Aracnídeos do Submundo

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Chego em casa jogando a mochila na mesa e os tênis em qualquer lugar, corro para pegar qualquer coisa na geladeira para não precisar sair do quarto depois. Ligo o computador e faço uma chamada de vídeo para o Lúcio.

Ele atendeu rápido, conversamos sobre tudo que tínhamos para falar, depois passamos para os jogos, falamos até da Mel, porém ele ficou diferente. Então mudei de assunto. Já são quase três da manhã, meu olhos estavam quase fechando sozinhos e também não dormi noite passada, então estou acabado.

— João, não vá dormir agora. — ele tenta me manter acordado. — É o meio da rodada, se completamos ficaremos em primeiro lugar.

— Tudo bem, vou ficar acordado.  — bocejo. Sinto meu corpo ficar mole a cada momento que passar, já não raciocinava direito e simplesmente apaguei.

— Humhumhumhum… — eu conheço esse som. Abro os olhos e vejo a garota me empurrando para acordar.

— O que? Que lugar é esse? — minhas vistas ardem, quando as coisas ficam mais nítidas noto que estamos numa espécie de caverna, cheia de teia de aranha e pequenas poças no chão. — Você me trouxe para cá?

Ela nega. Não estou com tanto medo dela agora.

— Que... Qual seu nome? — tiro a mexa de cabelo do rosto dela. Ela é linda como no desenho. Como não pude perceber isso antes? — Nossa, você…

Ela se assusta com alguma coisa e levanta assustada, depois sai correndo para dentro da caverna.

— Ei! Espera! — tento me levantar, mas alguma coisa prende minhas pernas. — Mais que merda! — elas estão enroscadas em teia de aranha. — Merda! 

Um barulho de inseto invade o local. Meu coração acelera quando vejo uma puta aranha em cima de mim. Ela tem o triplo do meu tamanho, me engoliria fácil. Tento sair dali sem fazer movimentos bruscos, porém ela pula para mim frente ficando face a face comigo.

Não é bem uma aranha comum, metade do corpo dela é de uma mulher, isso é bem assustador. A coisa começa a abrir a boca devagar e lá dentro tem um par de olhos que quando abrem imediatamente ouço um grito muito alto.

— Ah! — estou de volta ao quarto, no chão olhando para o teto. — Ai, ai, ai...  — É, consegui cair da cadeira.

— João ? Que que foi isso? — Lúcio ainda está na chamada. — Eu tô chamando você à vinte minutos.

— Eu acho que apaguei sem querer... Ganhamos? — pergunto voltando à tela do computador.

— Claro que não! Você dormiu. — ele ri meio zangado.

— Eu tive um sonho muito estranho.

— Sonhou que estava sendo perseguido por garotas?

— Não foi isso... — contei para ele do sonho. — Não sei o que está havendo comigo.

— Cara você é completamente biruta, — Lúcio diz após um longo silêncio. — mas sei como se sente, te falei que tive vários sonhos assim também.

— Mas é diferente.

— Talvez. — ele ri.

Desligamos a chamada poucos minutos antes de sairmos para o colégio, me sinto aliviado por poder dividir meus sonhos com alguém e não me acharem tão maluco. Passei a aula desenhando o rosto da garota. Agora que vi o rosto dela completo não consegui esquecer.

Mel sentou sozinha no intervalo de novo. Queria ter sentado com ela, mas seria desesperado de minha parte insistir tanto.

— Bom dia classe, hoje nós vamos para o laboratório estudar insetos e aracnídeos. — diz o professor Sidney ao entrar na sala.

Ele nos pôs em fila para sair da sala, o laboratório ficava no fundo da escola, separado das turmas caso houvessem catástrofes que prejudicasse a escola.

Bem equipado esse laboratório, nunca vi um assim nas outras escolas. Sidney pediu para que fossem todos para os lugares, uma dupla em cada bancada.

Ele foi tirando vidros com diversos insetos e aracnídeos em uma espécie de gelatina transparente e passando os potes até todos terem um. Eu e Lúcio ficamos com uma tarântula e umas outras aranhas menores. É, aranhas de novo…

— Professor, não teria outro pote, não? — levanto a mão.

— Infelizmente não há nenhum outro. Problema com esse, senhor Reis?  — ele sorri e a turma dá pequenas risadas também.

— Não, nenhum.

Lúcio riu um pouco também.

— Seu sonho se tornou realidade amigo. — ele sussurra quando a turma se acalma e o professor começa a falar.

— Creio que sim. — olhando assim, aranhas não são assustadoras. Fiquei um bom tempo olhando para elas, até perceber um leve movimento de uma das patas da tarântula. Levanto a mão.

— Diga João. — o professor fala com preguiça.

— Elas estão mortas mesmo? — a turma começa a murmurar.

— Claro que estão. — ele volta a falar do sistema digestivo dos insetos em geral e logo depois das aranhas..

Fico mais atento ainda esperando alguma coisa se acontecer. Mexeu novamente.

— Certeza absoluta de que estão mortas? — interrompo sem levantar a mão.

— Sim, mais uma gracinha e o senhor vai dar uma volta na sala da diretora. — ninguém reagiu .

— Lúcio fique olhando. — puxo-o pelo casaco sofisticado dele.

— Não aconteceu nada cara. — assim que ele falou duas patas se mexeram dessa vez.  — Nossa…

Tivemos que ficar calados até o fim da aula. Ela não se mexeu mais depois, mas aquilo foi assustador. Voltamos para a sala de aula comum depois que terminou a aula no laboratório.

— Será que vimos coisas? Tipo aquela aranha está morta a séculos. — Lúcio comenta quando tomamos o lugar habitual.

— Não sei, talvez. — suspiro. — Não vejo a hora de ir para casa.

— Eu também. Quem é ela? — Lúcio vê meu desenho em cima da matéria.

— É a garota. — ele pega a folha de mim.

— É bem bonita, se bem que, ela parece um pouco com você. Eu acho. — ele comenta colocando a folha do desenho ao lado do meu rosto. — É são parecidos.

— Talvez... — digo olhando para o papel devolvido e sorrio.

— Você tem alguma irmã ou prima? — Lúcio pergunta.

— Não que eu saiba... — isso me deixou pensativo.

— Pensei isso por achar vocês muito parecidos. — ele conclui. Os últimos dois tempos passaram rápido e já é hora de ir embora.

Preguiça de andar para casa, mas tanto faz. Não estou com pressa de chegar. Vejo Mel atravessando a rua. Queria tanto... Quer saber, vou falar com ela.

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