro, abro as cortinas, permitindo que a luz suave da manhã inunde o apartamento. O sol entra tímido pelas janelas, iluminando o ambiente moderno que tanto me esforcei para conquistar.

Entro na banheira, a água morna envolvendo meu corpo enquanto meus pensamentos vagam. Não consigo evitar lembrar do caminho árduo que percorri para chegar até aqui. Largar aquela cidade, aquele passado, foi o primeiro passo de muitos. Cheguei na capital com quase nada, sem saber o que esperar, mas com uma determinação feroz. Aluguei uma pequena kitnet, o suficiente para sobreviver, e encontrei um emprego como secretária em um escritório de arquitetura. Não era o trabalho dos meus sonhos, mas me permitia estudar à noite e me dedicar ao meu verdadeiro objetivo.

Depois de quatro anos de luta, finalmente me formei como arquiteta. Foram noites sem dormir, fins de semana sacrificados, mas valeu a pena. Pouco depois da formatura, consegui uma vaga na equipe principal do escritório onde já trabalhava. Os projetos começaram a surgir, um a um, e com eles, a realização dos meus sonhos. Há um ano, finalmente comprei meu próprio apartamento, este que agora me abriga, e também o meu primeiro carro. Ver como as coisas estavam se ajeitando, depois de tanta dificuldade, trazia uma sensação de conquista que eu mal podia descrever.

Saio do banho, me sentindo revigorada, e começo a me arrumar com mais calma. Cada passo da rotina matinal – a maquiagem, o café rápido, o escolher da roupa – parece parte de um ritual que me prepara para o que está por vir. Hoje, o escritório vai receber um novo cliente, alguém importante, e eu estou encarregada de apresentar o nosso trabalho. A expectativa de fechar esse projeto me traz uma animação que não sentia há muito tempo. Com a bolsa em mãos, saio do apartamento com a sensação de que o dia promete grandes coisas.

Entro no Starbucks, pego meu café fumegante, finalmente algo para me manter acordada depois de uma noite de merda. Quando estou prestes a sair, um desgraçado sem noção aparece do nada, esbarrando em mim com tudo, derrubando o café inteirinho na minha camisa branca impecável. Senti o sangue ferver na mesma hora.

— Cego por acaso? Ou é só burro mesmo que não sabe desviar de uma pessoa? — gritei, já pronta para esfolar o infeliz com palavras afiadas.

Olho para o idiota e, no instante em que nossos olhares se cruzam, meu corpo gela. Não... Não pode ser ele. Mas era.

— Júlia? Meu Deus, quanto tempo... — Ele me reconheceu, como se isso fosse motivo de comemoração.

Minha boca se abriu, mas nenhuma palavra saiu. Só uma maldita série de insultos que eu queria jogar na cara dele, mas me segurei. Não fala comigo, não fala comigo. Repeti isso como um mantra dentro da minha cabeça, desesperada para desaparecer. Me virei bruscamente e corri em direção ao meu carro, como se ele fosse o único lugar seguro do mundo.

Marcas do passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora