Verbo-reagia

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Eu queria não pensar. Queria um botão de desligar. Preciso criar isso logo. Esse botão. Para momentos como esse. Em que a mente não desliga. Não para. Não fica quieta. Não cala essa boca. Será que alguém sabe como calar a boca de um cérebro? Preciso muito. Preciso urgente. Agora está sendo uma noite daquelas. Insônia. Insone. Insana. Muitas ideias. Muitas palavras. Muito texto. Muito conteúdo. Muito de tudo. Muitas imagens. Muitos sons. Muitos ecos. Eco. Por que isso acontece vez ou outra? Por que isso? Por que comigo? Por que hoje? Não poderia ser outra hora? Por que não é assim durante o dia? Por que espera escurecer. Por que espera eu não ter companhia? Droga. Raios. Onde estão os malditos palavrões nessa hora? Aliás, que hora está marcando agora? Ainda é cedo? Já tentei a televisão. Um filme. Um livro. Meditação. Olhar pela janela. Olhar para o teto. Fechar os olhos. Ficar de olhos abertos... E não piscar. Nada. Nada de sono. Nada de nada. Acho que estou pirando. Preferia febre e delirando. Ao menos estaria suando ou tendo calafrios. Até os calafrios calam. Menos essa coisa que me agita aqui dentro. Que coisa é essa? Excesso de doce. Excesso de tempo. Excesso de mim mesmo. Excessos. Excessos que não cometi. Que raiva. Disso. De mim. Dessa coisa não passar logo. Queria um pouco de silêncio. Não é fácil ficar sozinho quando isso acontece. Parece ter uma multidão irada aqui comigo. Ainda não pendurei os quadros. Preciso fazer isso também. Aliás, preciso de moldura para aquelas gravuras. Mas sem dinheiro para isso agora. Onde foi que coloquei o cartão de visita daquele advogado? Faz parte do protelar, perder sem avisar algo de que você precisa resolver sem querer que este fosse o caminho. Enfim... Vai ser assim mesmo. Chocolate. É disso que preciso. Não. Açúcar a essas horas não vai ajudar a dormir. Ao contrário. Um suco? Não, não. Melhor não beber ou comer nada. Vou precisar esperar no mínimo uma hora para me deitar. Vou deixar essa ideia de lado. Se eu fizesse outra coisa, poderia ganhar dinheiro. Tem mais coisas que eu poderia fazer para ganhar uma boa quantia de dinheiro. Por que eu não faço? Boa pergunta. Tão boa que fica a dúvida da resposta. O que é esse barulho que sempre vem lá de fora? Não me acostumo a ele. Barulhos intermitentes me irritam. Deixei a barra de chocolate em cima da mesa. E a mesa está logo aqui, nas minhas costas. Não olhe pra trás. Não olhe de novo pra trás. Quantos livros para ler. Por que não leio um por dia? Preguiça. Um pouco de falta de atenção. Esse tal deficit de atenção que eu sei que tenho, mas ninguém acredita. As impressoras estão sem tinta. Preciso olhar o preço dos cartuchos. Vai demorar um pouco. Sem dinheiro, por enquanto. Quando amanhecer vou ajeitar as coisas daquela caixa. Só falta isso pra terminar, definitivamente, a arrumação pós mudança. Nem sei se compensa, já que pretendo mudar novamente, e espero que seja bem em breve. Mas é bom arrumar. Vai que isso me dá sorte. Faz uma semana que essa caixa está ali, no canto da sala. Coitada. Opa! Vozes. Tem mais gente acordado. Sobre o que será que estão falando? Não, não consigo ouvir a ponto de entender o assunto. Amanhã preciso descer o lixo. Se bem que dependendo do horário que eu chegar, vai ser mais um dia em que o lixo vai ficar por aqui mesmo. Acumulando-se. Como eu. Duvido que ele tenha insônia por causa disso. Ou que se questione sobre quando vai parar no latão de lixo. Não deveria ter virado pra trás. Só um quadradinho. Só um. Um. Não vai passar desse pedacinho do chocolate. Ai meu pai, agora o açúcar vai chegar no cérebro, ativar minhas sinapses e sabe-se lá que horas eu vou conseguir dormir. Já nem sei mais se esse é o meu objetivo. Eu poderia aproveitar para escrever. Se conseguir ordenar as ideias, poderia render um livro. Nunca se sabe o que pode vir. O que pode acontecer... Sempre ouço dizerem que tudo pode acontecer. Tudo, menos o que a gente gostaria que acontecesse. Gostaria de dormir agora. Assim que deitasse na cama. Enquanto isso não acontece, poderia receber qualquer tipo de mensagem onde constasse um valor extra na minha conta corrente. Poderia acontecer de ganhar um brinde surpresa. Brinde. Não presente de grego. Não seria ruim se acontecesse de convocarem para ir a um lugar bonito, passar uns dias. Com todas as despesas pagas. Sonho de consumo. A mim caberia escolher ir de carro ou sobre duas rodas. Maravilhas poderiam acontecer, mas nada. É só a mente inquieta. Cheia de ideias. Cheia de ideias que ao amanhecer, terão preguiça de sair rumo às concretizações. Concretar dá trabalho. Coisa de pedreiro. Pôr a mão na massa. Serviço braçal. Preciso ser mais objetivo: dormir resolveria mais rápido esse caos total que é não calar os ditos incessantes desse cérebro, que é meu, e, às vezes eu não o suporto sozinho.

Maldita InsôniaOnde histórias criam vida. Descubra agora