Capítulo 05 - Rasputin

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 Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado. Lo-li-ta: a ponta da língua toca em três pontos consecutivos do palato para encostar, ao três, nos dentes. Lo. Li. Ta.


Em meio aquela gélida e taciturna noite russa, era possível ouvir, de uma das casas mais escondidas e afastadas da cidade de Moscou, uma voz rouca e arrastada proveniente de um homem. Ele lia, recitando o trecho de um livro, saboreando cada palavra em sua boca, degustando os seus trechos preferidos. Sua voz reverberava pela rua, como um canto fantasmagórico, podendo ser ouvida por quem quer que passasse.


O homem, que tinha passado grande parte do das últimas horas andando de um lado para o outro em sua sala de estar, se direcionou ao sótão, sempre permanecendo com o pequeno livro entre as mãos. Ele abriu aporta do lugar, que havia permanecido cuidadosamente fechado a sete chaves desde todos os seus preparativos. Ele acendeu as luzes, e finalmente pôde olhar para o que considerava seus mais preciosos tesouros.

Suas bonecas.

Ele parou, e estudou-as. Tivera um grande trabalho, e algumas delas foram bem complicadas de se conseguir, mas agora que observava o resultado final, ele estava orgulhoso. Todas estavam delicadamente arrumadas, maquiadas e penteadas. Para ele não estavam mortas, mas sim em em um sono eterno, preservando sua jovialidade, e o auge de sua beleza.


— Vocês estão lindas minhas queridas. - ele disse alegremente, sentando em um banco, que estava disposto a frente dos corpos das jovens moças.

Um sorriso misterioso, quase esfíngico, brotou em seus lábios.


— Olhe o que trouxe hoje para vocês! - ele então exibiu o livro que tinha entre as mãos – Estão prontas para nossa leitura de hoje?


 ♔♕♔ 


"— Quem és tu? - perguntou-lhe o velho homem a sua frente.

— Eu me chamo Grigori – respondeu o jovem de cabelos negros e estatura esguia – Grigori Rasputin.

— E então jovem Rasputin, a que devo sua presença aqui no Mosteiro de Solovetsky?

— O óbvio senhor, eu quero ser um monge.

O ancião deu uma risada, como se acabara de ouvir a mais engraçada das piadas.

— Você tem certeza disso?

— Sim. - Rasputin disse quase desesperado.

— Você sabe o que implica ser um monge? Sabe as exigências que a vida monástica vai lhe requerer?

— Sim, senhor. Por favor, eu lhe peço, deixe-me ficar aqui.

— Ser um monge é renunciar a si mesmo e aos bens que poderia obter para si no mundo. - prosseguiu o velho homem, como se não tivesse escutado ao apelo de Rasputin – É resistir a sofrimentos e tentações. É estar em um constante caminhada em busca da sabedoria espiritual. É ser livre para encontrar e amar a todos. Você compreende jovem Rasputin?

— Sim. Então... - ele disse ainda impaciente – eu posso ser um monge?

— Se é isso que você deseja. - disse o velho – Agora diga-me Rasputin, diga-me, porque um jovem como você deseja levar um vida como essa?

Bonecas RussasOnde histórias criam vida. Descubra agora