Essa não é uma tragédia!É minha história de amor que vivi com Roy.Muitos me condenam, mas isso não me faz tanta diferença, pois me sinto como se estivesse sem vida, sem ar... Talvez, por puro capricho, ou então, paixão aguda. Tudo aconteceu de forma platônica. Não me recordo de planejar tamanha façanha. Quando dei por mim tudo já havia acontecido. Foi tão de repente, igual quando nos olhamos pela primeira vez.Escrever tem consumido os meus dias. Só assim consigo um pouco de paz interior. Escrevo agora para entender o que aconteceu, pois compreendendo mais um pouco, quem sabe, liberto-me de toda essa mágoa, toda dor, toda angústia, de todo esse amor...Naquela noite os nossos caminhos estavam cruzados pelo destino sem ao menos percebermos tudo o que nos aconteceria. Tem certos dias que não terminam como o que planejamos. Confesso que amei, amei, amei, amei, amo...Recém-formado em jornalismo fui encarregado em fazer a cobertura de um renomado evento na cidade vizinha. Uma feira agropecuária de grande porte. Já estava escurecendo quando terminei o banho. Troquei-me e juntei minha "parafernália" para tal cobertura. Ascendi um cigarro e caminhei em direção ao meu carro (esse, presente da minha mãe, em comemoração a minha graduação). Segui estrada a fora até o meu destino.No intervalo entre as provas de montarias e o show principal revolvi visitar as exposições. Fiquei alguns minutos vislumbrando os traços de cada pintura de um artista plástico. Sem querer esbarrei-me num jovem que estava ao meu lado. Desculpei-me e envergonhado saí dali. Percebi que enquanto eu caminhava ele me fitava de longe... perdi seus olhos em meio a multidão. Confesso que durante toda à noite eu buscava encontrá-lo. Mais foi em vão. Eu já tinha como filosofia de vida que o que é pra ser seu, será.Durante as próximas duas noites do evento não o vi, nem de perto, nem de longe. Mas sua imagem não saia da minha mente. A única certeza que eu carregava comigo naquela última noite da feira é que, eu estava ali para trabalhar e não ficar flertando com um desconhecido. Isso é o que eu falava pro meu ser racional, porém o meu ser emocional insistia em procurá-lo. Ele tinha um jeito peculiar e foi aí que descobri que ele era diferente dos demais.Por alguns instantes resolvi esquecer os olhos negros que no primeiro dia me fitou. Fui conversar com a equipe organizadora do evento para prometer que em dois dias todo o material que eu estava produzindo estaria em mãos. Despedi-me e fui comprar uma bebida, já que não estava mais a trabalho - resolvi aproveitar um pouco da festa.Cansado fui em direção do meu carro, quando de longe, em meio ao escuro, avistei alguém em frente do meu carro. Caminhei lentamente e, para minha surpresa, quando me aproximei era ele. Fiquei sem ar, sem ação, sem saber o que fazer.- Oi!- Oi!- Qual o seu nome?- Neruda. E o seu?- Roy.- Você está saindo com alguém?- Não.- Por que não? Você é tão atraente!Comecei a rir, pois não espera ouvir tal resposta. Já estava confuso com a direta. Desculpei-me pelo riso e expliquei que não imaginava ouvir aquela sentença. Ele sorriu. Recordo-me que há um segundo mal nos conhecíamos, no seguinte, estávamos nos beijando – sem nenhum tipo de medo, sem nenhum pudor, livres e soltos. Seus lábios eram macios e doces. Roy era extremamente apaixonante, de coração puro.Dias depois, me lembro com exatidão, de quando Roy foi se despedir e eu, olhando em seus olhos, disse: - Desculpe-me, eu gosto de você! Ele não respondeu e seguiu o seu caminho. Durante alguns dias não nos vimos mais. Não me telefonava, não me dava sinal de vida, não me procurava. Passei dias angustiantes em busca de notícias, mas não queria fazer o tipo grudento. Preferi não procurá-lo também. Em algum momento ele retornaria aos meus braços. Passava às noites deitado no sofá da sala olhando para o teto e pensando em nossas vidas. Evitava pensar naquele ser que me tirou o ar. As cenas insistiam em repetir e por mais que desejasse ou tentasse afastar os pensamentos eles permaneciam ali como um filme.O certo é que eu não sabia como me expressar ou demonstrar tal sentimento que nutria por Roy. Hora culpava-me por isso e em segundos perdoava-me pelo meu jeito estranho de amar. Só sei que o amava...De repente você se apaixona e acredita fielmente que ele é o cara certo pra você. Mais repentinamente ainda você percebe que o que gostaria que fosse eterno chega ao ponto final – é o fim do sonho. Envolvemo-nos sem pensar na separação, porém ela é inevitável.Roy não tinha se manifestado ainda, mas eu acreditava com todas as letras que seria o fim da nossa relação que já perdurava por mais de três meses. Em nenhum momento cogitava que Roy poderia ter outro. Isso seria muita tortura para minha alma. O certo é que ele desaparecerá e eu não sabia mais o que fazer.Deixei o orgulho de lado para procurar por Roy. Ainda não sabia o que dizer quando o encontrasse, mas estava encorajado a seguir em frente. Chegando a casa dele a porta estava aberta. Um silêncio total. A sala estava bagunçada – com latas de bebidas espalhadas pelo chão. Caminhei pelo corredor que terminava na porta de seu quarto.Para minha surpresa a porta do quarto estava entreaberta e com pouca luminosidade. Segui lentamente, nas pontas dos pés para não fazer barulho. Roy poderia estar dormindo e não gostaria de incomodá-lo, atrapalhar seu sono.Fiquei estático com a cena que vi. Roy estava nos braços de outro. Não gritei, não chorei, não esperneei, não me culpei; não culpei nem ele, nem o outro e nem a mim. Virei às costas e segui embora. De volta pra casa, debaixo de chuva.Naquela madrugada fria só precisava de um abraço. Às vezes um abraço vale mais que mil palavras. Silenciei-me no quarto escuro. Cheguei a cogitar que no amor deveria existir uma lei onde todos os casais fossem felizes para sempre.Dias depois resolvi procurar o Roy para conversarmos. Talvez nós não tenhamos escutado um ao outro por conta da sede de estar pele a pele. Temia que a cena se repetisse quando chegasse à casa dele. Minha mente maquiavélicamente, durante o percurso, fez com que eu passasse a odiar o Roy a cada vez que me recordava de ter visto ele nos braços de outro.De longe eu ouvi risos, conversas... já sabia que Roy estava acompanhado. E, para mim, não me importava com quem. Eu iria terminar com aquela história naquele exato momento.Abri a porta da sala e lá estava ele com outro homem, não o daquela noite, mas com outro. Percebi que Roy era promiscuo. Quando Roy me viu entrar não disse nada, não explicou nada... E eu não deixei brechas para que ele ou o companheiro pudesse se manifestar.Saquei o meu Winchester 22 do bolso e mirei em sua testa. A cena se congelou, pois os dois não sabiam o que fazer. Eu já não tinha certeza se teria coragem de acionar o gatilho. As cenas em minha mente repetiram diversas vezes até o instante... Bang! [...] Vi Roy tornando-se apenas um corpo esticado no chão. Tenho certeza que foi indolor comparado a dor que se alojou em meu coração.Hoje, não há mais preocupações, a sala está fazia, o sol está quadriculado. E, quando me questionarem o motivo de tanto amá-lo irei responder que ele sempre foi ele e eu sempre fui eu.