three - oceans

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Hoje recordei o dia em que me apercebi de que estava apaixonado por ti. Foi algo mágico. Algo que me pareceu acontecer lentamente, mas ao mesmo tempo, foi tão rápido que eu não fui sequer capaz de o impedir, e não seria nem mesmo se quisesse.

[Autumn]

Dei por mim a pensar em Matt. Na pessoa que ele foi um dia e na pessoa que ele se tornou. E apercebi-me de que não há sequer uma comparação possível entre ambos. É como se fossem duas pessoas completamente diferentes que não estão, de modo nenhum, relacionadas entre si. Uma das razões que me levou a essa conclusão é a simples maneira que ele fala ou reage a certas situações. Não me lembrava de Matt ter sequer um riso sarcástico e aparentemente é quase como se esse pequeno aspeto fizesse parte de toda a sua personalidade. É como se o próprio ar à sua volta tivesse também mudado. Como se o Matt que eu conhecia estivesse de tal maneira enterrado que não poderá sequer ser salvo.

Eu não conheço esta pessoa e não me lembro da última vez que algo me deixou tão triste. A melhor pessoa que eu alguma vez conheci desapareceu. Ele tornou-se frio, arrogante e incrivelmente irritante. Ele faz piadas sobre a nossa antiga relação e aproveita cada segundo para me atirar à cara que o deixei. Será que o Matty compreensivo que eu conhecia se foi mesmo? Será que ele é incapaz de perceber que o deixei porque não tive sequer uma escolha?

Respirei fundo. Tudo o que eu tenho neste momento são as memórias a que me posso agarrar. Talvez ele tenha realmente desaparecido e talvez eu tenha de me habituar a essa ideia, talvez o meu Matty não exista mais. Eu perdi-o e sei perfeitamente que toda a culpa é minha. Matt pode ter-se tornado um otário mas isso não faz com que deixe de ter razão. Se ele se tornou assim a culpa não pertence a mais ninguém para além de mim. E eu vou ter de viver com isso, vou ter de viver com o facto de que eu destruí a única coisa que trazia beleza à minha vida.

Quando me apercebi das horas já era tarde demais. Eu já estava 10 minutos atrasada para a aula. Corri o mais que pude para chegar à sala. Percorri todos aqueles corredores com a maior das velocidades e quando lá cheguei preparei-me mentalmente para o sermão que ia ouvir. Respirei fundo e bati à porta.

- Sim? - o professor do outro lado falou.

- Peço desculpa pelo atraso, Mr. Smith.

- A menina sabe que a aula começou há dez minutos?

- Sei, sim. Peço imensa desculpa, prometo que não volta a acontecer.

- Espero que sim - Mr. Smith respondeu e juro que pude ver um ligeiro sorriso nos seus lábios, que me deixou mais surpreendida do que nunca.

A aula continuou a decorrer normalmente e fiz tudo o que pude para prestar o máximo de atenção. Já tinha chegado atrasada, não podia também dar-me ao luxo de estar desatenta. A aula passou surpreendentemente rápido e quando dei por mim já todos tinham saído e eu continuava a tomar notas.

- Autumn, vejo que se aplicou ainda mais hoje. A menina faz-me lembrar de alguém que conheço.

- Posso perguntar porquê?

- Porque a menina cometeu uma falha e por causa disso está aqui a esforçar-se ainda mais do que alguma vez fez. É impressionante.

- Depende, nem sempre é uma qualidade.

- Que quer dizer? - Mr. Smith interrogou.

- Que por eu ter tanto medo de desiludir as pessoas isso faz com que muitas vezes me sinta obrigada a ser perfeita e não me permita errar. E digamos que isso torna tudo pior quando realmente o faço, a culpa toma conta de mim e é tudo o que eu consigo pensar.

- Percebo perfeitamente o que está a dizer. A menina faz-me lembrar muito a minha esposa.

- Fico lisonjeada. De certeza que ela é uma ótima pessoa - eu respondi sorrindo.

Trust (Autumn's Sequel) | MEOnde histórias criam vida. Descubra agora