Capítulo 14

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Primavera

14 de Abril de 1912

Louis

Os dias que se seguiram, passaram comigo fugindo e me escondendo.

Os Tomlinson's vinham à minha cabine todos os dias, mais de uma vez para conversar.

Mas eu nunca estava lá.

Passava o dia inteiro me esgueirando pelo navio, e só comia quando o salão já estivesse quase vazio.

Eu via Liam passeando com as garotas e Niall, de quem ele parecia ter ficado amigo.

Mas nunca falava com eles.

Nunca me aproximava.

E nunca permitia que eles me vissem.

Mas numa tarde o inevitável aconteceu.

Eu estava na proa do navio observando o sol se pôr, distraído e encarando o horizonte, sem querer olhar para trás.

Sem poder olhar para trás.

Porque se eu olhasse, veria que a vida que deixei para trás era tão vazia quanto a que eu tinha à minha frente.

Meus pais me renegaram, meus irmãos estavam melhores sem mim, eu não tinha amigos, e a única pessoa que eu queria não podia ser minha.

Então eu olhava para frente, dizendo para mim mesmo que nada poderia ser pior do que estar perto de Harry e não poder tê-lo.

Que ir para longe era a melhor solução.

E que se minha tia me mandaria para um sanatório como ela estava ameaçando, então eu devia aproveitar a vista antes que não pudesse mais apreciá-la.

Estava tão distraído que só percebi que havia alguém ao meu lado quando uma mão grande foi posta sobre meu ombro.

Fiquei tenso no mesmo instante e virei o rosto assustado para encarar Mark que sorria calmo.

Quando tentei me afastar dele sua mão apertou meu ombro, não com força para me machucar, mas só o suficiente para me manter parado.

- Nós podemos conversar? - ele perguntou gentil.

Franzi o cenho confuso e engoli em seco nervoso, mas acabei assentindo quando percebi que não fazia sentido ter medo dele.

Que o máximo que ele poderia fazer era tentar me jogar do navio, e talvez no fundo isso não fosse ser tão ruim.

- Claro - respondi num sussurro.

O sorriso de Mark aumentou e ele tirou a mão do meu ombro se inclinando sobre as grades ao sua frente e descansando os cotovelos na mesma.

- Eu gostaria de lhe perguntar algo - ele começou a falar devagar - Mas antes, preciso contar uma história.

Um pouco receoso me aproximei e descansei os cotovelos nas grades ao seu lado, e fiquei esperando que ele falasse.

- Conheço minha esposa desde os onze anos - ele começou a contar - Eu estudava com um de seus irmãos, e passei a maioria dos verões da minha vida hospedado na casa deles.

Mark sorriu como se estivesse lembrando de algo e seus olhos brilharam enquanto ele olhava fixamente para o sol que estava se pondo.

- Ele era meu melhor amigo, um irmão que nunca tive - ele continuou emocionado - Nós tínhamos um outro bom amigo, Charles, que era de uma família tão boa quanto a deles e tinha tanto dinheiro quanto qualquer um de nós, e ele era muito bonito, do tipo que fazia as garotas suspirarem - ele falou rindo - Mas bem, ele não estava interessado em nenhuma delas, ele gostava de garotos, de um especificamente, e bem esse garoto específico gostava dele de volta.

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