9- Primeiro dia de aula

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Respirei fundo e entrei portão adentro, caminhei com o coração na mão e girei a maçaneta com calma, abri a porta lentamente e então lá estava eu no meio da sala, minha mãe estava deitada no sofá vendo tv e ficou alegre quando me viu.
- Oi filha, achei que fosse dormir na Eli. Se quiser jantar ainda tem macarrão na cozinha.
Ela não falou nada? Ela está normal? O que eles fizeram? Isso é incrível, sorrio, agradeço e subo pro meu quarto.
Então eles realmente deram um jeito! E Eli? Será que ela também não se lembra de nada?
Pego meu celular, sem bateria, coloco pra carregar. O que será que eles falaram pra Eli?
Me jogo na cama e fico olhando o teto, é tão estranho ver meu quarto agora. Parece outro lugar. Levanto e caminho até o banheiro, me olho no espelho, olhos cansados, mas de resto ainda estou bem.
Tiro minhas roupas e entro no chuveiro, deixo a água lavar minhas preocupações, fico cerca de 40 minutos assim, sentada no chão do banheiro sentindo a água escorrer pelas costas e pensando em tudo que aconteceu.
Saio do chuveiro, visto uma roupa confortável, já me sinto revigorada, penteio os cabelos molhados.
Imagine living like a king someday, a single night without a ghost in the walls...
Meu celular toca, alguém está me ligando. Atendo.
- Alô?
- Meg sua mãe me contou da bolsa! Porque você não me contou? Poxa você passou o dia aqui em casa e não me falou, que ótima amiga!!
- Eli?
- Claro né, quem mais seria? Ou tava esperando a ligação de alguem?
- Não... De ninguém.
- Então me explica porque não contou?
- Porque... Porque...
Eu não sei o que falar. Pensa Meggan, uma boa desculpa!
- Porque...?
- Porque eu queria ter feito uma surpresa! Mas minha mãe estragou...
- Típico de dona Verônica! - Eli sorri do outro lado da linha.
Ela caiu nessa, ufa. Respirei aliviada.
- Porque você ligou? Podia ter mandado mensagem.
- Eu mandei mas alguém esqueceu que tem celular e não respondeu.
- Ah, foi mal. Estava tomando banho.
- De boa Meg, mas quando você vai pra lá?
- Amanhã começo.
- AMANHÃ?!?!?! - Escuto Eli berrar quase me ensurdecendo.
- Não grita! Sim, amanhã eu começo. Eu sei que é em cima da hora, mas eles quiserem começar meus estudos imediatamente.
- Caramba... Fiquei mal agora.
- Não fica mal, nos veremos ainda! Eu não vou morrer, só trocar de escola.
- Espero mesmo. Meg, preciso ir combinei de sair com uma galera, até mais.
- Tchau Eli.
Assim que ela desliga a ligação percebo ter algumas mensagens no celular. Provavelmente são da Eli.
Deito na cama ainda com o cabelo molhado e adormeço rapidamente.

                         ***
Acordei com o celular despertando, era terça-feira, primeiro dia de aula na escola para dons... Isso ainda soava estranho demais. Enquanto me arrumava fiquei imaginando como seria estudar naquele lugar, como seriam as aulas e como seriam os outros alunos que ainda não tinha visto.
Acabei em cima da hora de sair, coloquei o fone de ouvido e analisei minha lista de músicas, por fim escolhi Snuff do Slipknot.
O frio da manhã me abraçou junto ao frio da ansiedade que comecei a sentir, fiz o caminho que fazia para ir a minha antiga escola, passando pelo parque que eu tanto amava. Dessa vez não senti ninguém me olhando e nem surgiu nenhum garoto de cabelos vermelhos me chamando.
Lá estava vazio como todas as manhãs, as árvores balançavam com o vento fraco, alguns raios de sol atravessavam as folhas das árvores deixando pequenos filetes de luz, a cada passo que eu dava escutava o barulho das folhas e da grama sendo esmagadas.
Se eu tivesse um pouco de tempo desenharia aquela cena.
Quando cheguei ao fim do parque fui por outro caminho, o instituto era em outra direção. O nervosismo me tomou nessa hora.
Eu não sabia de que sala era, a única pessoa que poderia manter um contato seria com Sophia e eu não fazia menor ideia de como controlar meu dom.
Parei e respirei fundo, fechei os olhos e inspirei. Uma mão tocou meu braço. Parei a música e tirei os fones.
- Meggan?
Me virei e vi Sophia ao lado de Violet ambas usando uma camiseta preta com apenas um símbolo em cima do peito esquerdo, algo semelhante com um 'D' e um 'I' misturados.
- Oi Sophia, oi Violet.
- Você está bem? - Violet pareceu preocupada.
O que foi extremamente estranho, pois ela tinha tentado me queimar viva a muito pouco tempo atrás.
- Estou sim, apenas nervosa.
- Calma, quer ir com a gente? - Perguntou Sophia.
- Quero sim.
Caminhamos juntas até o portão do instituto, estava cheio de gente, uma variedade impressionante de pessoas. Alguns parados conversando, enquanto outros entravam.
O garoto japonês que tinha visto no dia anterior se aproximou de nós, não consegui recordar seu nome.
- Olá meninas. - Disse ele sorrindo.
- Oi Yuri. - Ambas falaram em uníssono.
- Oi. - Falei sem jeito ao me lembrar que ele tinha se afastado de mim ao saber que eu ainda não tinha sido analisada por Jhon.
Eles começaram a conversar mas não prestei atenção, viajei em pensamentos tentando imaginar como seriam as aulas e como seriam os dons de cada um aqui.
Após alguns minutos eles entraram e eu tive que ir a sala de Ronnie pegar meu horário. Ainda me lembrava corretamente dos corredores e escadas que precisava usar para chegar a sala dele. Bati na porta e ela se abriu rapidamente.
- Meggan, entre!
Ele foi até sua mesa e pegou uma folha.
- Aqui está seus horários, você vai ter aula de química agora.
- Química? - Perguntei meio confusa.
- Sim, ou você achou que aprendíamos apenas sobre os dons?
- Não.. Claro que não pensei.
Sim, eu pensei! Mas ninguem precisa saber, precisa?
- Sala 3, agora.
Me levanto com aquela folha na mão e desço as escadas. Achar a sala do Ronnie foi fácil, achar a sala 3 nem tanto.
Andei entre adolescentes barulhentos por uns 5 minutos até encontrar a sala certa, quando abri a porta já estava cheio de gente e o professor de olhos extremamente azuis e dentes pontiagudos já estava explicando algo.
- Ache um lugar e se sente.
Acho que o chateei por atrapalhar sua explicação. Todos os lugares estavam ocupados mesmo sendo uma sala grande. Os olhos dos outros me acompanhavam enquanto eu caminhava para a única carteira vazia daquela enorme sala, a penúltima da esquerda na frente de um garoto de cabeça baixa e touca cinza que desenhava concentrado alguma coisa na mesa.
Me sentei e esperei o professor retomar a aula.
Minha mente já tinha viajado por volta do mundo três vezes quando um sinal indicou o término da aula. Todos se levantaram e saíram depressa.
Peguei a folha de papel e olhei minha próxima aula, treino na arena.
Eu devo ter feito uma careta muito feia ou suspirado muito alto. Pois o garoto atrás de mim percebeu.
-
Q

ual é sua próxima aula? Pela cara deve ser matemática.
Aquela voz, eu sabia quem era. Ele levanta a cabeça e me olha. Andy.
- Treino na arena.
- É a minha aula preferida. Por que está preocupada com essa aula?
- Porque não sei controlar meus dons e muito menos lutar.
- Pra isso que essa aula serve, você não vai ter que lutar só vai aprender a controlar seus dons. Os combates são apenas nos finais dos bimestres. Vem comigo, também tenho treino na arena agora.
Ele sai da sala primeiro que eu, andando depressa. Meio caminho, meio corro, meio tropeço tentando passar pelo mar de pessoas e acompanhar Andy.
Adentramos a porta dupla de madeira escura e dentro da arena se encontra um grupo de adolescentes e um homem, provavelmente o professor, negro, olhos cinzentos e cabelo preto cacheado.
- Hoje faremos um combate para avaliar como vocês estão se desenvolvendo.
Combate? Sério?
Olho para Andy relembrando o que ele tinha me dito minutos atrás "você não vai ter que lutar... Os combates são no final dos bimestres".
Ele me olha, sorri e abaixa a cabeça.
- Você tem uma sorte impressionante. - Diz ele de uma maneira que me deu vontade de estapea-lo.
- É com toda a certeza, eu tenho muita sorte... - Digo sarcástica.
Respiro fundo assim que o professor pede para nos aproximarmos para ele montar o esquema de combates.

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