Os primeiros raios de sol surgiram receosos atrás das pesadas nuvens que cobriam o céu aquela manhã. Eric já havia levantado há algum tempo para pastorear o rebanho de auroques da fazenda dos Amadeu. Já havia quase um ano que realizava essa atividade, desde que a saúde debilitada de seu avô passou a impedi-lo cuidar deles.
Auroques eram animais indóceis o suficiente para serem mantidos presos em uma cerca fabricada de diamante, a mais bela e poderosa pedra das Terras do Norte. Mas, por alguma razão, eles mantinham-se calmos na presença do jovem, o que facilitava muito seu trabalho.
Eric olhou para cima, tentando encontrar alguma brecha no emaranhado de nuvens escuras. E, apesar da entrada preguiçosa da luz, ele precisou cobrir seus olhos azuis, que arderam com a claridade. Todo ano o frio assolava as colheitas e mal sobrava comida para os animais. Desde que o inverno chegara, já havia perdido três de seus auroques para a fome.
A neblina que se formara desde a noite anterior era espessa, mas Eric pôde ver o caminhar do garotinho loiro, funcionário do jornal do vilarejo, descer a colina que separava a fazenda dos Amadeu do resto da população. Eric mordeu os lábios, preocupado com as notícias que leria.
Os auroques reagiram agressivamente com a presença do estranho, que não se abalou, já estava acostumado com a recepção grosseira.
– Olá, Eric! – o menino tocou a aba da boina cinza que usava para cumprimentá-lo, ao mesmo tempo em que remexia a bolsa abarrotada de pergaminhos para apanhar um exemplar do A Voz de Arzam. Eric se amaldiçoou silenciosamente por não recordar o nome dele para responder o cumprimento – São duas moedas de prata.
– Duas?– ele perguntou, apalpando os bolsos a procura de moedas– Até ontem não era apenas uma?
– Tempos difíceis– o garoto respondeu baixinho, como quem pede desculpas, e, então, estendeu a mão direita para receber o pagamento.
Eric o observou desaparecer entre as brumas, em seu caminho de volta ao vilarejo. Só quando o perdeu de vista foi que criou coragem para analisar as notícias que haviam surgido do dia anterior até ali.
Tempos difíceis.
Vende-se cães pastores, apenas 5 moedas de ouro cada.
Procura-se ferreiro especialista em fabricação de espadas. Vilarejo de Odin, Rua das Rosas Negras, 32.
Rei de Arzam assina lei que dobrará os impostos para agricultores.
Clã conhecido por Senhores da Morte ataca novamente.
Eric não pôde evitar o tremor que tomou conta de seu corpo ao ler a última notícia. Era o terceiro ataque ao Vilarejo de Odin em uma única semana.
Os Senhores da Morte, como foram apelidados os saqueadores, eram as criaturas mais desprezíveis que já percorreram as Terras do Norte. Entre roubos, mortes, estupros e sequestros, eles queimavam animais, envenenavam plantações e destruíam moradias seculares.
Apesar de toda a bagunça, nenhum dos exércitos dos quatro reinos conseguiam capturá-los. Fofocas, secretamente cochichadas ao vento, sempre davam a entender que na verdade eles seriam mercenários contratados pelos próprios reis, para dar fim naqueles que se tornavam um estorvo em suas despesas.
Eric sabia que sua fazenda se encaixava no padrão que estava sendo seguido pelo clã, mas ainda mantinha esperanças que eles fossem embora sem chegar até ali, considerando a distância considerável do vilarejo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A PEDRA DE SAFIRA #1: O Roubo da Fênix Dourada
FantasiPLÁGIO É CRIME. Capa: Matheus Alves Fang, a fênix dourada, coração de Aurum, foi roubada bem debaixo dos narizes da guarda real, despertando uma desavença secular entre um rei e uma princesa. Ao mesmo tempo, Eric, um simples camponês das Terras do...