Tocou a campanhia, ascendeu um cigarro, ficou a esperar por alguém que viesse abrir o portão e pudesse adentrar a humilde residência. Era a primeira vez que estava indo a nova casa de sua amiga. Tragou velozmente o cigarro para dar tempo de ter acabado de fumar quando ela o encontrasse. Ouviu uma tosse rouca sem saber identificar de quem era. Logo Guilhermina apareceu e abriu o portão. Simpática - como sempre - pediu para que entrasse.
Atrás daqueles altos muros continha uma bela área, com um pequeno jardim cheio daqueles anões decorativos – até mesmo uma miniatura de um cavalo e um boi. Deu de cara com um loro e no fundo do quintal um galinheiro. Seguindo os passos de sua amiga chegou à porta e entrou na ampla sala com uma TV enorme na parede, dois sofás dispostos de forma que privilegiassem olhar para a TV e para fora da casa. Sentou-se. Guilhermina pediu alguns segundos, pois iria banhar-se.
De repente surge Thomas. Inexplicavelmente sentiu seus músculos contraírem-se, coração acelerar, pernas bambearem, mãos suarem frias. Olhou fixamente em seus olhos sem nada dizer. Thomas sem falar nada se sentou no sofá à direita. Fixaram os olhos na TV que anunciava as notícias do dia. Como quem quer começar um diálogo Thomas comentou sobre o tempo. "- Que dia frio faz lá fora. Hoje deu no jornal que vai chover novamente."
Permaneceu em silêncio. Disfarçadamente olhava para Thomas (a cor de seus cabelos, os seus olhos, sua boca, a cor da sua pele, seus braços, suas pernas, pés - pois ele estava de chinelos). Thomas percebeu que cada centímetro do seu corpo estava sendo milimetricamente investigado. Ficou sem jeito. Sorriu. Levantou-se e seguiu rumo ao corredor.
Guilhermina surgiu como mágica e ofereceu-lhe uísque. Preferiu tomar uma cerveja. Saiu para fumar na varanda. Percebeu que Thomas passou a olhar através da porta de vidro. Baixou a cabeça, ficou sem graça. Estava sentindo na pele o que era ficar medindo uma pessoa da ponta do dedão do pé até o último fio de cabelos. Sorriu timidamente. O moço retribuiu com um piscar de olho.
Trocaram algumas palavras quando retornou a sala. Guilhermina não se incomodava com aquele flerte, pois sempre torcia para Thomas conseguir se relacionar com alguém – já que ele era tímido demais para demonstrar interesse por alguém, principalmente, se não a conhecesse ainda.
Thomas tentou falar sobre tantas outras coisas que acabou embebedando-se em meio às frases soltas pelo ar e mal-formuladas. Quando perceberam já era (quase) dia. Ele despediu-se e foi embora guardando um beijo no canto direito da boca. Eu fiquei na esperança de um dia retornar a casa de Guilhermina e encontrar novamente aquele seu amigo tímido que tanto se parecia comigo.
