Jantar de luxo

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Já se passaram três semanas, o tempo suficiente para organizar a minha lista, a lista J, juntos venceremos.
Há quatro listas na escola, duas do 12 ano, uma do 11 e uma do 10 que é a minha.
Maffs: Quais são as tuas ideias para a campanha?
- A apresentação é já amanhã e para isso falei com o meu tio que trabalha na fábrica das pastilhas e ele deu-me um caixote, vai ser atrativo, quem não gosta de pastilhas?
Rodas: É uma boa ideia, mas não é suficiente! Temos de ter algo que chame a atenção.
- Tipo o quê?
Maffs: Podes falar com o teu irmão para a banda deles tocarem lá.
- Estás a gozar, certo? Eles não tocam nada de jeito.
Rodas: Já sei, tive uma ideia.
Maffs: Chuta aí.
Rodas: Pedimos à Catarina, a irmã do Duarte para cantar contigo na nossa lista, ela participou naquele programa de televisão muito conhecido.
- Olha eu gosto e depois podíamos pôr karaoke nos intervalos e consola também.
Maffs: O pessoal vai gostar.
Rodas: Também acho que sim, eu vou já ligar à Catarina.
Tratámos de tudo e depois fui ter com o Rodas.
- Hey! Podemos falar?
Rodas: Sim diz.
- Sinto a tua falta, já não te sentas ao pé de mim nas aulas, não falamos a não ser sobre a lista..
Rodas: Pois, acontece.
- Mas porque é que estás assim?
Rodas: Não vale a pena explicar, deixa! Não te esqueças do jantar que tens hoje com o Duarte.
Nem sequer tive tempo para dizer alguma coisa, ele virou-me as costas e foi-se embora, não sabia o que fazer. Tenho falado todos os dias com o Duarte, ele tem sido espetacular comigo e cada vez mais gosto dele.
Duarte: Então linda passa-se alguma coisa?
- Problemas com o Rodas, nada demais.
Duarte: Hoje vamos jantar a um restaurante perto daqui, vais adorar.
- Tenho a certeza que sim! - Sorri e continuei a andar.
Fui para a sala e ia ter matemática, não gosto nada desta professora ainda por cima hoje devemos receber os testes, é certo que vai humilhar-nos como faz sempre.
ProfMat: Trouxe os vossos testes e estão uma miséria, até me dá vontade de rir com isto tudo.
Ficámos todos calados, é sempre assim. A professora diz-nos tudo e nós temos que nos calar. Começou a chamar os nomes e quando chegou a vez do Rodas a professora disse que o teste dele era uma vergonha e que ele não merecia estar aqui nesta área.
- A professora não tem o direito de dizer isso.
ProfMat: E quem é a menina para dizer isso?
- Acha correto estar a dizer isso a um aluno? No seu lugar devia era incentivá-lo.
ProfMat: A Beth não tem que questionar, eu faço o que acho melhor.
- Nota-se, os resultados estão à vista.
ProfMat: Se continuar vou ter que a pôr na rua.
- Ao menos dê-me o meu teste.
ProfMat: Estava à espera de melhor Beth. - Disse entregando-me o teste.
- Pois, mas devia era estar à espera de mais não só da minha parte como da parte dos meus colegas e se reparar vai perceber que o problema não é nosso.
ProfMat: É melhor sair.
Nem sequer refilei, peguei nas minhas coisas e saí. Olhei para o meu teste e vi um 11, que nota. Que desilusão. Estudei muito para ter um 11, a minha mãe vai-se passar.
Rodas: Não era preciso teres feito aquilo.
- Achei que era o meu dever.
Rodas: Não te metas com aquela professora.
- Eu sei aquilo que faço, não te preocupes.
Rodas: Ainda bem. Ah e obrigada por me teres defendido.
- Não precisas de agradecer.
Virei as costas e fui embora, estava magoada com ele pelo que ele me disse. Esperei pelo Manel no portão da escola e como sempre estive uns 10 minutos à espera dele.
- És sempre a mesma coisa Manel.
Manel: Eu pedi-te para esperares?
- E ainda dizes isso?
Manel: Vá cala-te lá.
- Eu devia era rifar-te!
Chegámos a casa e já eram 17h. Tomei um duche, vesti logo o pijama e fui estudar biologia, ia ter teste amanhã.
Maffs: Então Beth como estão as coisas? - Disse ao telemóvel.
- Estão bem, e tu como estás?
Maffs: Mais ou menos, discuti com o André..
- Então? O que aconteceu?
Maffs: Vi uma mensagem da Leonor para ele.
- O que é que dizia?
Maffs: Que se queria encontrar com ele.
- Mas ele respondeu?
Maffs: Não.
- Então não tens com que te preocupar Maffs.
Maffs: Mas para ela ter mandado aquela mensagem é porque já falaram.
- Miúda o André adora-te, jamais faria alguma coisa que te deixasse mal.
Maffs: Se calhar tens razão!
- Tenho sempre. - Ri-me.
Maffs: Então e já estás pronta para ir sair com o Duarte?
- O quê?
Maffs: Sim, hoje vais jantar com ele.
Como é que me podia ter esquecido daquilo? Fiquei tão atrapalhada que desliguei logo o telemóvel e fui direitinha ao roupeiro, "mas o que é que vou vestir?". A típica pergunta que todas as raparigas fazem. Peguei numas jeans brancas, um top branco com uma camisola vermelha por cima um pouco transparente e calcei os meus botins pretos. Não estava nada de especial.
Mãe: Mas aonde é que tu vais?
- Vou jantar com o Duarte.
Mãe: E só me avisas agora?
- Ai desculpa! Pensei que já tinha dito.
Mae: Agora não te devia deixar ir.
- Vá lá mãe, por favor!
Mãe: Pronto vai lá, quero-te em casa ás 22h30 no máximo.
- Obrigada mamã. - Disse dando um beijinho.
Uns 10 minutos depois já estava o Duarte a tocar à porta.
- Hey!
Duarte: Uau, estás linda.
- Não exageres, não é nada de especial.
Saímos os dois e fomos até ao restaurante, era mesmo perto daí termos ido a pé, ficava do outro lado da rua. Quando entrámos no restaurante fiquei abismada, era o restaurante mais chique ali da rua. Não gosto muito. Prefiro um restaurante assim mais simples e este devia ser caríssimo.
Empregado: Duarte Sampaio?
Duarte: Eu mesmo.
Empregado: Façam o favor de me acompanhar.
Duarte: Senta-te.
Sentei-me e deparei-me com uma mesa bastante confusa, dois copos, mas só tenho uma boca, e para quê tantos talheres? Guardanapos de pano? Quantas bocas já aqui passaram? Quase vomitei. Que desperdício. Fez-me lembrar quando ia a casa da avó, tanta etiqueta.
Peguei no menu e quase que ia tendo um ataque cardíaco.
Duarte: Estás bem?
- O quê? 42€ por um bife?
Duarte: Aqui é tudo assim Beth.
- Não gosto disto, quero ir embora.
Duarte: Não me vais fazer passar uma vergonha pois não?
- Estás com vergonha de mim?
Duarte: Não foi isso que disse!
- Deste a entender...
Duarte: Ficamos pode ser?
Calei-me e revirei os olhos. Porque estaria ele a fazer aquilo? Já devia conhecer-me um pouco.
Quando chegámos à sobremesa chegou-se ao pé de nós uma rapariga muito vistosa, alta, morena e com uma longos cabelos negros.
Rapariga: Olá Duarte! - Disse com um enorme sorriso.
Duarte: Olá Jéssica..
Jéssica: Já não te via há 3 meses.
Duarte: Pois.
Jéssica: Sabes, tenho saudades daqueles jogos. - Disse ajeitando o sutiã à descarada.
Mas quem seria aquela personagem? Porque raio o Duarte se dava com uma rapariga daquelas? Ela aparentava ter uns 20 anos e trazia um vestido tão curto e tão justo que só de a ver assim fiquei com claustrofobia.
- Que jogos eram aqueles?
Duarte: Era à sueca, jogava com ela é com os irmãos.
- Estás a gozar comigo, não estás?
Duarte: Não! Estou a falar a sério.
- Poupa-me Duarte, tu realmente és mesmo atrasado.
Duarte: Acredita no que quiseres.
- Vou mas é embora!
Duarte: Não vás, acaba de comer o gelado e depois vamos ali até ao parque.
O Duarte pediu a conta e assim que o senhor trouxe aquele papelinho quase que desmaiei. 98,50€? Mas aquilo é de ouro ou quê?
Saímos do restaurante e fomo-nos sentar num banco ao pé do jardim.
- Não havia necessidade de teres gasto tanto dinheiro.
Duarte: Eu gosto de ti.
- Estás a falar a sério?
Duarte: Claro que estou! Queria pedir-te em namoro.
- O quê? Isto é para os apanhados?
Duarte: Estou a falar a sério. - Disse entrelaçando os seus dedos no meu cabelo e fazendo com que eu me aproximasse do seu rosto e foi aí que os nossos lábios se tocaram. Pensei que fosse melhor.
Ficámos ali sentados algum tempo, mas depois ele levou-me a casa. Não sabia se namorávamos ou não. E agora?
Quando fui para o meu quarto vi-o da janela e ele fez um coração com os dedos, acho que era a resposta à minha dúvida. Namorava agora com o rapaz mais popular da escola e não podia contar aos meus amigos com um grande ânimo, pois eles não gostam nada do Duarte.
Deitei-me a pensar naquilo e também no facto de no dia seguinte ser a apresentação das listas, estava muito nervosa, mas lá acabei por adormecer.

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