Capítulo 21

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Inverno

20 de Janeiro de 1919

Louis

Provavelmente teríamos passado todo aquele inverno jogados no feno daquele celeiro frio, mas uma tosse inconveniente deixou Harry preocupado e acordou o bebê que dormia entre nós dois.

Estávamos deitados, contando tudo que havíamos passado durante os anos em que estivemos separados.

Tudo de bom, já que nenhum de nós parecia pronto para perguntar sobre as tragédias que assolaram nossas vidas.

Harry me contou sobre Edward, o amante de Georgia, com um sorriso no rosto, e garantiu que eles haviam sido bons amigos.

Eles haviam se conhecido quando se voluntariaram para lutar na guerra, Harry não foi aceito por conta de sua doença, mas Edward e ele haviam criado um laço que se estendeu para algo muito além do que qualquer um deles poderia prever.

Gostaria de ouvir tudo, até as partes ruins, mas minha tosse não passou, e o choro do bebê foi a desculpa perfeita para entrarmos.

Os modos de Harry não haviam mudado com o passar dos anos, ele ainda parecia não ter filtro, e durante o jantar aproveitou a presença de todos para perguntar sobre minha saúde, sabendo que se me perguntasse em particular eu provavelmente diria que estava bem.

Danielle, no entanto estava contentíssima por ter algo para dizer, e não perdeu tempo em elaborar um extenso monólogo sobre como as águas geladas do Atlântico Norte haviam me feito mal.

Após o jantar Harry ajudou Eleanor a pôr todas as crianças na cama, e Danielle logo se retirou alegando não ter conseguido descansar à tarde da viagem.

Eu, no entanto me sentia um pouco eufórico demais para sequer conseguir sentir sono.

Havia algo muito bonito no modo que Harry tratava todas as crianças, nenhuma delas era sua, mas isso não era importante, ele amava todas elas igualmente.

- Eles chamarão você de pai - falei quando Harry saiu do quarto, deixando Eleanor terminar de contar uma história para dormir.

Ele franziu o cenho, e pôs uma mão na minha cintura me incentivando a ir em direção as escadas.

- O que você quer dizer? - Harry perguntou confuso.

- Os filhos do meu irmão - expliquei - São novos demais, talvez comecem a chamar você de pai.

Harry negou com um aceno de cabeça, mas havia um resquício de sorriso em seus lábios, como se a ideia não lhe parecesse tão errada.

- Não me importo muito em como eles me chamam - ele disse no entanto - Eu os amo como se fossem meus.

- Eu posso ver - respondi orgulhoso.

- E você? - Harry perguntou baixinho - Quer ter filhos?

- Talvez eu roube um dos seus - falei brincando - Você tem muitos.

Harry sorriu desacreditado e de uma hora para outra seu semblante mudou, ele mordeu os lábios, não de um jeito sensual, mas como se estivesse nervoso.

- Gostaria de lhe mostrar algo - ele disse incerto - Se você puder me acompanhar.

- Claro - respondi sem hesitar.

Harry ponderou por um segundo, e suspirou. Ele parecia estar travando uma pequena batalha interna.

- Teremos de sair - ele explicou - Isso não vai fazer mal a você?

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