Eu quero a verdade (parte II)

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Hoje é mais um dia, um dia em que continuo sem me lembrar de momentos que para os meus amigos ainda estão bem presentes. Continuo a pensar no que a Leonor me disse, tento pensar nos motivos que poderiam levar a Lara a fazer-me tudo isto, mas não há motivos. Pelo que me disseram só a conheci no ano passado, é impossível querer-me assim tão mal. Preciso de saber a verdade.
Abri o computador e fui ver as fotografias que tinha lá, podia ser que me lembrasse de algo. Cliquei numa pasta que dizia "Paris". Tantas fotografias. Como é que não me lembro disto?
Rodas: Então Beth?
- Bom dia! Estava aqui a ver fotografias de Paris.
Rodas: Foi lá que te pedi em namoro.
- A sério? Como é que foi?
Rodas: Foi quando estávamos a atravessar o Sena.
- Parece romântico.
Rodas: E foi, acredita.
- Quero lembrar-me disso Rodas.
Rodas: Vais lembrar-te, prometo!
- Obrigada por tudo, tens sido impecável.
Rodas: Sabes que faço tudo por ti.
- Sim eu sei disso.
Xavier: Bom dia, olhem as horas! - Disse ao entrar no meu quarto.
Rodas: Bom dia pai, não te preocupes.
- Bom dia Xavier!
Xavier: A Margarida já tem o pequeno almoço feito, vão lá comer.
Fomos até à cozinha e a mesa estava cheia, havia bolo de iogurte, panquecas, café e sumo de laranja natural.
Manel: Elecas, hoje há festa?
Mãe: Bom dia para ti também filho!
- Bom dia família.
Manel: Então os pombinhos como é que estão?
Rodas: Estamos bem.
Manel: Já namoram?
- Ainda não..
Manel: Porquê?
- Não sei, estou à espera de um pedido. - Respondi com um sorriso provocador.
Rodas: Não me vou esquecer então.
Xavier: Precisam de boleia para a escola?
Manel: Olha que boa ideia, eu aceito.
Mãe: Então porque é que não levas o teu carro?
Manel: Oh mãe a gasosa está cara.
Xavier: Ai este rapaz é sempre a mesma coisa.
Olhava fixamente para o Rodas e fazia caretas para o provocar, tinha saudades disto.
Mãe: Gosto de vos ver assim.
- Com o tempo tudo vai ao lugar, irei recuperar tudo aquilo que perdi.
Manel: É bom ver-te assim maninha.
Xavier: Bem, vamos para a escola?
Manel: Podia ir por mim.
- Vá Manel anda lá. - Disse ao levantar-me da cadeira.
Fui ao quarto buscar a mochila e depois fomos para o carro do Xavier.
Já no portão da escola estava lá a Maffs, o André, o Diogo e a Catarina.
- Bom dia amigos!
Maffs: Bom dia.
Rodas: Porque é que está aqui imensa gente?
Diogo: Há uma confusão qualquer, mas ainda não percebemos o que é.
Manel: Vou ver então.
Pouco depois o Manel voltou para junto de nós e não vinha com boa cara.
Catarina: Então Manel?
Manel: Beth não vais gostar de ver aquilo.
André: Mas o que é que foi?
Manel: Venham ver.
Fomos atrás do Manel até que chegámos ao centro da confusão. No chão encontravam-se várias fotografias da Leonor em comportamentos pouco impróprios e estava praticamente nua.
- Mas o que é isto?
Começaram todos a olhar para mim até que apareceu a Leonor.
Leonor: O que é isto?
- Não sei, não faço ideia.
Leonor: Isto tem o teu nome, foste tu que me fizeste isto.
- Não fui, estou tão surpresa quanto tu.
Leonor: Eu contei-te toda a verdade e tu fazes-me isto? A Lara tinha razão, não vales nada.
- Tens de acreditar em mim Leonor, eu não fiz isto. - Disse e aproximei-me dela.
Leonor: Não me toques por favor, pára! - Disse e apanhou todas as fotografias. - Nunca te vou perdoar por isto.
- Leonor..
Isto só pode ser obra da Lara. Saí dali rapidamente para ir procurá-la e assim que a encontrei fui logo direitinha a ela.
- Porque é que fizeste aquilo à Leonor?
Lara: Eu não fiz nada querida.
- Pensava que eras minha amiga e afinal estava completamente enganada.
Lara: A culpa disto tudo é tua, tu ainda vais perceber.
- Pára com isto! Se me queres fazer mal faz-me a mim, mas deixa os meus amigos de fora.
Lara: Oh mas assim não tem piada fofinha. Eu quero que tu sofras.
- Mas porquê?
Lara: Talvez um dia venhas a saber.
- Não acredito que possas ser assim..
Lara: Um conselho, aceita que dói menos.
Virei-lhe as costas e fui contra o Duarte, tanta gente e tinha que ser ele.
Duarte: Estás bem?
- Não, deixa-me em paz!
Duarte: Calma miúda, foi a Lara?
- Sim foi, ela é uma cabra.
Duarte: Pois eu sei que sim..
- E tu também, só não percebo porque é que te juntaste à Lara para me fazer mal e aos meus amigos.
Duarte: Eu não valho nada, eu sei, sou má pessoa e mereço sofrer. A próxima pessoa de quem a Lara se vai vingar é de mim.
- Podia ter sido tudo diferente, podia mesmo. Escolheste o teu caminho por isso vais ter que arcar com as consequências.
Duarte: Tens toda a razão.
Virei-lhe as costas, mas ele agarrou-me pelo braço.
Duarte: Só mais uma coisa..
- Diz.
Duarte: Eu gostei mesmo de ti, gostei mesmo. Desculpa por tudo o que te fiz. Não desperdices o Rodas, ele sim é o rapaz ideal para ti.
- Não o vou desperdiçar.
Fui para a sala e já lá estava o Rodas e a Catarina. Hoje íamos receber o teste de matemática, não me tinha corrido lá muito bem, mas pronto.
ProfMat: Catarina, o seu teste.
- Então tiveste quanto?
Catarina: 17,9.
- Boa parabéns!
ProfMat: Beth, o seu teste.
Rodas: Tiveste quanto?
- 15,7.
Rodas: Já é bom.
- Sim, pensava que ia ter um 12 ou 13.
ProfMat: Rodrigo, o seu teste.
- Tiveste quanto?
Rodas: 13,5.
- Para a próxima tiras melhor.
ProfMat: Já chega de conversa, vamos lá trabalhar.
A aula prosseguiu e foi uma autêntica seca. Recebi uma mensagem anónima que dizia o seguinte:
"Vem ter comigo à sala da AE, sozinha".
Pedi à professora para ir à casa de banho, mas na verdade ia à sala da AE. Os corredores estavam vazios, fazia lembrar aqueles filmes de terror.
- Estou aqui, o que é que queres?
Ninguém respondia. Estava ali sozinha. Olhei para a secretária e estava lá em cima um envelope grande castanho e dizia o meu nome.
Abri-o e vi que estavam lá imensos papéis. Houve um que me chamou bastante a atenção. Tratava-se de um documento de adoção, vi melhor e estava lá um nome que saltou logo à vista "Lara Pinto Carvalho". Só não percebia o que é que eu tinha com isto. Afinal de contas a Lara era adotada, mas que culpa tenho eu?
Outro papel também me chamou a atenção, tratava-se de um acidente ocorrido no infantário em que tinha andado, estava lá a assinatura da minha mãe, da mãe da Maffs e da mãe da Leonor. Isto está tão confuso.
Guardei o envelope dentro de uma gaveta e tranquei-a. Voltei para a aula, mas só pensava naquilo. Tem de haver um elo de ligação.
Rodas: O que é que se passa?
- Falamos lá fora.
Assim que tocou chamei-os todos à sala da AE e mostrei-lhes aquilo que tinha encontrado.
Maffs: Não estou a perceber, o que é isto?
André: Como é que encontraste isto?
- Recebi uma mensagem anónima.
Rodas: Só pode ter sido a Lara.
Diogo: Mas porque é que ela faria isto?
- Pois não faz sentido, isto é uma forma de me ajudar a descobrir a verdade, mas ela não ajuda ninguém, só nos prejudica.
Maffs: Estou muito confusa. O que é que a assinatura das nossas mães está aqui?
- Não faço ideia.
Rodas: Só há uma forma de descobrirmos.
Diogo: Que é?
Rodas: Vamos ao colégio falar com a irmã Maria dos Anjos.
- E achas que ela nos vai ajudar?
André: Tem de ajudar, vamos lá depois das aulas.
O período das aulas parecia não ter fim, só queria ir resolver este mistério todo. O que será que está por de trás desta história toda? Isto está a deixar-me impaciente.

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