Infortúnio

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De todos os lugares em que eu poderia estar, não esperaria estar no meio de Nova York, num frio de congelar, esperando uma ligação para confirmar minhas suspeitas.

Juntei um casal errado e agora talvez dê tudo de errado na minha carreira. Argh! Eles pareciam combinar tanto... Aquele rostinho de sardas com um totalmente limpo e negro e lindo!

  Os filhos deles... Ah os filhos deles! Seriam lindos... Talvez uma mistura dos dois.

  Ahhhhh que droga de inconveniência. Eu não acredito que teria de procurar um advogado a essa hora da noite... Ainda mas para separar um casal, que por acaso do maldito destino, eu JUNTEI.

E gostei.

Eu senti, senti aquela pontada que a vida dá às vezes na gente de "Pare, antes que faça merda", e eu não escutei, segui em frente e me fodi.

Eu na vida, para sempre. Prazer Jasmin.

  Estava revirando os olhos e indo sentar em um banco próximo e cheio de neve, quando recebi uma ligação.

  Glória a Deus! Jasper meu amigo e tutor e melhor pessoa do meu círculo profissional estava me salvando. Como sempre.

  Atendi eufórica, vendo tudo se resolvendo e eu criando uma grande nova dívida de vida com Jasper.

-Alô! Ó grande salvador.

  Sorri para a risada rouca que Jasper cultivava.

-Alô! Ó grande encrenqueira. Como vai nesta linda noite?

  Sorri mais uma vez. Ele era muito magnífico, e obviamente me ajudaria. Ele sempre ajudava.

-Vou bem, e o senhor?

-Bem, minha senhora.

  Silêncio. Mordi o lábios e me sentei. Suspirei e pensei nas palavras certas.

-Bem... Eu preciso da sua ajuda.

  Ele fez um barulho de surpresa.

-Ohh que grande novidade.

  Soltei um risinho sem graça.

-Desembucha Jas.

  Pediu. Era engraçado, e uma coincidência e tanto nossos apelidos serem os mesmos...

-Ahm... Juntei Natalie e Cameron e eles não eram os clientes que eu realmente deveria ter juntado. Enfim, o chefe tá bravo e falou que vai me despedir caso ele não possa juntar o cara com quem a menina de hoje realmente deveria estar.

-E deixa eu adivinhar, você precisa de um advogado a essa hora para arrumar a papelada e te ajudar?

-Isso!

Sorri, sabia que ele seria condescendente.

-Não posso ajudar.

Meu sorriso murchou.

-O que?

-Não posso ajudar.

-Tá isso eu já entendi Jasper Young! Quero saber porque bulhufas você não pode me ajudar!

-Primeiro, me formei em jornalismo. Não em advocacia. Segundo, estou muito ocupado e não conheço nem uma alma próxima a mim que é advogado e faria o serviço de graça, que sei que é exatamente o tipo de serviço que você está procurando.

Choraminguei e bati com o pé no chão.

-O que eu faço então? To na rua se não resolver esse caso em... 42 horas!

-Você... Primeiro se organiza, segundo, pergunte aquele amigo seu que, ei! É advogado. O tal do...

-Não ouse terminar essa frase.

-Ok. Mas Jasmin querida, você vai precisar deixar seu orgulho de lado dessa vez. Pelo amor de Deus, seu trabalho e seu já escasso dinheiro estão em jogo. E você sabe que ele tem uma dívida a pagar com você.

-Mas...

-Sem mas Jas. Não irei te ajudar, não dessa vez. Desculpe.

Murmurei um adeus e desliguei o telefone. Encostei a cabeça para trás e senti algo gelado, me virei e descobri mais uma vez que havia tomado um banho de neve. Molhada e grudenta e gelada.

-Vocês pareciam estar falando de mim.

Me sobressaltei e coloquei a mão no coração. Deus! Felipe aparecia sempre quando eu estava desajeitada e desesperada.

Merda! Porque ele não aparecia naqueles momentos em que eu estava charmosa, feliz, perfeita e gostosa? Para mostrar a ele o quanto eu o superei rápido... Mas ele só aparecia quando eu ainda aparentava estar na fossa. O destino nunca gostou de mim, não sei porque ainda tenho esperanças.

-Sim era sobre você.

-Precisa de minha ajuda?

Aqueles cachos loiros lhe caiu nos olhos quando ele deu um impulso pro lado e se sentou colado a mim.

Ele estava rindo como se o universo girasse em torno dele.

-É advogado ainda?

-Sim, com muito prazer.

Pois não parecia. Suas roupas eram despojadas e totalmente contrárias ao terninho que eu usava depois do dia de trabalho intenso na consultora de casamentos da cidade mais agitada do mundo.

-Ata.

Foi minha única reação. Eu não podia pedir ajuda para aquele... Imbecil. Ele se acharia o tal.

-Precisa de um?

Franzi a testa. Mas eu perderia tudo... E ele sairia ganhando mesmo assim.

-Ai não Jas! Você se meteu em uma briga de rua de novo?

Arregalei os olhos.

-Não! Aquilo foi só uma vez, e foi por causa de abuso infantil.

Ele levantou as palmas da mão para cima em sinal de rendição.

-Você bateu em uma pessoa mesmo assim.

Revirei os olhos e cruzei as pernas. Pois bem, ele iria me ajudar, eu o aguentaria por 42 horas e depois esqueceria que ele um dia existiu.

De novo.

Iria aproveitar aquela dívida da escola. Tempos atrás.

-Eu vou precisar do pagamento daquela dívida nossa.

-A do 3* ano?

-Sim.

-Não sabia que ainda se lembrava.

-Eu não lembrava, mas meu amigo cometeu a gafe de me relembrar.

-Então você contou a ele?

Espremi a boca. Ok, eu ainda nutria certo pêsame pelo amor perdido da adolescência mas isso não queria dizer que eu confessaria.

-Continuando. Casei as pessoas erradas.

-E?

-E que foram as pessoas erradas!

-Explique melhor, você consegue.

Respirei fundo. Como ele era chato.

Mas... Como ele havia me encontrado ali? Bem naquela hora? Ele estava...

Não. Ele já é grandinho, não te perseguiria. Foi apenas mais um infortúnio da noite.

-Meu chefe é pago, e nós seus funcionários também, aí ele tem uma lista de "Vamos casar". Eu tinha apenas que seguir um roteiro, fazê-los se esbarrar de algum modo. E consegui com sucesso.

-Claro, você é Jasmin Beddor.

Revirei os olhos e me inclinei sussurrando.

-Mas, casei as pessoas erradas. E meu chefe não está nada feliz.

Casamenteira (Conto de Natal)Onde histórias criam vida. Descubra agora