Capítulo Único

532 50 41
                                    

Cristina estava deslocada, se sentia sozinha e nem mesmo o show sendo ótimo a animou para continuar ali. Garanhuns não poderia estar mais frio, e já que levou um bolo do namorado, decidiu que já passava da hora de voltar para casa e fazer uma bela maratona de séries.

Saiu da área do show, e lá estava ela andando toda encolhida, fungando como nunca, enquanto um vento gelado vinha em sua direção e para piorar estava em uma rua deserta. Só me falta ser assaltada, pensou ela, e como a Lei de Murphy nunca erra, percebeu que alguém a seguia, os passos eram rápidos, por isso cuidou de correr, estava com medo e se perguntou por que não tinha ligado para o pai lhe buscar, mesmo morando uma rua atrás da casa de shows e como toda garota de 17 anos queria se sentir dona do próprio nariz. Mas tinha que ser uma abestalhada, se xingou. Mas voltou a respirar quando virou a esquina e estava na sua rua, só tinha que gritar e o vizinho barraqueiro dela iria aparecer na hora, talvez eles iriam ser rendidos, mas não ligou, o vizinho tinha cara de rico e o assaltante iria querer ele.

Mas não deu tempo porque o cara envolveu sua cintura com os braços e sussurrou:

- Não faz escândalo - quando ouviu aquela voz, seu desespero se transformou em raiva, se virou para André irritada.

- Nunca imaginei que era tão difícil perseguir a namorada.- disse ele ofegante pela corrida.

- Nunca mais faz isso. - ela disse lhe dando um tapa no ombro dele - Além de me dar um bolo, tinha que me assustar assim.

- Se te consola, você fica linda correndo. Desculpa, amor - disse ele sorrindo, e se aproximando para beija-lá.

Mas não deu muito certo, porque um espirro veio bem na hora, e acabou acertando André, fazendo ele se afastar com nojo, e Cristina colocar a mão na boca surpresa, não sabia como encarar ele depois daquilo.

- Desculpa, e boa noite.- ela disse com um sorriso forçado e correndo para dentro de casa morrendo de vergonha.

***

O perfume inebriante da chuva era algo que Cristina amava, como gostava de sentir aquele cheiro de planta molhada, como gostava de observar o quanto linda e forte a chuva poderia ser, ficou estática encarando pela janela da sala a chuva que batia contra o vidro.

Amava o inverno, mas odiava quando vinha a mudança de clima e o resfriado vinha junto, estava lá deitada no sofá da sala, enrolada em um quentinho edredom, com um pijama bem confortável, em um dia normal seria ótimo, mas como estava resfriada seu corpo doía, ficava fungando como nunca, e estava sozinha em casa, já que seus pais estavam trabalhando, e mesmo de férias estava sem ânimo para fazer nada.

Até que ouviu a campainha, se levantou toda preguiçosa e foi ver quem era, primeiro abriu a pequena janela que tinha na porta, não iria correr o risco de ser assaltada, mas era André todo encolhido com um guarda chuva rosa.

- Dá pra me deixar entrar, ou vai me deixar morrer. - disse André todo dramático, Cris sorriu com aquilo, amava o jeitinho dele, abriu a porta e ele fechou o guarda chuva.

- Você deveria parar de usar o guarda chuva da sua irmã e comprar um pra você. - Cris disse enquanto fechava a porta.

- Você se esquece minha cara que eu sou um irresponsável, que fica correndo atrás da namorada. - André disse, com aquele sorriso que fazia Cris quase derreter, se não fosse o fato de estar brava com ele.

- Nem me fale disso.- ela disse irritada, enquanto tirava o edredom do sofá e se sentava, e André fez o mesmo- E você ainda não me disse por que me deu bolo lá no show.

- Porque eu estava me arrumando para você. - ele disse segurando a mão de Cristina e a beijando- Me perdoa.

Cristina soltou um pequeno sorriso, sabia o quanto André gostava de estar bem arrumado, principalmente, quando saiam juntos, e como ela gostava de sentir o perfume dele quando se abraçavam.

- Vou pensar. - ela disse, mas os dois sabiam que o assunto já estava resolvido.

Ficaram por alguns segundos quietos, até André pegar um dos lencinhos de Cristina e soltar um espirro estridente.

- Isso é que dá levar um espirro da namorada. - disse ele, se referindo a noite passada e soltando mais outro espirro.

- E eu lá iria saber que você iria ficar resfriado. - ela disse, sentindo o rosto queimar de vergonha, se sentiu meio culpada por André está assim.

- Quer saber, vamos cuidar um do outro.- Cristina disse para André, se levantando do sofá e o puxando pelo braço até a cozinha.

Nem Cristina e André sabiam cozinhar algo, mas uma coisa ela sabia fazer, e assim cuidou de fazer um de seus lanches favoritos, enquanto André preparava um chá de erva doce. Quando terminaram levaram para comer na sala, não quiseram assistir nada, só ficar conversando e escutando o barulho da chuva que continuava intensa.

- Não sei como você gosta disso. - André disse, enquanto tomava um gole de seu chá.

- Pepino com queijo ralado, é uma das melhores iguarias. - Cris disse pegando a rodela de pepino com queijo ralado e dando uma mordida, como ela gostava daquilo, quem diria que em uma tarde sem nada para fazer descobriria isso, André sorriu e comeu também, aprendeu a gostar daquilo com Cristina.

Eles conversaram, soltaram alguns espirros e riram muito, uma simples tarde de casal, com os dois se transformava na melhor tarde. Até que o assunto faltou, André ficou encarando o nada e Cristina sabia que ele estava tendo alguma ideia.

- Quer saber, era para a gente ter se divertido, dançado e cantado muito ontem.- André disse encarando rapidamente Cristina, mas voltou sua atenção para o criado mudo que ficava de frente ao sofá e pegou seu celular, Cristina não sabia o que ele estava aprontando, quando terminou, afastou o mesmo criado e o colocou em um cantinho, depois encaixou o celular no som.
- Vem vamos dançar forró. - ele disse sorrindo, estendendo a mão para Cristina, ela aceitou mas duvidou um pouco.

- Mas você nem gosta de forró. - ela disse ainda espantada. Cristina e André poderiam ser parecidos em várias coisas, menos no gosto musical, ela amava músicas regionais e MPB, já ele gostava de internacional.

- Eu aprendo a gostar por você. - ele disse soltando um pequeno sorriso.

Então colocou para tocar a música Flor de Tangerina , no começo da música Cristina tentou ensinar forró para André, mas ele era péssimo, seus pés que o digam, depois decidiram ir em um ritmo de quase valsa.

Os braços de André envolveram a cintura de Cristina, e os braços dela o pescoço de André, encostaram a testa um no outro, e com os olhos fechados aproveitavam o ritmo e a paz daquela música.

- E dessa vez bem mais que linda. - André cantou em um sussurro, acompanhando o ritmo da música, fazendo Cristina sorrir, como era apaixonada por ele.

Quando a música terminou, André se afastou um pouco para encara-lá, e depositou um suave beijo em sua testa.

- Está comprovado. - ele disse sorrindo

- O quê?

- Esse foi o melhor resfriado que eu já peguei.

ResfriadoOnde histórias criam vida. Descubra agora