11 de julho, Paris.
Querido Mathias,
Espero que quando esta chegar a suas mãos e o mel dos seus olhos lerem essas mal-traçadas linhas você encontre-se gozando de perfeita paz e saúde.
Essa deve ser a décima quarta carta que te escrevo e, até o momento, nenhum retorno seu. Prefiro acreditar que ainda resida no mesmo endereço que me enviou a última correspondência.
Ficarei extremamente feliz se dessa obter respostas.
Paris é uma cidade fascinante. Você iria gostar de conhecer. Já estava desiludido em escrever-te. Mas, hoje, enquanto caminhava pelo Bouvelvard St-Michel admirando a bela arquitetura, fui abatido por recordações de tempos que não voltam mais.
Perdido em pensamentos cheguei ao Quartier Latin, o lado mais intelectualizado de Paris, pelos arredores há vários cafés e sorveterias. É em um desses cafés que te escrevo.
Gostaria tanto de ver-te frente a frente, sentir o seu cheiro, o seu toque, ver sua dança, ler seus poemas, beijar-te, ter-te em meus abraços.
Creio que esta é mais uma forma de solicitar de você perdão. Perdão pelo passado, por nos ter permitido abandonarmo-nos.
Não quero lamentar e dizer que se voltasse no tempo faria diferente. Você me conhece melhor do que ninguém. Sabe que não faria nada diferente. Que sou de me arrepender do que não fiz e o que está feito, já era. Porém, se eu estivesse com esses 40 anos – mais maduro, não desperdiçaria nenhum segundo ao seu lado.
Ainda tenho em minha carteira a velha fotografia – amarelada pelo tempo. Aquela de nós em seu aniversário de 22 anos.
Querido Mathias, muita coisa mudou ao passarem os anos, mas o meu amor por você não. Ele continua vivo a cada pulsar do meu coração, a cada respiração, a cada por do sol dessa linda Paris, em cada café...
Sinto-me como um garoto extremamente apaixonado no auge dos meus 23 anos. Recorda-se quando te escrevia sentimentalidades em letras garrafais para que você pudesse compreender, pois sempre me aconselhou a fazer um curso de caligrafia? (Risos saudosistas).
Querido Mathias, apesar dos anos e de toda sabedoria adquirida, continuo o mesmo moleque abobado, atrapalhado e, apaixonado por música popular brasileira – ainda tenho os discos de Maysa.
Ah, espero que tenha gostado da fotografia da Torre Eiffel junto à carta. Essa capital francesa é apaixonante. Talvez, por isso, tenho viajado no túnel do tempo de minhas lembranças.
Mathias, meu amor, não estou escrevendo para que regresses aos meus braços, nem que fique comovido com a minha solidão.
Só desejo saber notícias do Sul do Brasil. Só quero saber de você, dos seus dias...
Despeço-me, pois as lágrimas insistem em rolarem. Você sabe como sou – sempre brigo com as lágrimas.
Beijos, do sempre seu Paulo.
PS: Há tanto tempo eu te amo!
